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22 de Agosto de 2018 às 22:45

Obras valorosas

Pedro Queiroz Pereira acrescentou valor, criou emprego, contribuiu muito para bons indicadores na economia portuguesa.

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O desaparecimento de Pedro Queiroz Pereira, Belmiro de Azevedo e Américo Amorim, independentemente das diferenças, incluindo de idade - Pedro Queiroz Pereira era mais novo mais do que Belmiro de Azevedo uma década - significou muito para a sociedade portuguesa. Liderando grupos mais industriais, mais comerciais, são três expoentes cimeiros da economia portuguesa das últimas décadas. José Manuel de Mello, Jorge de Mello, partiram há uns anos. 


Há toda uma época de Portugal que desapareceu. E em relação aos que já morreram e que tiveram vidas profissionais inatacadas e inatacáveis, a sua dimensão tem-se imposto, de modo categórico, incontestado, depois desse desaparecimento. Em relação a qualquer deles reconhece-se a obra, louva-se o que fizeram, evoca-se o exemplo. Junto agora o nome de António Champalimaud que, enquanto vivo, era normalmente referido como o símbolo dos capitalistas supostamente opressores da sociedade. Fez uma obra enorme em vida na economia portuguesa e na economia do Brasil, mas deixou a Portugal essa obra extraordinária que é a Fundação Champalimaud. Quem o contesta hoje em dia, quem se atreve a dizer mal dele? E dos outros que já partiram, tudo o que se ouve cada vez mais são hinos às suas obras.

Isto demonstra que é uma sociedade que vive de preconceitos e sempre mordida pela inveja, que corrói as energias da comunidade nacional. Para quem tenha dúvidas, esclareço que não perfilho a ideia, nem pouco mais ou menos, que só aqueles que constroem impérios é que fazem grandes obras. O operário mais indiferenciado ou o artífice menos recompensado merece também, tantas vezes, o reconhecimento geral. Estes homens triunfaram por cima de dificuldades e, nalguns casos, também não nasceram em berço de ouro.

Pedro Queiroz Pereira acrescentou valor, criou emprego, contribuiu muito para bons indicadores na economia portuguesa. Não sei quando é que Portugal conseguirá admirar e reconhecer, devidamente, as pessoas em vida. Se fôssemos capazes de o fazer e de seguir os exemplos de quem sonhou, trabalhou, realizou, criou riqueza, deu trabalho, pagou milhares e milhares de ordenados, talvez Portugal fosse mais próspero. Há muitos que sonham e trabalham e não conseguem resultados nem parecidos. Mas essa é a lei da vida, não nascemos todos iguais nem as oportunidades são ainda iguais para todos.

O que não podemos fazer é dizer mal, denegrir, por vezes caluniar, quem consegue o que nós não conseguimos. Qualquer economia que se queira próspera precisa de grandes empresários, de pessoas que, pelo seu trabalho, geram riqueza e também beneficiam dela. Queremos sociedades com menor distância entre rendimentos das pessoas que as integram, mas, certamente, não queremos nivelar por baixo. Portugal perdeu muito nestes últimos anos entre erros cometidos, crimes praticados e, noutro plano, por essa partida de alguns dos seus maiores. E o que mais me impressiona é a sensação que me dá de que não se para, um segundo que seja, para pensar em tudo isto. Américo Amorim tinha 83 anos; Belmiro de Azevedo, 79; Pedro Queiroz Pereira, 69.

Pedro Queiroz Pereira trabalhou até partir e os outros grandes vultos referidos fizeram-no até bem tarde na vida. Ainda bem que o fizeram e nisso são igualmente um exemplo para um certo tipo de estúpido preconceito que tem surgido em Portugal.

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
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