Opinião
“Encerrámos portas, mas não parámos! Abrimos janelas! ”
É o tempo de estarmos fisicamente fechados. Mas é o tempo de aproveitarmos o desafio de estarmos “fechados” para nos conhecermos, nos inspirarmos e nos ultrapassarmos.
Esta é uma crónica para empresários, gestores, dirigentes e estudantes. Iniciámos todos, nos últimos dias, na última semana, uma nova forma de estar em comunidade. Não estamos de férias! Estamos sim a trabalhar a partir de um local diferente (ou não) mais distante, fisicamente, da restante equipa ou grupo a que estamos habituados.
E estamos assim, porque enfrentamos um momento difícil, perigoso e até decisivo, um momento de crise. Estamos a viver aquilo que muito anunciámos de VUCA - volátil, incerto, complexo e ambíguo. A única não ambiguidade é que devemos mesmo ficar fisicamente isolados. E na crise há duas características certas, independentemente de ser uma crise económica, médica, ou de um qualquer outro foro: a dificuldade e a oportunidade.
Estamos todos vulneráveis: a um vírus que sabemos ser altamente contagioso; à tecnologia que sabemos estar em teste ou até em sobrecarga a nível global; a nós próprios e à nossa condição humana, por estarmos a viver num formato para o qual não estávamos preparados e numa era em que gostamos de ter tudo controlado. Ou pelo menos gostamos de ter essa perceção. O mundo incerto, imprevisível e complexo está aqui e agora!
Já percebemos os desafios que estamos ou vamos enfrentar. Desde logo e para muitos, o desafio de estar várias semanas em casa e sem viajar. Para outros, trabalhar distante das equipas, o que constitui um desafio à forma e frequência da coordenação. Para muitos, o desafio de partilhar o espaço da família para trabalho, salvaguardando que cada um tenha o sossego que precisa e as ferramentas necessárias. Já será, para muitos, um exercício de turnos e de algumas regras a implementar. É o tempo de estarmos fisicamente fechados. Mas é o tempo de aproveitarmos o desafio de estarmos "fechados" para nos conhecermos, nos inspirarmos e nos ultrapassarmos.
Este é o tempo de escutar e de relembrar as competências e talentos que tem em casa, na família. Sabemos que a escuta ativa, a negociação, o trabalho de equipa e a liderança, se aprendem e treinam em família. Em casa. Escolha uma competência por semana e ou um membro da família. Não precisa de dizer a ninguém. Observe ao longo das várias semanas que tem pela frente. No final desta temporada, vai estar melhor preparado para liderar. E vai ficar surpreendido com tanto que a sua família lhe vai mostrar. Qualquer um de nós, ou pai ou mãe ou filho ou irmã, pode fazer este exercício. Se tem uma casa mais vazia, então é tempo para ler, refletir, planear e até escrever. Em todos os casos, é também tempo para fazermos o telefonema há muito adiado ou enviar a mensagem há muito devida. Para outros é o tempo de desenvolver a capacidade de trabalhar à distância, de gerir equipas a trabalhar remotamente. É o tempo de, com um formato diferente, equilibrar a vida familiar e o trabalho. E sabemos bem quão grande é esse desafio e quão maior é estando em casa. Mas temos todos de estar compreensivos e comprometidos nesse exercício. Para outros ainda, é tempo de gerir e continuar a operar, porque a sociedade assim o espera. Mas exigindo cuidados operacionais excecionais e a proteção de todas as pessoas que estão no terreno. O desafio está aí na vulnerabilidade, no cansaço, na sustentabilidade de uma operação ou de um negócio, sobrevivendo a um inimigo invisível.
A oportunidade está em todas estas situações. Somos obrigados a parar. Ou somos obrigados a ter distância ao que fazemos e à forma como o fazemos. Para aqueles que continuam a trabalhar, mas à distância, que isto nos faça perceber quais são os processos que podemos simplificar, qual o papel de que nos podemos libertar, quais as cadeias de comando e controlo que podemos agilizar. E que novos serviços ou produtos parecem fazer mais sentido. A crise vai-nos fazer mudar. O que vamos precisar e valorizar?
Esteja atento aos detalhes. No negócio que mantém operacional ou naquele que coordena à distância. Vá abrindo janelas de curiosidade. Ainda que lentamente. Abra janelas de potencial futuro. Janelas de esperança. Vá conversando com a família e também com a sua equipa de trabalho. E não esqueça aqueles com quem fala na hora do café ou quem joga padel ou golf. Esses continuam à espera da sua mensagem.
Fique em casa, mas não fique parado. É tempo de ser rápido na adaptação e na tomada de decisão. É tempo de atenção. É tempo de preparar o que vem a seguir. Mas também é tempo de se conhecer a si e de trabalhar a sua resistência.
Mantenha-se seguro, ativo e atento!
Continue a viver. Abra janelas!
Católica Porto Business School