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21 de Agosto de 2003 às 10:49

A força do capitalismo contra os apagões

Mas qual a relação entre o apagão e as bolsas mundiais? É que no meio da escuridão e caos instalados nas ruas de Nova Iorque, houve algo que nunca cessou de funcionar:as leis de mercado.

Por Ricardo Domingos

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Estas duas últimas semanas foram marcadas por dois eventos distintos, mas que têm o mesmo ponto de origem e destino: os EUA. Um choca pela quantidade de vidas afectadas, colocando quase em causa o funcionamento de uma sociedade.

O outro deixa nos braços da evolução económica alheia o futuro das poupanças de muitos de nós. Mas ambos são reflexos do princípio de organização do mundo ocidental:o primado do capitalismo.

O apagão

A falha na rede de distribuição de electricidade que assolou os EUA na semana passada teve, salvaguardadas as devidas distâncias, o mesmo efeito que o processo de eleição do presidente George W. Bush e a mesma reacção provocada pelo ataque às torres gémeas do World Trade Center em 11 de Setembro de 2001. A incredulidade.

Foi com o cepticismo mais primário que assistimos à dificuldade do país mais industrializado do mundo em proceder ao mais elementar exercício de democracia: contar votos. Não fora a desistência de Al Gore, provavelmente ainda estariam os tribunais a degladiar-se sobre a missão de “eleger” o homem mais poderoso do mundo.

Foi com o mesmo espanto – e horror – que vimos em directo nas televisões dois aviões embaterem nas torres de um dos maiores centros mundiais da alta finança, destruindo-o por completo. Apesar de este “incidente” não depender de todo da vontade ou dos mecanismos da sociedade americana.

Poderá ser, antes, o resultado exacerbado da condução da sua política externa ao longo dos anos por sucessivos presidentes.

Foi com ainda maior estupefacção que, a 14 de Agosto, não vimos as luzes da noite da cidade que nunca dorme. Mas Nova Iorque foi apenas mais uma das vítimas. A maleita eléctrica atingiu outras metrópoles como Toronto, Otava, Montreal, Detroit, num universo de 50 milhões de pessoas, cinco vezes a população portuguesa. É caso para dizer: incrível.

O mais grave é que, dos três eventos elencados, ainda ninguém sabe explicar como é que qualquer um deles ocorreu. Na sociedade mais moderna do mundo.

As bolsas mundiais

Ao longo desta semana verificou-se um fenómeno que já não se via há algum tempo. Os principais índices bolsistas mundiais atingiram, praticamente em simultâneo, mais dia menos dia, os valores mais elevados do ano. Até ontem, o Dow Jones já soma 12,76% desde a última sessão de Dezembro, o Nasdaq tem um ganho de 32,01%, o FTSE evolui 7,03%, o CAC valoriza 7,06%, o DAX aprecia 20,79%, o IBEX cresce 18,93%. Amesterdão, Tóquio e Hong Kong também tocaram em máximos anuais. Curiosamente, o PSI-20 regista dos piores desempenhos anuais, com um modesto ganho de 1,74%, mas uma valorização de cerca de 13%, um número apreciável, desde o mínimo atingido em Fevereiro passado.

Se perguntarmos a um gestor de fundos nacional ou estrangeiro qual a razão para a subida dos mercados, numa só frase, ele provavelmente dirá:devido às perspectivas de crescimento dos EUA. Que hão-de empurrar consigo os mercados mundiais.

A força do capitalismo

Mas qual a relação entre o apagão e as bolsas mundiais? É que no meio da escuridão e caos instalados nas ruas de Nova Iorque, houve algo que nunca cessou de funcionar:as leis de mercado.

Por menos luz que haja, por mais falhas que surjam, por maiores que sejam as dificuldades – terroristas, diplomáticas ou infra-estruturais – há algo que parece ter um pendor imutável: a lei da oferta e da procura. Enquanto milhares ficavam presos nos túneis e composições do metro e milhões procuravam a melhor forma de chegar a casa, houve um princípio que nunca se perdeu.

A Bolsa de Nova Iorque não perdeu nenhum registo de liquidação ou compensação realizado na sessão terminada minutos antes do apagão. E estava pronta para, no dia seguinte, retomar a negociação com recurso aos seus próprios geradores, sem precisar da rede de electricidade que serve a “Big Apple”.

Nas ruas, o vendedor de cachorros quentes, uma hora após o apagão, procedia ao verdadeiro ajuste do mercado. E subiu o preço do “snack” em 50% para 1,50 dólares. Quando questionado por um jornalista da CNBC sobre a decisão adoptada, o oráculo falou.

“É por isso que a América é um grande país e é por isso que amo o capitalismo!” Será sempre esta a “luz” que nos espera ao fundo do túnel? Até agora tem sido a mais constante...

Ricardo Domingos, Editor Online

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