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[201.] Honda, BPN

Anúncio que se apresenta pela negativa – com a palavra "não" em destaque – é raro. Aí está ele, a circular pelas revistas. A Honda divulga a marca num reclame institucional que sublinha a diferença entre ousar (o princípio de alguma coisa) e rejeitar (que

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Todavia, sendo o conceito do anúncio um pouco complexo, o texto falha pela retórica exagerada a respeito de palavras com recurso a conceitos abstractos (o sonho e a sua negação). A última frase antes do desenlace ("Será que não está na hora de também dizer mais ‘sim’ aos seus sonhos?") é uma tristeza, mas o resultado lógico dum texto baralhado. Precisei de lê-la duas vezes para entender que o não do princípio da frase não é um não da negação que se referia acima mas antes um não inútil, gramatical, confuso. A frase "dizer mais ‘sim’ aos seus sonhos" é igualmente estranha porque tem o "mais"... a mais. Se se pretendia manter a palavra deveriam ter escrito "dizer mais vezes ‘sim’".

Quando se lê a frase do desenlace – "Está na hora de ter um Honda" – percebe o falhanço do texto, pois, numa reviravolta barroca, transforma-se os sonhos que a Honda teve e conseguiu realizar desde a sua criação num eventual sonho do leitor, isto é comprar um Honda. Convinha as agências arranjarem escritores para terem bons textos e bons slogans, como acontecia nos anos 60 e 70. Estará na hora de as agências recorrerem a escritores para terem textos de sonho?

Outro anúncio que é mais "não" do que "sim" mostra Luís Figo sentado numa cadeira foleira, do género escritório, no relvado do Estádio Nacional. O estádio está vazio e no campo apenas o jogador. A frase em destaque diz: "O BPN é o banco com lugar para todos." Em baixo, o texto tenta explicar: "Luís Figo sabe que só há um lugar para si." (Para si, quem? Figo ou o leitor?) "Um lugar onde o conhecem." (Ah, é para ele. Curiosa frase esta: diz que há um lugar onde conhecem Figo... e eu a pensar que não deve haver lugar no mundo onde o desconheçam...) "Esse lugar é o BPN. O lugar onde surpreendemos todos os nossos Clientes." (Gosto da maiúscula, o que é preciso é respeitinho pelos clientes. E como os surpreenderão no BPN? O texto não diz.) "Onde lhes oferecemos o que precisam." (Dinheiro?) "No BPN também há um lugar para si." (Para si quem? O leitor ou Figo?)

O anúncio está muito mal construído, sobrevivendo apenas pela notoriedade eficaz de Figo. Note o leitor que o texto trata o BPN por "lugar" (!) e diz também que há nele "lugar para todos" e que "há um lugar" para Figo e "também há um lugar para si", que não Figo. Neste anúncio, há lugares num lugar! Tudo é lugares! Parece um estádio... Mas o que vemos se não um estádio vazio? E que lugar ocupa Figo? No centro do estádio, e está sozinho. Figo é um "conhecido", um dos homens mais "conhecidos" do mundo! Na foto, há lugar para ele, mas os outros lugares não foram ocupados. Que podemos nós, os outros "si" do texto? Que lugar nos reserva o BPN? Nas bancadas? A frase principal – "banco com lugar para todos" – é contrariada pela própria imagem de Figo, que é tudo menos "todos", é uma pessoa especial. O anúncio diz uma coisa e mostra o seu contrário: diz que o BPN tem "lugar para todos", mas mostra um eleito.

Desconheço se, por ser Figo accionista do BPN, o anúncio pretende dizer que ele está ao leme e nós, os "desconhecidos" convidados a abrir conta no banco, gostaremos de reproduzir nessa relação da nossa vida económica privada o que sucede na nossa vida pública ao assistirmos na bancada a um jogo de futebol protagonizado por uma estrela como Figo. Mas se é, não resulta. Dispor de Figo para a publicidade e fazer um anúncio destes é um desperdício, um "lugar onde surpreendemos todos"... pela negativa.

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