Opinião
Notas da semana de Marques Mendes com o balanço do ano
A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC, onde é feito um balanço do ano.
BALANÇO DO ANO
- Política
a) Figura do Ano – Marcelo Rebelo de Sousa
b) Acontecimento do Ano – Estabilidade da geringonça
- Economia
a) Figura do Ano – António Domingues
b) Acontecimento do Ano – Web Summit
- Desporto
a) Figura do Ano – Cristiano Ronaldo
b) Acontecimento do Ano – Portugal campeão europeu
- Internacional
a) Figura do Ano – Donald Trump
b) Acontecimento do Ano – Eleição de António Guterres
- Cultura
a) Figura do Ano – Museu Nacional de Arte Antiga
b) Acontecimento do Ano – Mirós em Serralves
POLÍTICA
- Figura do Ano – Marcelo Rebelo de Sousa
- Ganhou as Presidenciais de forma atípica (sem máquina partidária e sem grandes gastos).
- Granjeou uma popularidade invulgar (acima dos valores dos ex-Presidentes no mesmo período).
- É o Presidente mais interventivo de sempre. Uma intervenção que os portugueses apreciam. Na última sondagem do Expresso dizem que o PR está a exercer bem os seus poderes.
- E teve um enorme mérito. Descrispou o ambiente. Desanuviou a atmosfera política. Fez com que o país vivesse em clima de acalmia e estabilidade política.
- E pode bater o record de Soares na sua reeleição daqui a 4 anos.
- Acontecimento do Ano – Estabilidade da geringonça
- Um governo que estava para durar 1 ano prepara-se para governar 4. É o mais provável.
- Tem feito quase tudo ao contrário do que o PS prometeu em campanha, mas sempre a subir nas sondagens.
- Bem na redução do défice; bem no sistema financeiro; mas muito aquém do desejável no crescimento da economia. O seu calcanhar de Aquiles.
- António Costa perdeu eleições há um ano. Um ano depois ganha em todos os tabuleiros – na sua popularidade e na do PS; no controle da geringonça; e nos problemas que já criou à oposição.
- Outro caso de estudo.
ECONOMIA
- Figura do Ano – António Domingues
- Há um ano era um ilustre desconhecido. Um ano depois todos os portugueses sabem o seu nome e conhecem a sua cara.
- A Caixa foi o caso do ano e Domingues esteve no seu melhor e no seu pior.
- O melhor que foi a decisão sobre a recapitalização. Um sucesso para o qual Domingues muito contribuiu.
- O pior foram as várias trapalhadas em que se envolveu ou deixou envolver e que levaram à sua demissão.
- Fim da história: foi aldrabado pelo Governo mas não sai zangado com o Governo. É obra!
- Acontecimento do Ano – Web Summit
- Foi um grande evento nacional com enorme repercussão internacional.
- Bom para colocar Portugal no caminho da modernidade, da revolução tecnológica, dos investidores do futuro.
- E muito bom quer para a imagem do país, quer para o turismo nacional, que voltou a ter em 2016 um ano de luxo.
- Temos todas as condições para vencer nesta revolução tecnológica: esta revolução, ao contrário das anteriores, não requer nem capital intensivo, nem grandes recursos materiais (petróleo ou gás).
- Precisamos, sim, de vontade, sensibilidade e empenho. E este evento é um bom contributo.
DESPORTO
- Figura do Ano – Cristiano Ronaldo
- Um ano de luxo para Ronaldo – Vence a Liga dos Campeões. Vence o Campeonato Europeu. Vence a 4ª Bola de Ouro.
- E prepara-se para vencer já em Janeiro o Prémio da Fifa para melhor jogador do mundo.
- Bom para Ronaldo que é um atleta exemplar. E excelente para a imagem de Portugal no exterior.
Acontecimento do Ano – Portugal campeão europeu
- Este é o acontecimento do ano. Da década. E sabe-se lá se não será do século inteiro.
- Portugal nunca tinha conseguido um título internacional desta envergadura. E não vai ser fácil repetir.
- Esta façanha notável tem um protagonista maior: Fernando Santos. Foi o grande obreiro deste feito heroico e patriótico. Conciliou humildade com competência e grande capacidade de resistência.
- O país só lhe pode estar grato.
