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Maria de Fátima Carioca - AESE 30 de Junho de 2019 às 19:50

O verão e a agilidade cultural

É muito provável que daqui a muito poucos anos não estejamos a fazer o que hoje fazemos, nem a utilizar os mesmos instrumentos. Nesta transição, a agilidade cultural será crucial para o sucesso de cada um.

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É verão! Pelo menos assim o afirma o calendário. E o verão é sempre um bom caso de estudo qualquer que seja a disciplina a partir da qual o olhemos: é um bom caso de marketing - recordo o Ferrero Rocher e o seu desaparecimento durante o verão -, é também um bom caso de estratégia e operações - imagino o pico de procura de gelados e refrigerantes - e é ainda um bom caso de gestão de pessoas entre as que se encontram de férias e as necessárias nos muitos negócios sazonais.

 

Mas o verão, em geral, é também a estação em que reservamos algum tempo para férias, a rotina do resto do ano é desafiada, o ritmo e a própria vida mudam. Os nossos conhecimentos e nós mesmos somos colocados em situações que não vivemos habitualmente. Nestas situações não habituais e no contexto da vida real, tal como na metodologia do caso que conhecemos e trabalhamos na AESE Business School, cada um tem a possibilidade de desenvolver uma melhor compreensão de si mesmo, das suas características pessoais, do que o move e do seu potencial. Mesmo que muitos episódios se repitam desde que nascemos como manda a tradição (a praia, o toldo, os amigos, a festa da aldeia, o convívio em família, o ritual da viagem), vivemo-los apenas de ano a ano e durante um curto espaço de tempo. Neste sentido, umas boas férias podem ser uma excelente experiência de aprendizagem.

 

Mas não só. Este período de férias, exatamente por nos deslocar do lugar habitual onde vivemos e trabalhamos, permite-nos também cultivar uma das principais habilidades cognitivas do ser humano: a agilidade cultural, ou seja, a capacidade de entender o contexto cultural, desenvolver empatia, discernir o protocolo e as "nuances" humanas na inter-relação que se estabelece. Esta competência, como outras tais como a criatividade, o empreendedorismo e o pensamento sistémico, é uma competência muito relevante olhando o presente e o futuro das empresas e instituições em geral, porque é genuinamente humana e difícil, senão impossível, de ser aprendida pelas máquinas mesmo as mais inteligentes.

 

Não só a robotização, como a globalização, exponenciada pela introdução de plataformas digitais, a conectividade entre as pessoas e a sua maior mobilidade, vieram, sem dúvida, transformar essa habilidade num imperativo. Em 2020, prevê-se que o comércio eletrónico transfronteiriço aumente para $1 trilião USD; em 2019, o número de utilizadores de internet será de 4,9 biliões; 40% da população ativa trabalha, à distância, em equipas "multi-site"; 3,5% da população mundial reside num país que não o de nascença e, de entre esses, 60% trabalha ou estuda nesse país. Ora se a globalização esbateu fronteiras económicas, no que aos negócios se refere, a globalização acarreta uma complexidade aumentada devido a diferenças culturais, uma maior dificuldade em estabelecer bases de entendimento sobre as quais se pode dialogar.

 

Mesmo sem pensar global, a verdade é que a adaptação cultural é importante na multiplicidade de contextos em que nos movemos. Cada organização tem a sua própria identidade, valores, cultura corporativa e espera dos seus colaboradores determinados comportamentos. Daí que, num mundo culturalmente tão variado, os bons profissionais serão aqueles capazes de ultrapassar as diferenças, tomar decisões em contextos diversificados, integrar(-se) e/ou adaptar(-se) a distintas funções que serão chamados a desempenhar. É muito provável que daqui a muito poucos anos não estejamos a fazer o que hoje fazemos, nem a utilizar os mesmos instrumentos. Nesta transição, a agilidade cultural será crucial para o sucesso de cada um.

 

Muitos dizem que nós, portugueses, temos esta capacidade de forma inata, pela maneira como nos aventuramos pelo mundo fora, pela forma como acolhemos quem nos procura. Só significa que certamente, se a soubermos trabalhar e desenvolver, estaremos mais aptos para enfrentar o futuro do trabalho, da economia e da humanidade.

 

AESE

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