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Miguel Pina e Cunha - Professor 02 de Novembro de 2016 às 19:20

Lições de Dylan para gestores

A atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylan causou algum "frisson". Este colunista gostou - poderia ter sido Leonard Cohen e teria gostado na mesma. Mas Dylan tem mais do que canções e poesia.

Todos podemos aprender com ele. Eis um elenco de possibilidades inspiracionais para executivos.

 

Descobrir o norte interior. Bill George, professor em Harvard e ex-CEO da Medtronic, escreveu sobre a importância de cada um descobrir o seu norte interior. Dylan parece ser um homem com um norte interior, uma missão. Um norte interior, presume-se não é só subir e acumular mais poder ou mais dinheiro. É saber o que se quer fazer com esse poder. Esse norte parece ter sido pouco claro em muitos casos - o que talvez ajude a explicar certos processos de "hubris" mal direcionada.

 

A contribuição não se mede em popularidade. Dylan é popular. Mas não parece ter sido movido pelo desejo de popularidade. A sua arte parece vir de dentro. A arte de um líder também pode vir de dentro, de um sentido de missão. E da diferença: Dylan é diferente. Ouve-se a sua voz e é Dylan. Compete-nos descobrir a nossa própria voz naquilo que fazemos.

 

É preciso agitar as águas. Dylan reinventou-se várias vezes. No processo irritou os seus fiéis mais puristas. Mas é possível que esses, hoje, se lhe sintam mais gratos do que se lhes tivesse procurado agradar. Quando resolveu eletrificar a sua música, cometeu sacrilégio. Se não o tivesse feito, poderia não ser mais do que o sacerdote de um nicho de fundamentalistas folk, em vez de um músico universal.

 

Desafiar os pressupostos. A mudança não foi apenas superficial. Dylan mudou os seus pressupostos. Desafiou-se a si mesmo e no processo conduziu os seus admiradores. Perdeu alguns seguidores, ganhou outros, mas nunca se deixou cair na irrelevância. Quem, nas artes ou nas empresas, faz sempre o mesmo arrisca-se a ser coerente, mas irrelevante.        

 

Manter a coerência de forma incoerente. Dylan foi coerente na incoerência. Ser coerente implica sermos verdadeiros para nós mesmos, mas não fazermos sempre o mesmo. Implica manter a identidade. Dylan manteve-se incontactável depois do Nobel. Foi coerente. A sua atitude é, hoje, igual às dos anos sessenta.            

 

Falhar é estético. Tendemos a considerar a perfeição estética. Mas há estética na imperfeição. Dylan mostra-o. Legou clássicos e gravou discos esquecíveis. Falhou e caiu. Mas levantou-se. O mesmo acontece a todos - indivíduos e empresas. As nossas quedas tornam o percurso mais interessante e humano. Desde que sirvam para aprender - e com Dylan aprende-se.

 

Professor na Nova School of Business and Economics

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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