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[371.] Anúncios aéreos e automóveis nas praias

A publicidade vai para onde nós estivermos e não hesita em poluir triplamente o ar para nos submeter a mensagens enquanto vamos a banhos.

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As praias, azuis ou não, protegidas ou não, são pasto para várias formas de publicidade em terra ou no ar.

Nas praias algarvias as avionetas não param, desde as 10 até às seis da tarde. Poluem o ar com CO2, com a ocupação do céu por publicidade não solicitada e com o ruído dos seus motores num local para onde muitos se dirigem precisamente para horas de descanso sem barulhos motorizados.

As faixas, arrastadas pelas avionetas à velocidade mínima a que conseguem voar, permitem aos anunciantes um tempo de exposição semelhante aos dos reclames televisivos. Tal como nestes, a publicidade faz-se anunciar pelo som abusivo.

Esta forma de publicidade é muito primitiva: na era das comunicações instantâneas, electrónicas e digitais, recorre a umas faixas, resistentes ao vento, com um acabamento estético limitadíssimo e capacidade mínima de informação. Todavia, o barbarismo do processo não trava a necessidade dos anunciantes chegarem ao público-alvo: os banhistas.

Em geral, as faixas publicitam divertimento e entretenimento em parques de diversão e eventos nocturnos como concertos, noites "temáticas" em discotecas, festas com espuma ou com um D.J. qualquer. O banhista, com ou sem empatia por esta publicidade poluidora, estará mais receptivo para este tipo de anúncios, por se adequar ao tom das férias. Já é menos razoável que operadores de telecomunicações, como a TMN, recorram àquelas avionetas quase evocativas da 1ª Guerra Mundial para repetirem estafadas campanhas de descontos.

Os anúncios voadores são quase só informativos: usam abreviaturas à SMS e não têm espaço para linguagem simbólica, escrita ou desenhada. São como os "tickers" rolando nos ecrãs, nos noticiários de TV. Informam hora, local e evento. Mais nada. Como dizia Émile Levassor da sua invenção automóvel (transmissão e mudanças), "C'est brutal, mais ça marche": esta será publicidade bruta e poluidora, mas vai até onde os consumidores estão - e onde estão disponíveis para olhar para o céu.

A publicidade voadora pode ser perigosa: este mês, houve um acidente com uma avioneta no aeródromo de Portimão; e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves alertou para os efeitos das avionetas num raro habitat natural avícola na costa algarvia, a Lagoa dos Salgados. O problema, para as aves, como para os humanos, é que esta publicidade toca sempre duas vezes: passa sobre o mar e regressa depois pelo lado de terra. A repetição também ecoa a estratégia dos anunciantes na televisão: levar os consumidores ao K.O. por exaustão.

Quando os banhistas se afastam dos areais deparam-se com nova onda de publicidade: há papelinhos, cartões e desdobráveis violando os pára-brisas e todos os outros vidros dos carros. Os mesmo anúncios repetem-se diariamente, mais uma vez para o consumidor se lhes render, exausto.

Depois do céu, são os carros os poluídos; mas muitos banhistas, irritados com a publicidade intrusiva, poluem o chão dos parques de estacionamento com a papelada. Eu guardei-a e trouxe-a para casa: um pequeno cartão de visita do T-Clube com a programação estival; três exemplares do desdobrável sobre o "rodízio à Brasil" no Restaurante Cheers, tendo no verso anúncios da "Rota das Grutas" do Catamaran Liana e outro de "Pesca Grossa/Big Game Fishing"; um cartão pequeno e três grandes, todos diferentes, do La Plage e do Black Jack, no Casino de Vilamoura.

Tenho o maior apreço pelas empresas anunciantes, mas é justo informar os leitores de que não consumi nenhum dos produtos ou serviços publicitados durante duas semanas na minha praia e no meu carro.

ect@netcabo.pt




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