Opinião
Os sonhos, as obras e os coches
É inaugurado no sábado em Lisboa o novo Museu dos Coches. Quase transformada numa obra de Santa Engrácia, porque o processo iniciou-se há cerca de 20 anos, quando, em 1994, adquiri pelo PIDDAC da Secretária de Estado da Cultura ao Ministério da Defesa Nacional este terreno das Oficinas do Exército em Pedrouços, junto à Praça Afonso de Albuquerque, por um milhão de contos (5 milhões de euros).
O processo deu voltas e voltas, mas é bom lembrar que a história começou com a ideia de várias personalidades da nossa cultura, nomeadamente, da área do património e museus, no sentido de o Picadeiro Real, onde foi até agora o Museu dos Coches, ser liberto para voltar a receber exibições de arte equestre, no caso, através da respetiva Escola Portuguesa.
Quando ouvi falar na ideia pela primeira vez disseram-me que o General Ramalho Eanes, na altura Presidente da República, se opunha ao projeto. E a versão existente nos meios da Cultura dava conta de que o seu sucessor, Mário Soares, chefe do Estado à época em que comecei a tratar deste assunto, tinha uma recetividade completamente diferente. Naturalmente, a aquisição ao Ministério da Defesa e o desenvolvimento do projeto foram possíveis porque também aqui o primeiro-ministro Cavaco Silva deu "luz verde" e, mais do que isso, entusiasmou-se com os seus propósitos. Ainda em 1994, lá se visitou o espaço das oficinas com o referido primeiro-ministro, com vários membros do Governo, com a comunicação social toda, e anunciou-se que o Museu dos Coches passaria a ser ali. A Escola Portuguesa teria também ali o seu espaço e o Picadeiro Real seria liberto para tudo se passar ao estilo de Viena de Áustria e da sua célebre Spanish Riding School, grande atração turística da capital austríaca.
Ora o arquiteto brasileiro fez um projeto de que muitos gostarão e outros não gostarão. Eu, visto só por fora, confesso que sou dos que não gosto. Mas admito que me aconteça o que aconteceu a muitos que não gostaram ao início do Centro Cultural de Belém, embora não vá comparar as duas obras. Não sou dogmático, não gosto de fazer birras e, por isso, admito mudar de opinião. Dizem-me, aliás, que é mais bonito por dento do que por fora. Só que ser mais bonito por dentro do que por fora naquela zona é muito importante, tendo em conta a bonita envolvência, e até porque o novo edifício é muito pesado, sendo que a Praça Afonso de Albuquerque não é tão grande como a Praça do Império. Mas isso são gostos.
Gostos são uma coisa, factos são outra. O Museu ficou pronto. Não houve dinheiro estes anos, agora o Sol volta a brilhar e o Museu vai abrir. Oxalá seja um sucesso, como o foi até hoje o Museu dos Coches que agora encerra a sua atividade, tendo estado sempre no primeiro lugar no número de visitantes. Então numa época de tão grande "boom" turístico, que se espera duradouro, todas as razões existam para que este novo museu também seja um enorme motivo de atração na visita para quem vem a Lisboa e para quem cá mora.
Quanto à Escola Portuguesa de Arte Equestre dizem que talvez possa exibir mais acima, no Picadeiro da Ajuda, pertencente à GNR. Pelo menos o presidente da Junta de Belém, Fernando Ribeiro Rosa, e várias outras entidades da Cultura e da arte equestre estão muito empenhadas nisso. Pensemos pela positiva. O homem sonha e a obra nasce, mesmo quando a obra não é aquela que foi sonhada.
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