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29 de Julho de 2003 às 10:01

Alexandra Machado: «Momentos atribulados voltam à TAP»

A que se deve esta luta de poderes na TAP? A quem beneficia a saída de Fernando Pinto? Porque não assinou o Governo até agora o contrato com o brasileiro gestor da TAP? Perguntas sem respostas.

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Os tempos voltaram a ser conturbados na TAP. Depois de nos últimos dois anos o ambiente ter acalmado, fruto de uma autonomia de gestão de Fernando Pinto e dos seus conterrâneos – Michael Connoly e Luiz Mor – e da paz social que conseguiram “comprar”.

Mas eis que começam agora a surgir novos focos de tensão. A TAP decididamente não pode ser uma empresa calma. Não será concerteza pelo ordenado que a TAP é das empresas mais cobiçadas pelos gestores públicos de carreira.

Também não será pela sua situação financeira, pois ainda ninguém conseguiu levantar a empresa, mesmo depois de um plano “chorudo” de 180 milhões de contos que o estado injectou no âmbito do PESEF(Plano de equilíbrio financeiro).

Também não será pela rampa de lançamento para outras empresas que a TAP possibilita... pois isso só é possível por outros motivos bem mais políticos.

Chegados a 2003, na mais grave crise para o sector da aviação – por motivos diversos (a crise prolonga-se, pelo menos, há três anos) – a TAP não tem conseguido recuperar financeiramente, mas não tem sofrido o descontrolo orçamental a que nos habituou por motivos de crise ou por motivos de não crise.

A TAP, há uns anos, habituou Portugal a ter maus resultados e a piorá-los cada vez que soprava um vento.

Agora, não se pode dizer que tenha contornado a crise, mas não agravou o seu crónico problema financeiro.

Por mais “milagres” que possam acontecer, nomeadamente com a redução de provisões ou mesmo através de resultados extraordinários – que como é sabido não duram sempre –, certo é que a TAP tem conseguido sobreviver... vamos lá ver até quando. (Um parêntesis – apesar de não estar a descarrilar, também não se vê motivos para Fernando Pinto e a administração não fazerem novo orçamento para a companhia, já que não me parece vergonha nenhuma ter de rever em baixa um orçamento produzido em 2001, ou seja, quando não era previsível uma crise tão prolongada!)

Voltemos então às guerras entre gestores. De um lado Fernando Pinto, do outro Cardoso e Cunha, o gestor nomeado pelo Governo para ocupar o cargo de presidente não executivo.Mas Cardoso e Cunha parece não se ter contentado com esse cargo e começou a ganhar novo fôlego... até já conseguiu algumas vitórias na luta pelo poder da TAP. Essa luta tomou, subitamente, novos contornos na semana passada, depois de marcada uma conferência de imprensa para divulgação dos resultados semestrais e de, no dia anterior, ter havido uma fuga de informação sobre os ditos resultados.

Veio, aliás, a público essa mesma luta de poder depois da criação da SGPS que ficará com a SA (dedicada aos transportes aéreos) e o “handling” como participadas. Fernando Pinto ficará apenas na empresa dedicada ao transporte aéreo, garantindo a Cardoso e Cunha uma maior acção nas restantes empresas.

As questões essenciais são: a que se deve esta luta de poderes? A quem beneficia a saída de Fernando Pinto? Porque não assinou o Governo até agora o contrato com o brasileiro gestor da TAP? Até agora, não há respostas a estas perguntas.

Uma estratégia para impulsionar a saída de Fernando Pinto? Se é ou não é, só o tempo o dirá. Estes tempos conturbados em nada abonam a operadora de aviação nem a actuação dos gestores. Parece jogada política, o que poderá – mais uma vez – minar o ambiente laboral da operadora e a sua integridade.

Estou convencida que os trabalhadores da TAP têm feito um esforço para ajudar na recuperação da empresa e continuarão a fazê-lo se forem envolvidos na sua estratégia.

Conseguirá a TAP sobreviver a mais esta luta política? O fórum da TSF, no dia da apresentação dos resultados, dava o toque. O tema era, mesmo, Portugal precisa de uma companhia aérea de bandeira? Mais uma acha para a fogueira. E o Governo nada disse. Vamos ver até onde os problemas evoluem para o Executivo tomar uma posição. O Estado é o único accionista da empresa e corre o risco de continuar a ser por muito mais tempo.

O problema é que, agora, a TAP tem de viver por si, pois dificilmente Bruxelas aprovará qualquer ajuda à empresa. Com a redução de capital da transportadora e a consequente limpeza dos resultados negativos transitados, a TAP tem agora uma oportunidade única para provar que pode ser rentável e sobreviver por si só. O momento conjuntural não é o melhor, mas mais uma razão para ser posta à prova.

Por Alexandra Machado, editora de Empresas & Mercados do Jornal de Negócios

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