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A operação nortada

Não pode ser nada, o resultado da espectacular ofensiva que o Ministério Público tem em curso, devido a operações suspeitas, dentro de várias empresas, com actividade em vários sectores e, ao que tudo indica, com sedes localizadas no Norte.

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Não pode ser nada, o resultado da espectacular ofensiva que o Ministério Público tem em curso, devido a operações suspeitas, dentro de várias empresas, com actividade em vários sectores e, ao que tudo indica, com sedes localizadas no Norte.

A inevitabilidade de um desfecho tem uma razão simples de explicar: é que o país já não suporta mais acções deste género, que nascem com todos suspeitos e estrondo mediático, mas acabam sem saber como nem porquê. Aliás, sendo mais rigorosos, nem sabemos se sequer acabam.

Portanto, não adianta acalentar esperança no facto de o procurador-geral da República ainda estalar de novo, não vale a pena alimentar ilusões de que, desta vez sim, pois o Governo diz que o combate à corrupção é prioritário, porque é uma e única a imagem que vem à memória: sobreiros, JAE, furacão.

Enfim, nada!

Os procuradores passam, os políticos revezam-se, os Governos mudam, os magistrados e os PJ preparam-se, a investigação sofistica-se – e o resultado é sempre o mesmo: nada. Nem aos inocentes é dada a oportunidade de serem julgados como tal.

Somos todos vítimas e culpados deste sistema de impunidade que a sociedade aprendeu infelizmente a viver. A considerar normal o que deveria ser intolerável. A convencer-se que é do destino aquilo que só depende da vontade humana.

É normal, por exemplo, um Governo prometer mais meios e melhores recursos no combate à criminalidade económica. Quando a sociedade deveria reagir com incredulidade e fazer a pergunta elementar – "e, então, não lhes davam já?".

E porquê? Porque vários políticos são democraticamente legitimados com programas eleitorais que dedicam capítulos inteiros ao tema da corrupção. Porque, uma vez eleitos, resumem o problema a uma página no Programa de Governo.

E, no primeiro Orçamento do Estado, o assunto fica arrumado em curtos números e uma explicação de duas linhas?

No combate à corrupção, sempre que os políticos começam a aproximar-se do poder, vão perdendo os papéis pelo caminho. E as autoridades judiciais, que deveriam afirmar a sua tão inviolável independência, nunca a fazem valer para se demarcar deste autêntico horror democrático.

E nós, a comunicação social, registamos complacentes este facto da vida, em que as piores suspeitas se criam em torno de empresas, de empresários e de gestores, servimo-nos e somos servidos por operações aparatosas, para nunca mais voltar ao assunto e fazer a cobrança obrigatória.

Num dia a construtora Soares da Costa, no outro a Mota-Engil. Com passagens pelas contabilidades de empresas de consultoria, como foi o caso da Deloitte. A ponta de um icebergue, num processo de investigação vasta, sobre casos de eventuais burlas fiscais.

Desta vez não havia uma estação de televisão, previamente avisada, para registar "a rusga em directo", como aconteceu no inconcebível caso de Luís Nobre Guedes. E noutros mais, em que no meio judicial alguém agia a pensar mais nos jor_nais do que nos tribunais.

Esta "operação nortada" – porque o Norte é o epicentro da operação – teve pelo menos um arranque melhor. Mais uma razão para ter um fim diferente. Um desfecho consequente.

É que sempre há coisa pior do que viver com a certeza de que vivemos entre corruptos. É sermos todos suspeitos.

 

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