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25 de Julho de 2016 às 20:50

"Bancos, para que vos queremos?"

O sucesso dos bancos será ditado pela capacidade de adaptação e rapidez de resposta à necessidade de reinventarem o seu modelo de negócio e proposta de valor para os clientes.

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Considere um mundo em que os bancos são os principais detentores da sua informação transaccional (isto é - quanto ganha, o que recebe de outros ou o que paga/ transfere) e onde a sua relação de pagamentos é intermediada e suportada em moeda física ou cartões de pagamento, mediante a garantia de um banco central.

 

Imagine agora que, nesse mundo, o modelo de negócio dos bancos está alicerçado na relação recorrente que estabelecem consigo e na capacidade destes para rentabilizar essa relação, através da cobrança de comissões e da venda de produtos financeiros.

 

Este é o mundo onde temos vivido até hoje! Contudo, esta realidade está a alterar-se a um ritmo acelerado.

 

A partir de 2018 o sector financeiro irá viver um novo paradigma com a implementação da segunda "Payment Services Directive" (PDS2). Como alteração de fundo, esta directiva dá aos clientes a posse da sua informação bancária. Nesse contexto, surgem novos operadores financeiros:

 

– Agregadores de informação (AISP) - soluções de agregação de toda a informação associada às suas diferentes contas bancárias numa plataforma única, permitindo-lhe uma gestão e planeamento integrado das finanças pessoais/ familiares sem necessidade de interagir com diferentes bancos

 

– Fornecedores de serviços de iniciação de pagamentos (PISP) - soluções de pagamento conta a conta, centralizando alternativas de pagamento via transferência usando a conta bancária da sua preferência, eliminando assim o ponto de contacto diário com os seus bancos.

 

Esta nova realidade constitui uma forte ameaça para os bancos, ao acelerar o processo de entrada de novos operadores não financeiros (retalhistas, "telcos", gigantes tecnológicos e "fintechs") num negócio que até à data lhes era quase exclusivo. Acresce ainda o facto de estes novos operadores estarem numa posição privilegiada para a captação da relação financeira dos clientes (isto é, a gestão financeira e os pagamentos), capitalizando o acesso a mais informação e a maior agilidade do seu modelo de negócios (reduzida necessidade de balanço), aumentando por isso o risco de desintermediação dos bancos.

 

Este é apenas um primeiro passo na transformação da relação diária dos clientes com as instituições financeiras, que será acelerado com o crescimento da chamada "cryptocurrency". Veja-se a possibilidade de os bancos centrais poderem emitir directamente "cryptocurrency", alterando o paradigma actual dos bancos como repositórios de moeda electrónica.

 

Ora, sendo os novos operadores verdadeiros cavalos de Tróia suportados na relação diária com os clientes, qual a necessidade de bancos no futuro? Se uma primeira resposta se centra no reposicionamento destes como "fábricas" de produtos financeiros (e.g. poupança; crédito), outra possibilidade é a de os bancos se anteciparem e desenvolverem plataformas próprias de gestão de finanças pessoais e pagamentos, integradas com serviços adicionais que os diferenciem dos operadores emergentes. A primeira visão centra-se puramente na eficiência, enquanto a segunda foca-se na manutenção da relação com os clientes como forma a manter relevante o papel dos bancos no seu dia-a-dia.

 

Assim, num contexto em que a separação entre quem detém a relação com os clientes e quem fornece produtos financeiros é cada vez mais possível, o sucesso dos bancos será ditado pela capacidade de adaptação e rapidez de resposta à necessidade de reinventarem o seu modelo de negócio e proposta de valor para os clientes.

 

Roland Berger

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