Opinião
A solidão de Sócrates
De repente a fome saltou para a ordem do dia. No início as referências ao problema eram exclusivas de políticos (Alegre, Soares, Portas, Louçã... ) e sindicatos (CGTP), o que tornava o assunto uma guerra política. Mas a entrada em cena de personagens como Dom Manuel Martins, antigo bispo de Setúbal, deu ao problema outra dimensão: a de crise social. Grave.
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De repente a fome saltou para a ordem do dia. No início as referências ao problema eram exclusivas de políticos (Alegre, Soares, Portas, Louçã... ) e sindicatos (CGTP), o que tornava o assunto uma guerra política. Mas a entrada em cena de personagens como Dom Manuel Martins, antigo bispo de Setúbal, deu ao problema outra dimensão: a de crise social. Grave.
Esta "despolitização" do problema cria um problema acrescido a Sócrates. Porque reforça a ideia de que é o Governo o principal responsável pelas desigualdades sociais. Daí o apoio generalizado à contestação social: 200 mil pessoas na rua, greve dos pescadadores e camionistas... Até agora, Sócrates tem sabido resistir à tentação de abrir os cordões à bolsa (com excepção da suspensão da taxa social aos pescadores). Mas fá-lo-á durante muito tempo? É que até do seu melhor aliado, o Presidente da República, chegam sinais contraditórios: aquando da greve dos pescadores, Cavaco chegou a dizer que o Governo saberia os apoios a dar ao sector...
São tempos difíceis para Sócrates: por um lado vê degradar-se, rapidamente, a base de apoio de uma nova maioria. Daí a pressão para o eleitoralismo. Do outro sabe que, se ceder, pode deitar a perder tudo o que fez em matéria de défice orçamental e dar cabo de um dos seus grandes atributos: a autoridade. Agora é que vamos saber se temos primeiro-ministro...
Esta "despolitização" do problema cria um problema acrescido a Sócrates. Porque reforça a ideia de que é o Governo o principal responsável pelas desigualdades sociais. Daí o apoio generalizado à contestação social: 200 mil pessoas na rua, greve dos pescadadores e camionistas... Até agora, Sócrates tem sabido resistir à tentação de abrir os cordões à bolsa (com excepção da suspensão da taxa social aos pescadores). Mas fá-lo-á durante muito tempo? É que até do seu melhor aliado, o Presidente da República, chegam sinais contraditórios: aquando da greve dos pescadores, Cavaco chegou a dizer que o Governo saberia os apoios a dar ao sector...
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