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02 de Novembro de 2012 às 12:08

A esquina do Rio

Em política, as palavras são como símbolos. Utilizam-se sem ninguém se preocupar com o seu verdadeiro conteúdo, mas apenas porque podem ser úteis para gerar movimentos e provocar reacções.

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Palavras
Em política, as palavras são como símbolos. Utilizam-se sem ninguém se preocupar com o seu verdadeiro conteúdo, mas apenas porque podem ser úteis para gerar movimentos e provocar reacções. Há poucos dias, o léxico político indígena ganhou uma nova palavra - "refundação". Ninguém sabe verdadeiramente o que isto quer dizer: se é uma mudança, será em que sentido? Se é uma reforma, será em que áreas? Se é uma redefinição, parte de onde? Em tudo isto não existe um ponto de partida claro mas, pior ainda, não existe um objectivo evidente enunciado, não se sabe onde se quer chegar.

No estado em que as coisas estão, a refundação é uma táctica que não serve nenhuma estratégia, a não ser manter a ilusão de que é o Governo, e não a troika, quem governa. A tal "refundação" é a maior declaração de incapacidade política de que tenho memória. É uma espécie de bandeira branca que se levanta a meio da batalha, pedindo tréguas e cessar-fogo.

O Governo tem agido à vista - num enredo de enganos de previsões, de medidas que se anunciam e se anulam, sem rumo nem destino. Ao fim de um ano e meio, chegou-se aqui sem que, de facto, tenha sido feita uma reforma que se veja, apesar de o PSD ter sido eleito por dizer que iria fazer reformas. Não existem nem se vislumbram onde eram necessárias, como na justiça ou no peso do Estado. Mas existem onde é mais fácil - nos aumentos de taxas e impostos.

Assim sendo, a palavra "reforma" esgotou o seu sentido e houve que ir buscar outra - apareceu a "refundação". Para se refundar alguma coisa era preciso que, antes, se tivesse fundado algo. Do rol de actividades deste Governo, não consta que tal tenha sucedido. É pena - porque as promessas eleitorais eram outras e, mais uma vez, quem votou foi enganado. O persistente uso do bibe na idade adulta e o à vontade no manejar da folha de Excel não são os principais atributos desejáveis num político. O que precisamos é de pessoas sensatas que sejam capazes de argumentar e negociar com a rapaziada que por essa Europa fora vive fechada no universo das folhas de cálculo. Vivemos na época digital mas temos instituições, partidos e políticos analógicos. O resultado está à vista.


Provar
Se gostam de comida japonesa, podem ter um contacto próximo com os seus ingredientes e com alguns produtos preparados nas lojas Goyo-Ya. Existe uma em Cascais (no Centro Comercial Orion, Rua D. Francisco Avilez) e outra em Lisboa, às Picoas (na Rua Filipe Folque nº30). Para além de utensílios culinários, poderá lá encontrar produtos naturais, diversos ingredientes, molhos, mas também congelados, como umas maravilhosas gyosas de camarão e outras de vegetais. Na loja são todos muito prestáveis e dispostos a esclarecer as dúvidas dos ocidentais.


Ouvir e Ver
Nada como recordar os sons que uma cidade como New York evoca através da gravação de um concerto de Paul Simon no Webster Hall, em 6 de Junho de 2011. Paul Simon é acompanhado por oito músicos de excepção e percorre diversas fases da sua carreira, desde "The Sounds Of Silence" até "Diamonds On The Soles Of Her Shoes", passando por "50 Ways To Leave Your Lover" ou "Still Crazy After All These Years". Ao todo, são 20 temas, num belo DVD realizado por Martyn Atkins. Algumas destas canções há muito não eram tocadas ao vivo por Paul Simon - que agora vai nos seus 70 anos - como "Mother And Chilkd Reunion" ou "Kodachrome", mas elas estão talvez entre os melhores momentos do registo. O que gostei mais neste DVD foi o ar de concerto intimista, de uma actuação para amigos. Por vezes, quando o DVD está a tocar, até se tem a sensação que ele está ali, a tocar só para nós.


