Opinião
Ir ao engano
A meu ver, está tudo claro que nem água, e o debate radiofónico entre os líderes dos dois maiores partidos, na passada segunda-feira, ajudou a tornar mais claro o quadro existente.
O que se passou na Madeira é compreensível. Muitos eleitores de centro-direita não queriam, de todo em todo, uma repetição do que existe no país, ou seja, a fórmula da geringonça. Todo esse eleitorado, que deu quatro décadas de maiorias absolutas a um só partido, mesmo com a renovação etária, continua lá. E certamente não se sentia nada tranquilo perante a perspetiva de ter, pela primeira vez, a esquerda a governar aquela região autónoma. Mesmo eleitores de esquerda devem ter apanhado algum susto com essa possibilidade, porque a verdade é que o Bloco de Esquerda desapareceu e o PCP ficou reduzido a um deputado. Por outro lado, certamente outra parte do eleitorado deve ter pensado sobre os novos partidos, que não os conhecia bem e não tinha, portanto, a certeza sobre o lado para que eles tenderiam no caso de poderem formar maioria à direita ou à esquerda. Mesmo o CDS, que conhecem bem, mal acabou a contagem dos votos disse, estranhamente, que estava disponível para falar com uns ou com outros.
Agora, para as legislativas nacionais, a questão não se põe. A geringonça já é conhecida a nível nacional e os portugueses que gostavam de ter um governo de centro-direita sabem que é indiferente votar em qualquer um dos quatro ou cinco partidos que se apresentam à votação porque o que importa é a soma de lugares no Parlamento e não tanto o ficar em primeiro.
Teria sido útil o centro-direita unir-se todo, como agora as lideranças de partidos desta área por vezes reconhecem. Face às sondagens que se iam conhecendo, tornava-se óbvio que, para derrotar a frente de esquerda, era importante gerar essa dinâmica de uma coligação politicamente assumida. Não quiseram e, agora, das duas uma: ou voltamos a ter um acordo do PS com os partidos à sua esquerda, uma vez acabada a peça de teatro que levaram a cena durante esta campanha eleitoral, ou então um acordo do PS com um partido à sua direita, seguramente o PSD.
Muitas vezes as pessoas votam, mais ou menos distraídas, e mais tarde, perante a evolução dos acontecimentos, vêm dizer que não sabiam, que não esperavam que fosse assim. A meu ver, está tudo claro que nem água, e o debate radiofónico entre os líderes dos dois maiores partidos, na passada segunda-feira, ajudou a tornar mais claro o quadro existente. Noutro debate, ocorrido esta semana, tomámos conhecimento do ponto a que chega a encenação em política, a propósito da noite eleitoral das legislativas 2015. Aí, muitos foram enganados porque não sabiam o que se iria seguir. Dessa vez foram enganados os que votaram PS. Oxalá, que desta vez, ninguém seja enganado ao votar noutro partido que não o PS. À cautela, é melhor o voto ser confiado a quem não dá margem a equívocos.
Advogado