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04 de Julho de 2012 às 23:30

A taxa da mentira

O caso da manipulação das taxas Libor está ainda no início. Ainda vai fazer correr muita tinta e rolar muitas cabeças, mas é já possível retirar várias conclusões.

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O caso da manipulação das taxas Libor está ainda no início. Ainda vai fazer correr muita tinta e rolar muitas cabeças, mas é já possível retirar várias conclusões. A mais evidente é que, nos anos anteriores à falência do Lehman Brothers, as grandes instituições financeiras mundiais actuavam de forma reprovável, à margem da lei, com rédea solta e, supostamente, pensando que não seriam alvo de qualquer punição, por mais grave que fosse a sua atitude.

O caso é muito simples de explicar. Para levarem o mercado a pensar que estavam de boa saúde financeira, os grandes bancos mentiam quando enviavam à associação de bancos britânica a informação de qual o custo a que estavam a conseguir obter financiamento junto de outras instituições. Essa taxa, que agora se conclui ter sido falseada, era utilizada para calcular a Libor, que por sua vez servia (e continua a servir) de referência para contratos avaliados em muitos biliões de dólares em todo o mundo.

A mentira teve início em 2007 e durou até meados de 2009. E quanto milhões de ganhos gerou esta mentira? Para já, ninguém sabe dizer. Mas a multa que a primeira vítima deste "escândalo" terá de pagar (360 milhões de euros) será certamente uma ínfima parte. O Barclays foi o primeiro a reconhecer a mentira e está agora no olho do furacão. Perdeu 5 mil milhões de dólares de capitalização bolsista, os seus três principais executivos e, certamente, uma boa parte da sua reputação. Mas mais se seguirão, pois o caso envolve cerca de uma dúzia dos maiores bancos mundiais. Todos terão mentido, numa das suas missões mais básicas: informar qual é o seu custo de financiamento.

Por isso, mais do que o valor da fraude, este caso gera perplexidade pela facilidade com que a mentira foi praticada. Se mentem assim, o que me podem fazer a mim? Esta será a questão mais comum dos clientes bancários. Clientes que, por sua vez, são também contribuintes que abriram os cordões à bolsa para salvar os bancos nos últimos anos. Esforço que obrigou os Estados a carregarem na austeridade para controlarem os défices. O retorno é a mentira e crédito cada vez mais escasso e caro.

Não admira por isso que a reputação da banca esteja pelas ruas da amargura e que qualquer ajuda ao sector deixe os contribuintes cada vez mais furiosos.

A boa notícia é que o comportamento da banca portuguesa nada tem que ver com a mentira praticada pela grande banca mundial. A má notícia é que, apesar de o Lehman ter caído há quase quatro anos, nada parece ter mudado na ganância da grande banca mundial e na sua regulação. Qual será a mentira que está a ser praticada agora?



*Subdirector

Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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