Opinião
Marques Mendes: Vieira não voltará a ser presidente do Benfica
No seu habitual comentário semanal na SIC Notícias, Marques Mendes analisa a detenção de Luís Filipe Vieira, a pandemia e a vacinação, entre outros temas.
A DETENÇÃO DE LUÍS FILIPE VIEIRA
- Mudanças positivas: há aqui duas mudanças positivas no Mº Pº:
- Primeira: a investigação aos grandes devedores à Banca. Até agora, havia a sensação de que a justiça fechava os olhos a esta gente e não investigava. Agora, aparentemente, tudo mudou. Foi Berardo. Agora é Vieira. E outros podem vir a seguir. É uma mudança positiva. Há "buracos" a mais na Banca. Tem de haver responsabilidades e responsáveis.
- Segunda: a investigação aos grandes dirigentes do futebol. Até agora, a ideia que havia é que eram "vacas sagradas". Ou nada lhes acontecia ou só eram "chamados à pedra" depois de terminarem os mandatos. Aparentemente, tudo mudou. Ainda bem. O futebol não pode continuar impune. São negociatas a mais, intermediários a mais, suspeitas a mais.
- Luís Filipe Vieira não voltará a ser Presidente do Benfica. Esta é a minha convicção. Vieira não está ainda acusado. Muito menos condenado. Está apenas a ser investigado. No final, o Tribunal decidirá. Mas nunca mais terá condições para voltar à Presidência do Benfica. O ciclo Vieira acabou. Porquê?
- Num certo sentido, o caso Vieira é igual ao caso Sócrates. Os factos que já se conhecem, sendo ou não sendo crime, são factos que lhes retiram, a um e a outro, idoneidade e credibilidade para o exercício de altas funções. Podem ser ou não ser factos ilegais. Mas são imorais.
- Sócrates vivia num regime de promiscuidade e dependência com um lobista de negócios. Alguém assim não pode ser PM. Vieira é muito igual: conflitos de interesses, promiscuidade entre vida profissional e desportiva, uso de dinheiro do clube para proveito pessoal. Alguém assim não pode ser Presidente do Benfica Se um e outro vão ser judicialmente condenados ninguém sabe. Mas ambos estão já condenados ao nível da idoneidade e da credibilidade.
- A urgência de separar política do futebol. Há meses, António Costa, Medina, deputados e autarcas, de vários partidos, apoiaram a recandidatura de Vieira. Isto aconteceu no Benfica, mas o mesmo sucede noutros clubes. Há anos que digo que esta ligação política/futebol é má. Gera suspeitas, promiscuidades, conflitos de interesses. Espero que a partir de agora os políticos aprendam a lição. Quem tem cargos políticos não deve envolver-se em cargos no futebol. O dirigismo futebolístico é um activo tóxico. Carece de cordão sanitário.
- Finalmente, um alerta e uma crítica. Um alerta: para condenar alguém é preciso provas. Espera-se que o MP não repita agora o péssimo exemplo de Tancos. Depois, a critica. Goste-se ou não se goste de Berardo, Vieira, Bruno de Carvalho ou seja quem for, não é admissível que um arguido esteja detido, e passe duas ou três noites na prisão, à espera de interrogatório. Isto não é justiça. É humilhação e enxovalho. Não pode acontecer.
A "ABSOLVIÇÃO" DE AZEREDO LOPES
- No caso Tancos, mesmo no fim do julgamento, houve uma reviravolta brutal: há dois anos, o Mº Pº pedia a condenação do ex-Ministro Azeredo Lopes; dois anos depois, pede a sua absolvição. No entretanto, queimou-o na praça pública. Nada disto é inédito. Mas é inqualificável.
- Primeiro: é uma derrota pesada do Mº Pº. Aqui o Mº Pº fez um mau Fez uma acusação e muito show off mediático. Mas não tinha provas. Chegou a Tribunal e perdeu. E teve de confessar a sua derrota.
- Segundo: tudo isto tem consequências: o PS foi afectado na última campanha eleitoral de 2019 pela "bomba" que foi esta acusação falhada do Mº Pº. O ex- Ministro Azeredo Lopes passou as pássaras do Algarve durante dois anos com esta acusação sem solidez. Como diz o seu advogado Germano Marques da Silva, "quem repara agora este sofrimento"?
- Estou particularmente à vontade para fazer esta critica: primeiro, porque sempre tenho apoiado o Mº Pº. Depois porque acho que Azeredo Lopes não só não foi um bom Ministro da Defesa como teve várias falhas políticas no caso Tancos. Mas uma coisa são falhas políticas. Coisa diferente são crimes. E o dever do MP não é fazer julgamentos políticos. É fazer julgamentos nos Tribunais. Com provas e não com narrativas.
A PANDEMIA
- Há uma semana, critiquei a confusão no combate à pandemia. Uma semana depois, a situação piorou. Agora, é confusão e desorientação. Vejamos:
- Cerca sanitária na Grande Lisboa aos fins de semana. Um completo fiasco. Começou, acabou e não serviu para nada. O Governo andou aos bonés.
- Restaurantes nos concelhos de risco. Antes tinham á noite. Agora podem abrir, desde que os clientes estejam vacinados ou testados. Por que é que estamos sempre a mudar de regras? Assim, os restaurantes não cumprem!
