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Luís Marques Mendes 26 de Novembro de 2023 às 21:30

Marques Mendes: "PSD dá primazia aos temas sociais. Até que enfim!"

No seu habitual espaço de opinião na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a crise política e diz que "António Costa já deve estar arrependido de ter pedido a demissão".

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O PREÇO DOS ALIMENTOS

 

  1. O país político e mediático anda entretido com as intrigas palacianas ligadas à crise política. Com isso, nem se apercebe de questões importantes para o país real. Uma dessas questões tem a ver com o preço dos alimentos.
  • Segundo dados da Deco Proteste, o preço do cabaz essencial (63 produtos) aumentou 9,6% desde setembro. Muito acima da inflação. Mais 20€ em apenas dois meses.
  • Só nesta semana, há uma boa quantidade de produtos que aumentaram significativamente de preço (um aumento acima de 10%).
  • E com o fim do IVA 0 em janeiro de 2024, é provável que o cabaz alimentar essencial volte a aumentar. Um novo problema para as famílias.
  • Quais são as razões que explicam esta nova subida de preços? Os Ministérios da Economia e da Agricultura têm o dever de explicar. Isto é mesmo assim? Há outros números, designadamente da ASAE? Há uma nova tendência pela frente? As famílias precisam de informação.

 

  1. Entretanto, há novas medidas de apoio às famílias mais carenciadas para entrarem em vigor em janeiro, por alternativa ao fim do regime do IVA 0.
  • Um reforço do abono de família para um milhão de crianças. Um aumento do Complemento Solidário de Idosos para 550€/mês. Uma convergência de Rendimento Social de Inserção com a pensão social para um valor de referência de 237€/mês.
  • Serão estes apoios suficientes para fazer face á situação? Eis a dúvida.

 

 

 

 

A CRISE POLÍTICA

 

  1. Foi uma semana de enorme ruído, sobretudo centrada na campanha do PM contra o PR e contra o MP. Descontando o ruído, há três questões a reter:
  • A primeira é sobre a chamada da PGR a Belém. O PR fez bem ou mal? Fez bem. Numa crise desta gravidade, um PR não pode decidir com base em notícias e comunicados. Tem de ter confirmação pelas vias oficiais. A partir daí, saber se a PGR foi chamada por iniciativa do PR ou a pedido do PM, é acessório. Só serve para criar ruído. O essencial é que foi chamada.
  • A segunda é quanto à demissão do PM. Eu acho que António Costa já deve estar arrependido de ter pedido a demissão. Mas a verdade é que, mesmo sem o polémico parágrafo do comunicado da PGR, o PM não tinha alternativa. Buscas em S. Bento; o seu melhor amigo arguido; um Ministro sob suspeita; e o Chefe de Gabinete com dinheiro sujo escondido no gabinete; tudo isto "mata" politicamente um PM.
  • A terceira é quanto às eleições: o PM não queria eleições. Anda em desespero por isso. E ataca o PR por isso. Mas, depois da demissão do PM, o que é que havia de fazer o PR? Não tinha alternativa. Qualquer outra decisão seria incompreensível. Até pela doutrina que tinha fixado na posse do governo. Sem esquecer que em 2004, em situação similar, quando Durão Barroso se demitiu de PM, o que é que pediu o PS? Eleições antecipadas. Foi o que Marcelo acabou de fazer.

 

  1. Num tempo de tantos problemas no País, acho que os principais responsáveis se deviam concentrar mais nas questões do país real e não nas intrigas palacianas que só servem para afastar as pessoas da política e dos políticos.

 

 

 

O CONGRESSO DO PSD

 

  1. Foi um grande momento para o PSD. Depois de algumas sondagens desfavoráveis, este Congresso pode ter sido um ponto de viragem.
  • Houve efeito surpresa: a presença de Cavaco Silva, que já não ia a um Congresso há quase 30 anos. Um apoio importante na mobilização de vários sectores de eleitorado.
  • Houve efeito unidade: a intervenção de Nuno Morais Sarmento. Uma intervenção muito inteligente daquele que foi um dos mais importantes vice-presidentes de Rui Rio e é das melhores cabeças pensantes do PSD.
  • E houve, sobretudo, uma intervenção marcante de Luís Montenegro no encerramento do Congresso. A sua melhor intervenção política até hoje.

 

  1. Esta intervenção é marcante por três razões principais:
  • Primeiro, mostra alternativa e ambição. Este já não é o discurso do líder da oposição. É um discurso de candidato a PM. Tem ideias, tem propostas, tem pensamento, tem efeito mobilizador e vê-se que tem muito trabalho de retaguarda.
  • Segundo, é um discurso ao centro. Um discurso centrista, moderado e equilibrado. Porque é ao centro que se ganham eleições. E porque o PSD quer ocupar o espaço que ficará mais vago ao centro, com a possível liderança de Pedro Nuno Santos, que encosta o PS mais á esquerda.
  • Terceiro, é um discurso com forte conteúdo social. Até que enfim que o PSD dá primazia aos temas sociais. Há muitos anos que o partido não tinha propostas tão ambiciosas no domínio social. Sobretudo no que respeita aos reformados. Há anos que o PSD perdera para o PS a liderança das causas sociais. O discurso de Montenegro é um ponto de viragem. Em especial na ambição de subir as pensões mínimas por via de um ambicioso reforço do CSI. Muito útil do ponto de vista eleitoral. Sobretudo justo no combate às desigualdades sociais. Até que enfim!

