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[226.] Seat, Mazda, Chevrolet, Pantene

Os intervalos para anúncios nos canais generalistas mostram a deriva de públicos e do negócio da publicidade: à parte as grandes marcas globais como as de automóveis e de perfumaria, outros anunciantes parece terem desistido da exigência artística e apres

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Mesmo nos automóveis. Confunde-se juventude com parvoeira. O Seat mostra jovens a cantar dentro do carro; minilegendas referem outros acessórios além da música. O exterior do carro vê-se no fim, de fugida. Mensagem: “se comprares este, já não andas apeado, e se ouvires a música que gostas, menos mal”. O Mazda 2 faz do exibicionismo jovem nas discotecas o centro da mensagem: essa ginástica torna-se comparável aos malabarismos que se podem fazer com aquele ou qualquer carro. A identificação do rapaz que conduz e das raparigas que (se) seduzem com o automóvel faz-se através da cor: todos têm os olhos verde alface eléctrico como a tinta do Mazda 2.

O Chevrolet Matiz exagera. Uma rapariga sai para um tapete vermelho e cá fora todos aplaudem. “As pessoas estão sempre atrás de mim. Onde chego sou sempre o centro das atenções. Uhm?! Mas parece que não é por minha causa”. Enquanto avançava, percebeu pelo espelho de bolsa que o aplauso era para o carro. Isto é demasiado irritante. E falha a mensagem. Pretendia dizer que com aquele carro andarão todos atrás da rapariga que o comprar, que ela será o centro das atenções. Essa era a sugerida vontade de identificação mas, como vimos, o aplauso não é de forma alguma para a dona, apenas para o carro. Não será preferível ter um carro que permita à dona sentir que também tem aplausos e atenções?

O actor de telenovelas, João Reis, faz um anúncio da Seguro Directo que mete um certo nojo. O carro está coberto de gatos pretos. Mas como ele tem um bom seguro, os bichos saem. Já o mesmo não sucede ao vizinho. Enxota os gatos e eles lá ficam. A acumulação de gatos nos tejadilhos é nojenta e sugere que também o carro do actor fica todo riscado. Claro, claro, sabemos que é uma metáfora, que os gatos materializam em imagens o abstracto azar. Mas eram precisos tantos? Até nas metáforas os publicitários exageram.

Tantos anúncios irritantes! Os de produtos para cabelos são de desconfiar, com cabeleiras de seda a sugerirem efeitos especiais. No reclame de Pantene, Repara & Protege, aflige que a mulher ponha os dedos todos num frasco tão pequeno e tire metade do produto duma só vez. Das duas uma, ou ela exagera para sugerir às consumidoras que façam o mesmo, ou então, sejamos benevolentes, o frasco é pequeno demais.

Mais irritante é o anúncio de Brise Toque & Fresh porque começa por dizer que a consumidora deixou acabar o produto. “Cheira tão mal!”, diz o miúdo na retrete, !acabou-se!”. “Acabou-se o quê?”, pergunta a voz feminina. “Não se esqueça! Troque a sua recarga”. Para dizer que o produto ilude os maus odores na casa da banho, o reclame sugere, de facto, o cheiro a porcaria na retrete. Como o anúncio passa nos intervalos da hora do jantar, o sugerido cheirete é duplamente irritante.

Não acaba o intervalo sem aparecer Júlia Pinheiro. Já a vimos nas tardes da TVI e nas noites da TVI, porque não também nos intervalos da TVI? E se uma Júlia Pinheiro é pouco, porque não quatro? Eis o que nos apresenta o reclame de Capital Mais: quatro Júlias Pinheiros para dizer às pessoas que têm quatro ou mais empréstimos que podem substituí-los por um único. O anúncio é fraco. A apresentadora não está nada bem visualmente, imagine-se quando multiplicada por quatro. Mas, vá lá, sejamos positivos. Ao contrário da Júlia Pinheiro das tardes da TVI e da Júlia Pinheiro dos “reality shows” da TVI, esta Júlia Pinheiro da Capital Mais não grita, fala num tom cortês e educado. Sempre há vantagens na clonagem.

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