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18 de Dezembro de 2016 às 21:09

Notas da semana de Marques Mendes com o balanço do ano

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC, onde é feito um balanço do ano.

  • ...

BALANÇO DO ANO

 

  1.     Política

a)    Figura do AnoMarcelo Rebelo de Sousa

b)    Acontecimento do AnoEstabilidade da geringonça

 

  1.     Economia

a)    Figura do AnoAntónio Domingues

b)    Acontecimento do Ano – Web Summit

 

  1.     Desporto

a)    Figura do AnoCristiano Ronaldo

b)    Acontecimento do AnoPortugal campeão europeu

 

  1.     Internacional

a)    Figura do AnoDonald Trump

b)    Acontecimento do AnoEleição de António Guterres

 

  1.     Cultura

a)    Figura do AnoMuseu Nacional de Arte Antiga

b)    Acontecimento do AnoMirós em Serralves

 

  

POLÍTICA

 

  1.     Figura do AnoMarcelo Rebelo de Sousa
  •        Ganhou as Presidenciais de forma atípica (sem máquina partidária e sem grandes gastos).
  •        Granjeou uma popularidade invulgar (acima dos valores dos ex-Presidentes no mesmo período).
  •        É o Presidente mais interventivo de sempre. Uma intervenção que os portugueses apreciam. Na última sondagem do Expresso dizem que o PR está a exercer bem os seus poderes.
  •        E teve um enorme mérito. Descrispou o ambiente. Desanuviou a atmosfera política. Fez com que o país vivesse em clima de acalmia e estabilidade política.
  •        E pode bater o record de Soares na sua reeleição daqui a 4 anos.

 

  1.     Acontecimento do AnoEstabilidade da geringonça
  •        Um governo que estava para durar 1 ano prepara-se para governar 4. É o mais provável.
  •        Tem feito quase tudo ao contrário do que o PS prometeu em campanha, mas sempre a subir nas sondagens.
  •        Bem na redução do défice; bem no sistema financeiro; mas muito aquém do desejável no crescimento da economia. O seu calcanhar de Aquiles.
  •        António Costa perdeu eleições há um ano. Um ano depois ganha em todos os tabuleiros – na sua popularidade e na do PS; no controle da geringonça; e nos problemas que já criou à oposição.
  •        Outro caso de estudo. 

 

ECONOMIA

 

  1.     Figura do AnoAntónio Domingues
  •        Há um ano era um ilustre desconhecido. Um ano depois todos os portugueses sabem o seu nome e conhecem a sua cara.
  •        A Caixa foi o caso do ano e Domingues esteve no seu melhor e no seu pior.
  •        O melhor que foi a decisão sobre a recapitalização. Um sucesso para o qual Domingues muito contribuiu.
  •        O pior foram as várias trapalhadas em que se envolveu ou deixou envolver e que levaram à sua demissão.
  •        Fim da história: foi aldrabado pelo Governo mas não sai zangado com o Governo. É obra!

 

  1.     Acontecimento do AnoWeb Summit
  •        Foi um grande evento nacional com enorme repercussão internacional.
  •        Bom para colocar Portugal no caminho da modernidade, da revolução tecnológica, dos investidores do futuro.
  •        E muito bom quer para a imagem do país, quer para o turismo nacional, que voltou a ter em 2016 um ano de luxo.
  •        Temos todas as condições para vencer nesta revolução tecnológica: esta revolução, ao contrário das anteriores, não requer nem capital intensivo, nem grandes recursos materiais (petróleo ou gás).
  •        Precisamos, sim, de vontade, sensibilidade e empenho. E este evento é um bom contributo.

  

DESPORTO

 

  1.     Figura do AnoCristiano Ronaldo
  •        Um ano de luxo para Ronaldo – Vence a Liga dos Campeões. Vence o Campeonato Europeu. Vence a 4ª Bola de Ouro.
  •        E prepara-se para vencer já em Janeiro o Prémio da Fifa para melhor jogador do mundo.
  •        Bom para Ronaldo que é um atleta exemplar. E excelente para a imagem de Portugal no exterior.

 
    Acontecimento do AnoPortugal campeão europeu

  •        Este é o acontecimento do ano. Da década. E sabe-se lá se não será do século inteiro.
  •        Portugal nunca tinha conseguido um título internacional desta envergadura. E não vai ser fácil repetir.
  •        Esta façanha notável tem um protagonista maior: Fernando Santos. Foi o grande obreiro deste feito heroico e patriótico. Conciliou humildade com competência e grande capacidade de resistência.
  •        O país só lhe pode estar grato.