INTERNACIONAL
- Figura do Ano – Donald Trump
- Goste-se ou não se goste de Donald Trump (e eu não gosto), a verdade é que a sua eleição é o caso do ano. Muito mais que o Brexit.
- Contra as previsões, ganhou as Primárias republicanas. Contra as previsões, ganhou a eleição e tornou-se Presidente. Em várias ocasiões parecia politicamente morto e voltou sempre a renascer das cinzas.
- Ninguém sabe o que vai ser a sua presidência. No plano interno e no plano externo. E as escolhas para a nova Administração não auguram nada de bom.
- Mas uma coisa é certa: num tempo de grave incerteza no mundo, os americanos acrescentaram incerteza à incerteza já existente. Não é, para começar, um grande contributo.
- Acontecimento do Ano – Eleição de António Guterres
- No mundo inteiro ninguém vaticinava há um ano que o Secretário-Geral da ONU pudesse ser um português. E mesmo em Portugal eram mais os cépticos que os crentes dessa ideia.
- Mas António Guterres desafiou, impôs-se e ganhou.
- Desafiou as regras do politicamente correcto, que apontavam para a escolha de uma mulher e do leste europeu.
- Impôs a sua qualidade pessoal e a sua superioridade política e diplomática.
- E ganhou, quer a eleição, quer o respeito da comunidade internacional.
CULTURA
- Figura do Ano – Museu Nacional de Arte Antiga
- O Museu Nacional de Arte Antiga revelou em 2016 uma capacidade invulgar e inédita em Portugal. A capacidade de gerar, durante 6 meses, uma grande campanha da sociedade civil para mobilizar fundos com vista à aquisição de uma grande obra do pintor português Domingos Sequeira – "A Adoração dos Magos".
- Foi um grande momento de afirmação da sociedade civil portuguesa. Um momento de vitalidade que surpreendeu mesmo os mais cépticos. A cultura nacional ficou mais rica. E o país deu um grande exemplo a si próprio. Sobretudo num país em que tudo parece depender do Estado e só do Estado.
- Acontecimento do Ano – Mirós em Serralves
- Acabou em 2016 uma novela que começou 3 anos antes. Os Mirós, que o Estado herdou do grande pintor surrealista catalão, ficam ou não ficam em Portugal? São ou não são vendidos?
- Acabaram por ficar em Portugal. Foi uma boa opção. Opção que eu pessoalmente já antes havia defendido.
- E a ideia de Serralves outra boa escolha. Em homenagem ao norte do país e em homenagem a Serralves, que é hoje uma instituição de referência e prestígio em Portugal e fora de Portugal.
PSD APOIA CRISTAS?
- O que veio a público (a ideia de o PSD apoiar Cristas) é apenas uma parte da narrativa. Falta a outra parte. O que o PSD equaciona negociar são duas coisas e não apenas uma:
a) Apoiar Assunção Cristas em Lisboa;
b) Com a contrapartida de o CDS desistir do apoio a Rui Moreira no Porto e apoiar um candidato próprio do PSD.
c) Tenho sérias dúvidas que a negociação com estes dois objectivos tenha pés para andar. O CDS está numa posição confortável. Nunca vai ceder no apoio a Rui Moreira no Porto. E, se o PSD mesmo assim apoiar Cristas, tem de o fazer sem contrapartidas
- Se se confirmar o apoio à líder do CDS em Lisboa, esta solução será má para ambas as partes.
a) Má para Passos – Nesta altura do campeonato, apoiar Cristas, sem mais, é uma atitude de rendição. De falta de comparência. Dir-se-á que só faz isto porque não tem candidato. Ou seja, exibe fraqueza externa e cria divisão interna
b) Má para Cristas – Ela não quer ganhar e ser Presidente da Câmara. O que quer é contar votos e mostrar que vale mais do que vale habitualmente o CDS. Com o apoio do PSD tudo muda. Se ganhar, dir-se-á que se deve ao PSD e não ao seu mérito. Se perder será criticada porque, com o apoio do PSD, tem obrigação de ganhar. E já não faz a contagem de votos que lhe interessa.
c) Em conclusão, um presente envenenado para os dois.
