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A morte do último bode expiatório no BCP

Há vida para além dos "shorts" e, salvo em algumas ocasiões especiais, não são eles que movem as cotações.

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BCP, BCP, BCP. Não se fala sobre outra acção na bolsa portuguesa, fruto do momento delicado que a acção vive no mercado. Quando um título cai, em poucos dias, mais de 30% e pertence a um sector onde os problemas graves têm ocorrido, é normal que o pânico, medo e especulação se juntem num cocktail explosivo.

O BCP está a cair há muitos anos e acho incrível que se continue a encontrar nos "shorts" (investidores que tentam ganhar dinheiro com as quedas) o bode expiatório para o afundar do título. Nos fóruns, nas conversas entre amigos, a explicação para que o BCP esteja a estes níveis é sempre os "shorts" e o seu massacre sobre o título. Quando será que as pessoas percebem que o problema do BCP estar sempre a cair é a completa falta de interesse dos investidores no título?

A CMVM veio proibir, durante alguns dias, a abertura de posições "short". O que é que sucedeu? O BCP continuou a cair e está hoje bastante mais abaixo do valor que estava nesse dia. Mas é incrível verificar que, sempre que o BCP cai muito, atribuem a culpa aos "shorts" que abriram posições e, sempre que sobe muito, defendem que tal sucedeu porque os "shorts" fecharam as suas posições. Há vida além dos "shorts" e, salvo em algumas ocasiões especiais, não são eles que movem as cotações. E o que sucedeu nos últimos dias mostra isso mesmo.

Insisto na ideia que tenho vindo a passar ao longo do último ano - Se o BCP tivesse menos 100 vezes acções em circulação, teoricamente estaria a cotar acima dos dois euros. Os investidores não achariam que não poderia cair mais e não continuavam agarrados à acção apenas porque acham que o banco não vai à falência. O facto de o BCP não ir à falência não significa que não possa cair mais. Tem sido este o erro da grande maior parte dos investidores, induzidos pelo baixo valor a que a acção cota. Por isso é que defendo tanto o "reverse stock split" que o banco anunciou para que quem tenha a acção não o faça apenas por estar a cotar próximo do zero.

Nuno Amado fez o que tinha de ser feito. Veio a terreiro defender o banco e sossegar os investidores de que um aumento de capital não vai ser necessário. A primeira reacção do mercado foi boa, mas as quedas regressaram. Como sempre, o mercado acredita mais nos números do que nas palavras e ninguém pode ter a certeza de que esse cenário está fora de hipótese, sobretudo quando a economia portuguesa teima em não arrancar e os Cocos estão por pagar. E há situações que fogem do controlo do próprio banco como a questão do Novo Banco. Nuno Amado e a sua equipa estão a fazer um bom trabalho, mas isso ainda não foi suficiente para resolver alguns dos principais problemas do banco.

O que me fará ficar optimista em termos de médio e longo prazo no BCP não serão declarações de Nuno Amado, números do banco ou indicadores económicos portugueses. Será sempre o gráfico e quando o BCP quebrar resistências importantes aí algo terá mudado neste longo e penoso "Bear Market". É verdade que, ao longo destes anos, alguns conseguiram aproveitar ressaltos fortes que o BCP teve. Ainda na semana passada, numa das sessões, a acção registou a maior subida do último ano. Mas, em termos de médio e longo prazo, quem tem tentado apanhar esta autêntica faca a cair tem saído com as mãos feridas. E, na maior parte das vezes, acabam por manter a acção com a convicção de que já está demasiado baixa para cair mais. E o calvário continua.

Alguns leitores dizem que me esqueço das boas perspectivas do banco, da recuperação que ele pode ter assim que pagar os Cocos. Nunca passei uma certidão de óbito ao BCP. Mas só vestirei o meu fato de touro quando os accionistas de peso aparecerem no mercado e fizerem a acção subir, quebrando resistências importantes. Nunca deve haver pressa em entrar numa acção que cai. Quando o seu "Bull Market" chegar, haverá tempo suficiente para se ganhar muito dinheiro. Mas a ganância, muitas das vezes, fala mais alto.

P.S. - 19 administradores na Caixa Geral de Depósitos. Ainda pensei fazer uma piada sobre o tema, mas é demasiado triste para isso. 

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Analista Dif Brokers
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