Opinião
Turismo chinês - Uma excelente oportunidade para a Europa
O crescimento económico na China permitiu uma melhoria dramática e rápida em termos de rendimento disponível das famílias, reflectindo-se no orçamento alocado ao turismo.
De acordo com um estudo aprofundado da Roland Berger no mercado chinês, nos próximos 1 a 2 anos, 85% da classe média alta e afluente neste país planeia fazer pelo menos uma viagem ao estrangeiro. Assim, o número de turistas chineses a viajar para a Europa deverá crescer substancialmente no curto prazo. De forma a capitalizar nesta oportunidade os países europeus, e Portugal em particular, terá de se preparar, garantindo uma oferta e serviço adequado às preferências e especificidade dos turistas chineses.
A classe média alta e afluente chinesa que viaja
A classe média alta e afluente chinesa, que constitui o segmento de mercado relevante para o turismo nacional, conta com 9,6 M de famílias ou 30,3 M de pessoas. Este segmento, eminentemente urbano e jovem (entre os 25 e os 45 anos), apresenta um rendimento anual entre os 24.300 EUR e 48.600 EUR, tendo casa e carro próprios.
Dos 4,6 M de turistas chineses que vieram à Europa em 2012, aproximadamente 85% viajou para 4 países (França, Itália, Alemanha e Reino Unido), nos quais passou entre 10 e 15 dias.
No entanto, a sua abordagem às viagens tem vindo a evoluir. Em 2005, os turistas chineses tipicamente realizavam visitas em grandes grupos a 5/6 países europeus em 15 dias. Desde então a dimensão dos grupos tem-se reduzido e enfocado num menor número de países por um período de tempo mais curto. Para os próximos 1 a 2 anos prevê-se que o número de pequenos grupos que se enfocam em 1 a 2 países ao longo de 6 dias deverá aumentar. Esta tendência resulta do aumento dos turistas com experiência de viagem anterior que já representam entre os 10% e os 15% do total.
Assim, neste momento distinguem-se já 2 grupos de turistas chineses, com motivações, comportamentos e características diferentes:
1. Turistas sem experiência prévia (aproximadamente 85% do total) - optam por tours na Europa em pacotes "standard", que compram em agências de viagem. Este grupo tem como objectivo visitar o maior número de países possível num curto espaço de tempo, pelo que visitam apenas os "must see";
2. Turistas com experiência prévia de viagem (aproximadamente 15% do total) - optam por preparar eles próprios a viagem da qual pretendem experiências mais profundas que lhes permitam compreender os países visitados. Alguns optam mesmo por viagens temáticas e/ou "feitas à medida".
O que procuram os turistas chineses
Entre os países europeus, os turistas chineses preferem a França, especialmente devido à sua reputação em termos de romantismo e educação, seguida da Alemanha e Itália. No entanto, há 3 aspectos que efectivamente motivam os turistas chineses numa viagem à Europa:
1. "Imaginário" histórico/cultural europeu, com enfoque nas cidades mais famosas pela arte, cultura, história e pelas compras (foco no luxo europeu). Paris, por exemplo, é a única cidade europeia em que os turistas chineses querem passar mais de 1 dia;
2. Experiências/viagens temáticas, em particular nas principais regiões vitivinícolas, históricas e/ou de natureza;
3. Shopping é outra das actividades mais populares entre os turistas chineses à qual dedicam aproximadamente 30% do seu orçamento de viagem.
No entanto, muitas vezes as viagens à Europa não cumprem as expectativas. Em França, por exemplo, há 88% de chineses que pretendem visitar, mas apenas 71% recomenda o país a familiares e amigos após a viagem. Para esse descontentamento há 3 factores principais:
1. Barreiras de linguagem e serviços limitados em chinês estão entre as queixas mais comuns, complementado por uma atitude pouco acolhedora;
2. Adaptação insuficiente aos hábitos/requisitos dos chineses, nomeadamente em termos da qualidade dos hotéis e dos serviços disponibilizados. Por exemplo, muitos hotéis não disponibilizam chá nos quartos;
3. Complexidade da obtenção de vistos turísticos.
Considerando os factores valorizados pelos turistas chineses, a riqueza de oferta cultural, histórica e paisagística nacional assim como a simpatia enquanto anfitriões, posiciona Portugal como destino com "argumentos" para beneficiar do crescimento do mercado chinês.
Para maximizar o potencial desta oportunidade existem aspectos fundamentais a desenvolver, como, por exemplo, fomentar as ligações aéreas directas para a China, exigindo investimento num modelo que venha a criar rotas viáveis e sustentáveis; ou efectuar uma adequação da oferta turística a estes clientes, a realizar por intervenientes-chave do sector do turismo em Portugal, preferencialmente de forma articulada de forma a assegurar consistência e complementaridades. Os exemplos dados evidenciam que apesar do potencial do turismo chinês, o sucesso de Portugal neste segmento requer investimento e uma actuação focada. Será que existe capacidade de a concretizar?
Roland Berger Strategy Consultants