- Empregados de restaurantes a fazerem de enfermeiros. Segundo o Governo, os clientes podem fazer auto-teste nos restaurantes, perante os seus empregados. Isto é de gargalhada.. Então os empregados de restaurantes viraram enfermeiros e agentes de saúde pública?
- Bares e discotecas. Continuam fechados. Ou seja: em pleno Verão os jovens confraternizam em ajuntamentos "selvagens", sem regras sanitárias. Por que é que a regra dos restaurantes não se aplica também aos bares e discotecas? É melhor abrir com regras do que proibir sem eficácia!
- Finalmente, o recolher obrigatório das 23 às 5 da manhã. Outra medida ineficaz. Percebe-se a intenção: evitar que os jovens se juntem nas ruas. A verdade, porém, é que não se juntam na rua mas juntam-se em recintos fechados, que ninguém fiscaliza. Pior a emenda que o soneto.
- Confusão e desorientação percebia-se na primeira e na segunda vaga. Era tudo novo, incerto e imprevisível. Agora estamos na quarta vaga e o grau de confusão, trapalhada e desorientação nunca foi tão grande. Isto já não é um problema de saúde. É um problema político: falta de liderança e de visão. No inicio, o combate á pandemia deu popularidade ao governo. Agora dá-lhe desgaste.
- Finalmente: esta quarta vaga tem consequências diferentes das anteriores. No espaço de um mês, o número de novos casos quase triplicou; mas o número de internados nem sequer duplicou. A solução não é confinar. É vacinar.
A VACINAÇÃO
- Primeiro apontamento – O que sucedeu na ùltima semana é notável: um milhão de doses administradas. Um esforço logístico e humano brutal. Um record absoluto. Chegaremos em duas semanas a um milhão e setecentas mil doses. E não vamos mais longe porque não há mais vacinas disponíveis.
- Segundo apontamento – O estado da arte:
- Temos 10,3 milhões de doses administradas; 60% da população com pelo 1 dose; 43% com vacinação completa.
- A população de risco, acima dos 60 anos, está protegida. A vacinação nos mais de 60 anos está acima dos 96%. A população mais jovem já está em fase adiantada de vacinação: entre 50 e 59 anos, 88%; entre os 40 e os 49, 77%; entre 30 e 39 anos, 50%.
- Segunda dose da AstraZeneca, para pessoas acima dos 60 anos – Havia a 20 de Junho 776 mil pessoas à espera da segunda dose. Já só falta vacinar 217 mil. Foram antecipadas 550 mil vacinas.
- Infetados com Covid 19 – Segundo as regras, devem tomar uma dose apenas, depois de volvidos seis meses sobre a infeção. Como estamos? Dos 752 mil infetados que estão elegíveis para vacinação, 262 mil já estão vacinados e 38 mil já têm a sua vacinação agendada.
- Duas novidades para o futuro:
- Primeira: doentes com Covid 19. Até agora, os doentes com Covid tomam apenas uma dose da vacina, mas só depois de volvidos 6 meses sobre a doença. Pois bem. A Task Force da Vacinação propôs à DGS que se reduza de 6 para 3 meses o prazo mínimo para tomar a vacina nas pessoas com mais de 60 anos.
- Há vacinas disponíveis; (AstraZeneca);
- Não há qualquer problema para a saúde;
- Dá maior tranquilidade às pessoas.
- Segundo: os alunos em Programas Erasmus. Cerca de seis mil. Já estão a ser vacinados, com prioridade porque têm de sair para o estrangeiro. Rapazes estão a ser vacinados com a Janssen (1 dose é suficiente). As meninas com a Pfizer. Se, aquando da segunda fase, já estiverem no estrangeiro, podem completar vacinação nos destinos de origem.
A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UE
- Chegou ao fim a Presidência Portuguesa da UE. Faço um balanço positivo. Portugal tinha, à partida, duas grandes condicionantes – suceder à Presidência alemã; e fazer uma Presidência em tempo de pandemia. Não era fácil. Mas o país saiu-se francamente bem. Mérito: do PM que orientou; do MNE que coordenou; do Embaixador Nuno Brito e da sua equipe em Bruxelas que tiveram um trabalho diplomático extraordinário.
- Aspectos positivos:
- Pôr em prática a bazuca europeia (essencial para a recuperação);
- A reforma da PAC (uma surpresa de última hora);
- O Certificado Digital Covid (decidido em tempo record);
- Reconhecimento mútuo de testes na UE (um passo relevante);
- A Cimeira Social (um sinal político importante);
- A Cimeira com a Índia (uma iniciativa estratégica);
- A Lei Europeia do Clima (neutralidade carbónica em 2050);
- Mas há também aspectos negativos:
- Ausência da cimeira com África( responsabilidade da Pandemia);
- Falta de avanços no Acordo UE/Mercosul( culpa da França);
- Descoordenações no plano da pandemia( uma má imagem da EU),
- Polémica com o Procurador Europeu( um mau momento);
- A minha convicção, há muito tempo, é que o PM "sonha" com um cargo europeu, em 2024. Se o vai conseguir, ninguém sabe. Mas esta Presidência deu-lhe um pouco mais de fôlego e de paixão em torno dessa ambição.