  

INTERNACIONAL

 

  1.     Figura do AnoDonald Trump
  •        Goste-se ou não se goste de Donald Trump (e eu não gosto), a verdade é que a sua eleição é o caso do ano. Muito mais que o Brexit.
  •        Contra as previsões, ganhou as Primárias republicanas. Contra as previsões, ganhou a eleição e tornou-se Presidente. Em várias ocasiões parecia politicamente morto e voltou sempre a renascer das cinzas.
  •        Ninguém sabe o que vai ser a sua presidência. No plano interno e no plano externo. E as escolhas para a nova Administração não auguram nada de bom.
  •        Mas uma coisa é certa: num tempo de grave incerteza no mundo, os americanos acrescentaram incerteza à incerteza já existente. Não é, para começar, um grande contributo.

 

  1.     Acontecimento do AnoEleição de António Guterres
  •        No mundo inteiro ninguém vaticinava há um ano que o Secretário-Geral da ONU pudesse ser um português. E mesmo em Portugal eram mais os cépticos que os crentes dessa ideia.
  •        Mas António Guterres desafiou, impôs-se e ganhou.
  •        Desafiou as regras do politicamente correcto, que apontavam para a escolha de uma mulher e do leste europeu.
  •        Impôs a sua qualidade pessoal e a sua superioridade política e diplomática.
  •        E ganhou, quer a eleição, quer o respeito da comunidade internacional.

  

CULTURA

 

  1.     Figura do AnoMuseu Nacional de Arte Antiga
  •        O Museu Nacional de Arte Antiga revelou em 2016 uma capacidade invulgar e inédita em Portugal. A capacidade de gerar, durante 6 meses, uma grande campanha da sociedade civil para mobilizar fundos com vista à aquisição de uma grande obra do pintor português Domingos Sequeira"A Adoração dos Magos".
  •        Foi um grande momento de afirmação da sociedade civil portuguesa. Um momento de vitalidade que surpreendeu mesmo os mais cépticos. A cultura nacional ficou mais rica. E o país deu um grande exemplo a si próprio. Sobretudo num país em que tudo parece depender do Estado e só do Estado.

 

  1.     Acontecimento do AnoMirós em Serralves
  •        Acabou em 2016 uma novela que começou 3 anos antes. Os Mirós, que o Estado herdou do grande pintor surrealista catalão, ficam ou não ficam em Portugal? São ou não são vendidos?
  •        Acabaram por ficar em Portugal. Foi uma boa opção. Opção que eu pessoalmente já antes havia defendido.
  •        E a ideia de Serralves outra boa escolha. Em homenagem ao norte do país e em homenagem a Serralves, que é hoje uma instituição de referência e prestígio em Portugal e fora de Portugal.

 
PSD APOIA CRISTAS?

 

  1.      O que veio a público (a ideia de o PSD apoiar Cristas) é apenas uma parte da narrativa. Falta a outra parte. O que o PSD equaciona negociar são duas coisas e não apenas uma:

a)     Apoiar Assunção Cristas em Lisboa;

b)     Com a contrapartida de o CDS desistir do apoio a Rui Moreira no Porto e apoiar um candidato próprio do PSD.

c)      Tenho sérias dúvidas que a negociação com estes dois objectivos tenha pés para andar. O CDS está numa posição confortável. Nunca vai ceder no apoio a Rui Moreira no Porto. E, se o PSD mesmo assim apoiar Cristas, tem de o fazer sem contrapartidas

 

  1.      Se se confirmar o apoio à líder do CDS em Lisboa, esta solução será má para ambas as partes.

a)     Má para Passos – Nesta altura do campeonato, apoiar Cristas, sem mais, é uma atitude de rendição. De falta de comparência. Dir-se-á que só faz isto porque não tem candidato. Ou seja, exibe fraqueza externa e cria divisão interna

b)     Má para CristasEla não quer ganhar e ser Presidente da Câmara. O que quer é contar votos e mostrar que vale mais do que vale habitualmente o CDS. Com o apoio do PSD tudo muda. Se ganhar, dir-se-á que se deve ao PSD e não ao seu mérito. Se perder será criticada porque, com o apoio do PSD, tem obrigação de ganhar. E já não faz a contagem de votos que lhe interessa.

c)      Em conclusão, um presente envenenado para os dois.

