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22 de Fevereiro de 2005 às 13:59

Absolutamente cépticos

Com a abstenção a cair 2,68 pontos percentuais em relação às legislativas de 2002 e o partido eleito a conquistar 45,05 por cento dos votos, dir-se-ia que foi cheio de entusiasmo e de esperança que Portugal correu às urnas. Mas não se diz. Claro.

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Não são precisas sondagens para que nos apercebamos de que os portugueses votaram com alguma raiva, sim, mas, mais do que isso, com cepticismo. A raiva foi, evidentemente, dirigida ao ainda primeiro-ministro Santana Lopes (e boa parte dela terá sido causada, ou, pelo menos, confirmada, por aquela carta que, dando alguns sinais de demência, pedia o «favor» do voto ao mais «maltratado» político português – onde foi Santana Lopes arranjar os seus conselheiros de campanha?) e, não tivesse havido a raiva, o voto português teria sido completamente frio, absolutamente desapaixonado, desconfiado, sim; entusiasmado, não.

O resultado eleitoral parece, sim, à primeira vista, um cheque em branco para o Partido Socialista – e, concretamente, é. Mas a política não se faz só de números, e a leitura matemática não é a única a fazer de uma eleição. José Sócrates e o PS não devem ter ilusões: à facilidade que a maioria absoluta lhes dará para aprovar as medidas que acharem necessárias corresponde uma exigência de resultados provavelmente inédita. O que não está escrito no cheque que lhes foi entregue mas que se ouve, claramente, nas ruas, é que poucos erros lhes serão perdoados. Não acredito que haja um único português que ache que a saída da crise será rápida e indolor. Parece-me haver alguma tolerância ao sacrifício (desde que dos outros, diria o mais céptico, talvez com alguma razão) mas nenhuma ao erro ou ao abuso populista.

A maioria absoluta é uma das razões por que a margem de erro permissível ao PS será especialmente pequena. A outra é a circunstância em que estas eleições foram convocadas. Foram, numa palavra, as trapalhadas de Santana Lopes que levaram o Presidente da República a convocar estas eleições, de maneira que os derrotados deste último domingo terão toda a legitimidade para apontar, salientar, sublinhar e escarnecer as trapalhadas que o PS venha a cometer.

PS: Estava a acompanhar a cobertura das eleições pela TV quando um comentador que dizia coisas interessantes foi interrompido para um directo. Apareceu então um senhor que mais parecia um hooligan velho, de cachecol do seu clube (ou partido?) ao pescoço (como se ali houvesse um pescoço), e a cuspir asneiras intermediadas por obviedades. Uma das obviedades, porque dita em tom de ameaça, ganhou o status de asneira. Disse o senhor sem pescoço (mas com cachecol), como quem admoesta, que os eleitores que votaram no PS são responsáveis pela vitória do PS. Era apresentado como alguma-coisa-Jardim, e ainda não entendi por que interromperam o comentador que dizia coisas interessantes para dar voz àquele cachecol sem pescoço.

PPS: Por mais estranho que isso soe aos meus ouvidos quando dito por mim mesmo, digo-vos que, hoje, Paulo Portas é o político mais interessante de Portugal. Está sempre a agir, a gerar factos, a provocar (seja lá o que for, que sempre é alguma coisa).

PPPS: A Câmara de Oeiras é insuperável. Andou a espetar canos para impedir o estacionamento em cima de passeios, mas parece ter escolhido, criteriosamente, os passeios onde nunca ninguém estacionou nada, e deixou livres os passeios que sempre estiveram (e estão e estarão) ocupados por carros. Tentam agradar a gregos e a troianos. Não sou grego nem troiano. Sou de Oeiras e quero andar nos passeios.

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