O sr. Jorge Valdano disse, uma vez, que «o futebol começa a ser uma mentira bem documentada pelos media». A recente sessão de estalada no Aeroporto da Portela à chegada do sr. Luís Filipe Vieira, que trazia como bagagem de mão o sr. Moretto, é um exemplo perfeito de como no futebol português já há poucas fronteiras entre a verdade e a mentira. Se é que há uma e outra. Mesmo que seja bem documentada pelos media.

Recuemos no tempo. Há uns meses que o Vitória de Setúbal não pagava salários. Vários jogadores rescindiram e o sr. José Fonte foi contratado pelo Benfica. O jogador estava livre (o célebre «custo zero»), mas o Benfica, naquilo que foi louvado como um gesto altruísta, pagou determinada quantia ao clube do sr. Chumbita. Como procurava um guarda-redes, o sr. Moretto pareceu uma óptima solução. E em conta. Eis então que o FC Porto, que já tem um quilo de guarda-redes, decidiu intrometer-se (talvez devido às velhas amizades que faziam de Setúbal nos últimos anos um apeadeiro de jogadores para as Antas) no plausível negócio. Talvez para contratar o sr. Moretto para apanha bolas.

O sr. Vieira decide ir ao Brasil de surpresa para resgatar o sr. Moretto das mãos invisíveis dos ajudantes do sr. Caldeira (e do sr. Pinto da Costa, presume-se). Concluída com êxito a rodagem de «007 e a Operação Guarda-Redes», o sr. Vieira regressou à pátria. Ostentando o sr. Moretto. Tudo termina à chapada, num mais elucidativo capítulo do futebol indígena, onde interesses pouco claros de empresários e presidentes se cruzam com declarações de jogadores que tinham um «sonho desde pequenino» de jogar no clube pelo qual acabam de assinar. Tudo muito edificante.

Claro que o sr. Chumbita confirma o que disse o sr. Vieira. O FC Porto, como está em «blackout», nem diz que sim nem que não. Confusos? Não percam o próximo episódio desta telenovela bem portuguesa.