 

 

A IDEIA DE RUI RIO

 

  1.      Rui Rio fez declarações a lançar para o debate público a ideia de rearranjo fiscal – baixavam-se o IVA, IRS e IRC e criava-se um imposto de igual valor para pagar os juros da dívida.

a)     Enquanto medida a tomar não faz muito sentido. Tem mais desvantagens do que vantagens. Ele próprio, Rui Rio, até avançou com algumas das desvantagens;

b)     Enquanto ideia para o debate da transparência fiscal e financeira é útil. Tem o grande mérito de chamar a atenção para o problema da dívida e indirectamente do défice e do excesso de despesa pública. E esse mérito é indiscutível.

 

  1.       Nesse sentido, quer Vítor Bento quer Paulo Ferreira, no ECO, aproveitaram o debate que se seguiu para fazerem uma sugestão concreta que eu próprio também já fiz aqui há um ano.
  •        O Estado devia dizer a cada português, ano a ano, para onde vão os impostos que paga – x para a educação, x para a saúde, x para pensões de reforma, x para pagar os juros da dívida.
  •        Como se faz, por exemplo, no Reino Unido.
  •        Este é o mérito do debate lançado.

  

 

AGITAÇÃO NA BANCA

 

Terminámos 2015 com agitação na Banca (Banif). Agora, terminamos 2016 com nova agitação. Três casos:

 

  1.      Agitação no BCPA saída do Sabadell foi a notícia inesperada. Sobretudo na forma deselegante como sucedeu. O BCP merecia outro comportamento. 
  1.      Agitação no Haitong, com a saída de Ricciardi.
  •        Ricciardi era uma mais-valia do Banco. Foi de resto quem "trouxe" o Haitong para Portugal. No momento em que tomou a iniciativa de sair, é um rombo para o Banco.
  •        O problema não é tanto para ele. Ou vai dirigir um Banco no estrangeiro; ou vai liderar um projecto nacional; ou investir e dirigir um novo projecto financeiro. Convites não lhe faltam.
  •        O problema é mesmo para o Banco que tem sido o grande banco de investimento português.

 

  1.      Agitação, sobretudo, no Novo BancoConfirma-se que os chineses têm a proposta financeira mais forte. E que em segundo lugar estará o Fundo Lone Star. Só que os chineses estão com dificuldade para apresentar garantias ou em transferir em tempo útil o dinheiro respectivo da China para Portugal.
  •        Isto pode fazer adiar o processo de venda; ou vender ao segundo classificado, o que não é brilhante, porque o Lone Star exige garantias da parte do Estado; ou, no limite, não fazer a venda obrigará à liquidação do Banco, o que seria um desastre. Os chineses vão estar cá esta semana, oxalá se resolva.

  

PREVISÕES DO BANCO DE PORTUGAL

 

  1.      O Banco de Portugal fez esta semana previsões de crescimento da economia até 2019. O que se constata:

a)     Segundo as previsões, Portugal crescerá no máximo 1,5% ao ano. Nunca acima desse valor.

b)     Ou seja, em nenhum ano de toda a legislatura (2016/2019) Portugal crescerá sequer ao nível de 2015 (1,6%).

 

  1.      Conclusões – Se estas previsões se se confirmarem:

a)     É um problema económico para o país. São mais quatro anos a divergir da Europa. São mais quatro anos de crescimento anémico.

b)     É um problema político para António Costa. Como é que ele vai explicar aos portugueses que em 4 anos de mandato cresce ainda menos do que Passos Coelho no governo anterior?

O NEGÓCIO DO SANGUE

 

  1.      Esta investigação prova duas coisas:

a)     Primeiro: prova que as instituições da justiça funcionam. Neste caso, o MP e a Polícia Judiciária. E que o combate à corrupção é hoje uma prioridade a sério. O que é uma boa notícia para o Estado de direito e para a confiança das pessoas nas instituições;

b)     Segundo: a confirmarem-se as suspeitas conhecidas, prova-se estarmos perante um caso chocante. Nem o sangue escapa ao mundo dos negócios e dos comportamentos ilícitos e ilegais. Choca qualquer cidadão.

 

  1.      Finalmente, uma dúvida nos assola o espírito: se alegadamente tudo isto vem de 1999, tendo passado por vários governos, como é possível que tudo isto suceda sem que nenhum responsável político alguma vez se tenha apercebido de nada?
  •        Faz muita confusão. Esperemos que no futuro haja respostas para estas dúvidas.
  •        O país agradece.

 

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