Opinião
A culpa foi do INE
Se os portugueses tivessem sabido que a retoma já aí estava, provavelmente a «banhada» da Força Portugal teria sido menor.
Se os portugueses tivessem sabido que a retoma já aí estava, provavelmente a «banhada» da Força Portugal teria sido menor. Se o INE tivesse divulgado uns dias antes e não apenas na passada quarta-feira os dados da conjuntura do primeiro trimestre, outro galo teria cantado para a coligação. Assim o pensou, melhor o disse João de Deus Pinheiro na noite da derrota. Um dado importante para perceber o alcance das considerações sobre o impacto da suspensão da campanha em respeito pela morte de Sousa Franco. Faltaram ao PSD / PP três preciosos dias para explicar aos portugueses que já vivem em retoma.
Vá lá que ninguém da coligação apareceu a atribuir responsabilidades à derrota da selecção face à Grécia. Mas não lhes deve ter escapado nessa altura que a marca Força Portugal também pode dar origem a infelizes associações. Estranhamente, os portugueses parecem pouco dados a acreditar no INE. Apesar do crescimento no primeiro trimestre, apesar do disparo das vendas de automóveis em Maio, apesar da melhoria dos números do desemprego, apesar da festa do Euro, dos santos populares e do calor, continuam descrentes. Mesmo se são eles próprios a alimentar os indícios de retoma, contribuindo uma vez mais, através do consumo interno, para um «pouco saudável» perfil de crescimento da economia portuguesa.
O efeito das crises no comportamento do eleitorado é bem conhecido. Ao contrário da bolsa, os consumidores não antecipam os ciclos económicos. Agem por reacção e percebem demasiado tarde quando o pior (e o melhor) já passou. Tanto o PS como o PSD já passaram por isso. O PS pagou sozinho em 1985 a crise com que lidou durante o Bloco Central, permitindo ao PSD e a Cavaco Silva a gestão da fase ascendente. Em 95, foi Guterres quem cavalgou a onda de descontentamento com a crise de 93 e ganhou o direito a gerir a retoma. O problema do PSD de Durão Barroso é se ainda vai a tempo de inverter as expectativas.