Pouco antes de morrer, em 1952, um dos mais sólidos pensadores portugueses, o Sr. Teixeira de Pascoaes, que sempre buscou a redenção de Portugal, escrevia: "Creio bem que o chamado futurismo, o ateísmo, o tiro aos pombos, a reforma ortográfica, o futebol, etc., todas as forças dissolventes da nossa Alma, são de carácter transitório". Tinha quase toda a razão: o futurismo, o tiro aos pombos e mesmo a recente, e já moribunda, nova reforma ortográfica, jazem à espera de renascerem um dia. O futebol, no meio da crise financeira e de ideias reinante, tornou-se o único tema empolgante que permite ocupar o tempo. Em Portugal, não é um assunto transitório. Faz parte da espinha dorsal do regime e da nossa forma de viver. Por isso damos tanto tempo de atenção às eleições no Sporting. Porque elas no fundo mostram a lealdade de parte do povo a um sonho e a um destino. Algo que já desistiram de fazer com a classe política.

Mas, se os adeptos ficam pasmados com as experiências do Sr. Jorge Jesus no jogo com o Bordéus (uma equipa vulgar, que poderia ter sido goleada na Luz), porque julga que só vencendo a Liga portuguesa poderá garantir o seu lugar perene no estádio da Luz, no Benfica há nova forma de ver o futebol como negócio. Numa época em que as transferências de jogadores deixaram de ser um rendimento farto sem grande trabalho, os clubes necessitam de descobrir novas variantes do negócio para se alimentarem. O Sr. Jorge Jesus deu versatilidade ao futebol do Benfica, rentabilizando jogadores, mas falta-lhe títulos. Por isso o campeonato é tão fulcral para o treinador, mesmo num ano em que é possível conquistar a Liga Europa.

Mas é aí também que outra pedra do xadrez encarnado se move: a Benfica TV. A aquisição dos direitos dos jogos da Liga inglesa, e também do campeonato brasileiro, a que se poderão aliar os jogos do Benfica em casa, colocam o clube numa zona de confronto com a Olivedesportos. A passagem do Benfica TV a canal pago, podendo utilizar todos estes jogos como plataforma comercial atractiva, poderá assim projectar a teia de interesses do clube para patamares muito distintos. Abre-se um novo capítulo na gestão do potencial do futebol. E o Sr. Luís Filipe Vieira começa a perceber que poderá ficar na história do Benfica durante muito mais anos.

Para que tudo dê bem, o país precisa de animar economicamente, para que muitos possam assinar o canal de televisão. E para que ele tenha forte procura no exterior precisa de garantir os jogos do Benfica em casa (marcando assim a ruptura definitiva com a Olivedesportos) com uma equipa de futebol atractiva, que ganhe e dê espectáculo. Será o Sr. Jorge Jesus o treinador indicado para esta nova fase do Benfica, com uma nova era de internacionalização audiovisual onde a imagem e a linguagem também são importantes? Tudo se definirá nos próximos meses.

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