Ver
Várias sugestões de fotografia. Começo por Coimbra, duas exposições, ambas promovidas pelo Centro de Artes Visuais. A primeira é de Daniel Malhão e mostra um conjunto de obras seleccionadas do autor; a segunda é intitulada "O Amor de Alcibíades", de Eduardo Guerra. Ambas estão nas instalações do CAV, no Pátio da Inquisição.

A segunda sugestão, bem diferente: até 9 de Novembro podem ser vistas as 20 melhores fotografias do II Prémio de Arte Grünenthal, subordinado ao tema "Que a Dor não seja mais do que uma recordação". Estão na sede do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, Avenida da Liberdade, 270. O prémio foi ganho pelo espanhol Miguel Ángel Tornero com o trabalho "Pain Killers".

A terceira sugestão: Neil Lochery, que escreveu um belo livro sobre Lisboa no tempo da guerra, procurou imagens dessa época, mostrando a cidade entre 1939 e 1945, em diversos arquivos internacionais e nacionais. Muitas destas imagens eram inéditas até agora. Até dia 9 de Novembro nos Paços do Concelho.


Arco da velha
O Autódromo do Algarve pediu o perdão de 40 milhões de euros de dívidas e o Estado vai demorar mais de dez anos a receber mais de 600 mil euros que a empresa lhe deve. O Autódromo foi inaugurado há quatro anos pelo então ministro Manuel Pinho que, na cerimónia, afirmou: "Todos os equipamentos que aqui vão crescer são uma mais-valia para evitar que o autódromo se transforme num elefante branco".


Semanada
Desemprego subiu 40% na construção e já atinge cerca de 100 mil pessoas; quase 60% das grandes empresas foram alvo de acções judiciais nos últimos 12 meses; Portugal gasta mais em defesa e educação que a média dos países da zona euro e, também em média, gasta menos em saúde e prestações sociais que os outros países; a administração fiscal penhora mais de 2800 contribuintes por dia; num inquérito da Associação de Comércio de Lisboa, os responsáveis de 3000 empresas queixam-se mais da Justiça do que da falta de crédito; o indicador de confiança dos consumidores atingiu, em Outubro, um novo mínimo histórico desde o início da série

do INE, em 1997, e as perspectivas das famílias sobre a economia e a sua própria situação financeira são as piores de sempre; Passos Coelho admitiu, no Parlamento, que em 2013 pode haver quebra da receita fiscal apesar do aumento de impostos - e que o orçamento pode não ser cumprido; o orçamento comunitário para o período de 2014 a 2020 vai reduzir em cerca de 10% e para Portugal a quebra será de pelo menos 2500 milhões de euros.


Folhear
A edição de Novembro da "Monocle" vem tocar um tema que está na ordem do dia em todo o mundo e que é a qualidade da assistência de saúde que cada país pode proporcionar aos seus cidadãos. O trabalho tem a diversidade e o inesperado que são a imagem de marca da "Monocle" - e pelo meio surgem muitas informações curiosas. As reportagens incluem uma viagem ao serviço Royal Flying Doctor da Austrália, uma espécie de 112 aéreo, um balanço da actividade das principais editoras de publicações médicas ou arquitectura de instalações hospitalares. Neste tempo de eleições, há um belo artigo sobre os negócios à volta das presidenciais norte-americanas, desde pesquisas de opinião até eventos de angariação de fundos - boas ideias para os nossos assessores políticos. Nas viagens fiquei com vontade de conhecer Lucca, na Toscânia, e umas comidas peruanas, em Lima. Enfim, nestes dias de crise a "Monocle" é cada vez mais preciosa - dá-nos a ilusão de conhecer o mundo sem sair de casa. E então se ouvirmos a sua "webradio" Monocle24 isso é ainda mais acentuado. Eu estou fã das web rádios e, entre estas, e da "webradio" da "Monocle" em particular.



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