Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Roland Berger Consultants 31 de Janeiro de 2016 às 19:00

Bitcoin? A revolução virá da blockchain

A bitcoin foi revolucionária, pelo seu conceito de moeda digital, independente de qualquer autoridade central, no entanto, uma verdadeira revolução poderá vir a ter origem na sua tecnologia base: blockchain.

Trata-se de um "sistema de contabilidade" aberto, público, semelhante a uma base de dados, cuja validação é feita pelos seus utilizadores, de forma local, e não por uma entidade central. Esta valência, de guardar e confirmar a validade de informação em tempo real e com um custo muito reduzido, poderá mudar a forma como a indústria de serviços financeiros funciona.

 

Serviços financeiros na linha da frente               

 

Recentemente, foi constituído um consórcio (R3) - composto por 42 bancos, incluindo a Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Credit Suisse, entre outros - para desenvolver os "standards" que deverão guiar a adopção da tecnologia blockchain (por enquanto, nenhum banco português aderiu a esta iniciativa). As grandes instituições financeiras, reconhecem o potencial desta tecnologia na transformação do modelo de negócio, nomeadamente:

 

• "Back-office" - potencial de alteração profunda na operativa de operações de "clearing" e "settlements", com elevado potencial de redução de custos e aumento de rapidez no processo;

 

• Transacção de títulos (bolsa de valores) - o NASDAQ, em parceria com a start-up Chain.com, desenvolveu a plataforma Linq para facilitar a emissão, a classificação e o registo de transferências de acções, esta plataforma utiliza tecnologia blockchain e está a permitir significativos ganhos de eficiência e rapidez no processo;

 

• "Smart Contracts" - possibilidade de gerir contratos complexos em "real time", um exemplo pode ser um acordo de recompra cuja avaliação e "margin calls" estão automatizadas, simplificando e reduzindo drasticamente os custos do processo. A tecnologia blockchain substituiria, assim, o papel dos "collateral managers", minimizando o envolvimento de cada parte (bancos).

 

Para a generalidade dos intervenientes na indústria, as possibilidades que esta nova tecnologia pode trazer são um pouco teóricas, no entanto, diversas start-ups estão já a trabalhar em soluções, bem como por grandes bancos. Hoje, o tempo que medeia a descoberta de uma nova tecnologia e a sua utilização generalizada é cada vez mais curto, sendo expectável que a breve prazo a generalidade das entidades financeiras opere soluções com base em tecnologia blockchain.

 

Contágio para outras indústrias

O potencial de inovação que o blockchain encerra pode ser utilizado em outras indústrias, como por exemplo:

 

• Notariado - o Governo da Estónia fornece serviços de notariado para os seus "e-residentes" através da blockchain, sendo que estes podem registar casamentos, certificados de nascimento, contratos de negócio, entre outros - independentemente do local onde vivem ou trabalham.

 

• Certificação de documentos - a start-up Stampery permite certificação através do envio de um simples e-mail. Adicionalmente, a Stampery está a ser usada por artistas e outras start-ups para proteger direitos de autor, propriedade intelectual e patentes.

 

• "Leasing" e seguros de carros - a Visa apresentou recentemente uma ferramenta-teste para certificação e actualização deste tipo de contratos. As transacções são utilizadas para criar um "fingerprint" digital de cada veículo, enquanto novas transacções são publicadas na blockchain durante o processo.

 

• Internet das coisas - a Samsung e a IBM estabeleceram uma parceria para de-senvolver o projecto ADEPT, que adopta a tecnologia blockchain para resolver alguns dos desafios da Internet das coisas.

 

Muito do potencial da blockchain está ainda por ser descoberto ou desenvolvido, no entanto, para a sua adopção generalizada ser uma realidade alguns obstáculos terão de ser ultrapassados. Além de obstáculos regulatórios, que deverão requerer coordenação europeia, as instituições financeiras deverão procurar modelos de colaboração com start-ups que lhes permitam acelerar o desenvolvimento e a adopção de novas soluções com um risco de investimento baixo. 

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio