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Sandra Clemente - Jurista 29 de Março de 2017 às 20:45

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O BE quer limitar os salários dos gestores, mas quando teve nas mãos o poder de o fazer deixou passar o fim do limite aos salários dos gestores públicos da CGD.

A coordenadora do partido que se desdobra em palavras, mas se acobarda nas ações, destilou ódio aos privados, transformando uma questão séria em meramente ideológica: "… quando olhamos para Mexia com dez salários mínimos a cada dia que passa ou para o Soares com o seu aumento salarial de 46% num ano dizem-nos que é mérito deles, o mérito deles é agravar a economia injusta, fazer a escolha pelos baixos salários dos trabalhadores, … por esmagar os seus fornecedores e, com isso, o emprego no país, … pelas piores práticas sociais." Privados esses que, com governos de várias tendências, estão pelo mundo fora - EUA, França, Suécia, Israel, Holanda - a discutir o assunto, sobretudo desde 2016, com uma pertinência em crescendo.

 

O FT e o Economist têm noticiado e discutido a preocupação de encontrar modelos simples e transparentes de remunerar executivos que permitam a empresas e investidores focarem-se na criação de riqueza sustentada a longo prazo para acionistas, empregados, fornecedores, comunidade e economia. A questão extravasa a justiça da remuneração, já se coloca em os valores exorbitantes serem, ou não, moralmente defensáveis. As desigualdades e a instabilidade têm custos económicos e sociais com que ninguém quer ter de lidar e com que poucos podem crescer. Portugal é dos países da UE com maiores desigualdades salariais. Em 2016, o governo francês, acionista da Renault, quis baixar o pacote salarial do brasileiro Ghosn. 54% dos investidores alinharam. Em Novembro de 2016, o governo conservador britânico publicou um Green Paper para debater a Corporate Governance Reform.

 

Os investidores estão a obrigar as empresas a refletirem sobre os pontos de vista do governo, que quer uma economia que funcione para todos e não apenas para poucos privilegiados e afirma que se os "players" acordarem nas mudanças o governo não precisa de legislar. A Black Rock defendeu que prémios, pacotes de pensões e aumentos salariais dos executivos de topo devem refletir os da generalidade dos trabalhadores. É uma discussão que vale a pena ter? É. Com pessoas prontas para abandonar ortodoxias estafadas à esquerda e à direita e para procurar ideias novas que solucionem problemas contemporâneos.

 

Jurista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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