A IDEIA DE RUI RIO
- Rui Rio fez declarações a lançar para o debate público a ideia de rearranjo fiscal – baixavam-se o IVA, IRS e IRC e criava-se um imposto de igual valor para pagar os juros da dívida.
a) Enquanto medida a tomar não faz muito sentido. Tem mais desvantagens do que vantagens. Ele próprio, Rui Rio, até avançou com algumas das desvantagens;
b) Enquanto ideia para o debate da transparência fiscal e financeira é útil. Tem o grande mérito de chamar a atenção para o problema da dívida e indirectamente do défice e do excesso de despesa pública. E esse mérito é indiscutível.
- Nesse sentido, quer Vítor Bento quer Paulo Ferreira, no ECO, aproveitaram o debate que se seguiu para fazerem uma sugestão concreta que eu próprio também já fiz aqui há um ano.
- O Estado devia dizer a cada português, ano a ano, para onde vão os impostos que paga – x para a educação, x para a saúde, x para pensões de reforma, x para pagar os juros da dívida.
- Como se faz, por exemplo, no Reino Unido.
- Este é o mérito do debate lançado.
AGITAÇÃO NA BANCA
Terminámos 2015 com agitação na Banca (Banif). Agora, terminamos 2016 com nova agitação. Três casos:
- Agitação no BCP – A saída do Sabadell foi a notícia inesperada. Sobretudo na forma deselegante como sucedeu. O BCP merecia outro comportamento.
- Agitação no Haitong, com a saída de Ricciardi.
- Ricciardi era uma mais-valia do Banco. Foi de resto quem "trouxe" o Haitong para Portugal. No momento em que tomou a iniciativa de sair, é um rombo para o Banco.
- O problema não é tanto para ele. Ou vai dirigir um Banco no estrangeiro; ou vai liderar um projecto nacional; ou investir e dirigir um novo projecto financeiro. Convites não lhe faltam.
- O problema é mesmo para o Banco que tem sido o grande banco de investimento português.
- Agitação, sobretudo, no Novo Banco – Confirma-se que os chineses têm a proposta financeira mais forte. E que em segundo lugar estará o Fundo Lone Star. Só que os chineses estão com dificuldade para apresentar garantias ou em transferir em tempo útil o dinheiro respectivo da China para Portugal.
- Isto pode fazer adiar o processo de venda; ou vender ao segundo classificado, o que não é brilhante, porque o Lone Star exige garantias da parte do Estado; ou, no limite, não fazer a venda obrigará à liquidação do Banco, o que seria um desastre. Os chineses vão estar cá esta semana, oxalá se resolva.
PREVISÕES DO BANCO DE PORTUGAL
- O Banco de Portugal fez esta semana previsões de crescimento da economia até 2019. O que se constata:
a) Segundo as previsões, Portugal crescerá no máximo 1,5% ao ano. Nunca acima desse valor.
b) Ou seja, em nenhum ano de toda a legislatura (2016/2019) Portugal crescerá sequer ao nível de 2015 (1,6%).
- Conclusões – Se estas previsões se se confirmarem:
a) É um problema económico para o país. São mais quatro anos a divergir da Europa. São mais quatro anos de crescimento anémico.
b) É um problema político para António Costa. Como é que ele vai explicar aos portugueses que em 4 anos de mandato cresce ainda menos do que Passos Coelho no governo anterior?
O NEGÓCIO DO SANGUE
- Esta investigação prova duas coisas:
a) Primeiro: prova que as instituições da justiça funcionam. Neste caso, o MP e a Polícia Judiciária. E que o combate à corrupção é hoje uma prioridade a sério. O que é uma boa notícia para o Estado de direito e para a confiança das pessoas nas instituições;
b) Segundo: a confirmarem-se as suspeitas conhecidas, prova-se estarmos perante um caso chocante. Nem o sangue escapa ao mundo dos negócios e dos comportamentos ilícitos e ilegais. Choca qualquer cidadão.
- Finalmente, uma dúvida nos assola o espírito: se alegadamente tudo isto vem de 1999, tendo passado por vários governos, como é possível que tudo isto suceda sem que nenhum responsável político alguma vez se tenha apercebido de nada?
- Faz muita confusão. Esperemos que no futuro haja respostas para estas dúvidas.
- O país agradece.