Opinião
A pandemia da desmotivação no Sector Empresarial do Estado
E em tempos de crise, nenhuma empresa se pode dar ao luxo de ter apenas funcionários. Especialmente as do Sector Empresarial do Estado, que são a única parte do Estado capaz de produzir
Como é que você se sentia se o seu chefe lhe dissesse que para o ano você ia ganhar menos e ter menos dias de férias? Continuava motivado? Pronto para dar o litro? Eu também não. Mas foi isso que aconteceu, não foi?
Hoje todos temos menos dinheiro no recibo de vencimento e menos feriados no calendário. Será que a redução de salários e o aumento de impostos levaram a uma pandemia de desmotivação em massa nas empresas portuguesas?
Um projecto de investigação da Universidade Europeia sobre os cortes salariais no Sector Empresarial do Estado mostra que nalgumas empresas a primeira coisa que os trabalhadores fizeram depois de ver o recibo de ordenado foi despir a camisola da empresa.
E não a guardaram no armário. Deitaram-na no lixo, junto com os restos do jantar.
Mas noutras empresas as pessoas continuaram motivadas. Nalgumas empresas, as pessoas até ficaram mais motivadas.
Porquê?
Nas empresas em que as pessoas ficaram desmotivadas, a única pessoa que explicou aos colaboradores os cortes salariais foi o apresentador do telejornal. Nas empresas em que as pessoas ficaram mais motivadas, foram o chefe, o chefe do chefe, e o chefe do chefe do chefe do chefe que explicaram os cortes salariais. E também explicaram o que é que a empresa ia fazer para ajudar. Olhos nos olhos.
Usaram os cortes salariais para reforçar os laços que os colaboradores têm com a empresa e com os seus líderes. É que os chefes são como os amigos. Quando tudo corre bem é fácil ser amigo e é fácil ser chefe. Mas quando há más notícias para dar, os maus chefes não conseguem evitar a desmotivação. Os bons líderes usam-nas para renovar o empenho da empresa com os colaboradores na esperança de que os colaboradores lhes paguem na mesma moeda.
É verdade que a crise tem permitido o desabrochar de inúmeros tiranetes por esse Portugal fora. As pessoas têm medo de perder o emprego. Mas o que o estudo da Universidade Europeia mostra é que apesar de ser mais fácil, também é pior ser mau líder em tempos de crise. Em tempos de crise, os maus líderes produzem funcionários, que são pessoas que apenas cumprem com a sua função. Os bons líderes produzem colaboradores que são pessoas que trabalham em conjunto (colaboram) com a empresa para cumprir a sua missão.
E em tempos de crise nenhuma empresa se pode dar ao luxo de ter apenas funcionários. Especialmente as do Sector Empresarial do Estado, que são a única parte do Estado capaz de produzir. É que o resto só consome. E muito.
Daí os cortes.
Director do Instituto de Investigação e Estudos Doutorais da Universidade Europeia