AS ELEIÇÕES NO PS

 

  1. Numa semana sem grandes novidades, há três grandes destaques:
  • O primeiro é Pedro Nuno Santos a fazer a quadratura do círculo. Por um lado, a tentar "moderar" a sua imagem com mais um apoio relevante: Álvaro Beleza; por outro lado, a deixar cada vez mais claro que aposta em criar uma nova geringonça. A primeira, de António Costa, foi por conveniência para chegar ao poder. Esta, de Pedro Nuno Santos, é por convicção. Ele acredita mesmo na solução governativa da geringonça.
  • O segundo destaque é o apoio que José Luís Carneiro ontem inesperadamente recebeu. Vindo diretamente da Almada. Do Congresso do PSD. O PSD elegeu Pedro Nuno Santos como o seu adversário favorito. Isto é uma boa noticia para José Luís Carneiro. Reforça o seu discurso de que ele é o melhor para vencer o PSD.
  • O terceiro grande destaque é este mesmo: PNS dá imenso jeito ao PSD. Pedro Nuno Santos encosta mais à esquerda e deixa mais em aberto para o PSD o eleitorado moderado do centro. O que não sucederia se José Luís Carneiro fosse ou for o líder do PS. Ora isto permite ao ex-MAI puxar dos seus galões.

 

  1. Não vamos ter qualquer debate entre os dois candidatos à liderança do PS. Pedro Nuno Santos recusou-os. Infelizmente já é um hábito. Nas últimas e penúltimas eleições internas no PSD também não houve debates. Rui Rio, primeiro, e Luís Montenegro, depois, recusaram fazer debates. Mas, sendo um hábito, é um mau hábito. Enfraquece a democracia interna dos partidos. E enfraquece a democracia.

 

 

 

AS NEGOCIAÇÕES COM OS MÉDICOS

 

  1. Já aqui o dissemos várias vezes: infelizmente o SNS deixou de ser atrativo para os médicos e outros profissionais de saúde. Ontem mesmo tivemos mais uma prova eloquente. Conhecidos os resultados do concurso, para especialidades médicas, há uma conclusão preocupante:
  • Há um número elevado de vagas por preencher (407 em 2242) porque uma grande quantidade de médicos optou por não querer entrar no SNS.
  • Esta é uma tendência preocupante no SNS. Até há três anos, todas as vagas eram preenchidas. Em 2021, já houve algumas dezenas em aberto. Em 2022, cerca de uma centena. Agora, em 2023, temos o maior número de vagas de sempre por preencher. Três vezes mais que em 2022.
  • Há muitas razões que podem concorrer para esta situação: os maus salários; as deficientes condições de trabalho; a falta de especialidade adequada. Mas o mais preocupante é a tendência: uma boa parte dos médicos deixou de considerar o SNS atrativo para trabalhar. Esta é a maior prova do falhanço de 8 anos de governação na Saúde.

 

  1. No entretanto, há cerca de duas semanas, um relatório da OCDE confirma isto mesmo: os salários dos médicos em Portugal não são atrativos. Logo, os médicos fogem do SNS para o privado ou para o estrangeiro.
  • Em 23 países analisados, Portugal é, nos médicos de clínica geral, aquele em que o poder de compra dos salários mais caiu numa década (2011-2021). E nos médicos especialistas o nosso país tem a segunda maior queda.
  • Por tudo isto, fechar um acordo salarial é mais do que decisivo.

 

 

A GUERRA NO MÉDIO ORIENTE

 

  1. A pior notícia são os 16 mil civis já mortos nesta guerra, 15 mil dos quais palestinianos. É um número que já suplanta, de longe, o máximo de civis mortos em quase dois anos de guerra na Ucrânia.

 

  1. A boa notícia é o acordo para a libertação de reféns e para a concretização de alguns dias de pausa. Mesmo assim é um acordo muito frágil, como se tem visto nos atrasos relativos à sua concretização.

 

  1. A notícia realista é que não vale a pena alimentar falsas expectativas. Este acordo para a libertação de reféns não é o relançamento da via diplomática para a resolução do conflito. Nada disso. Cumprido este acordo, a guerra vai continuar até à liquidação integral do Hamas. Ainda está longe de chegar o tempo da diplomacia e da política.

 

  1. A notícia que continua a inquietar é a do risco de contágio deste conflito. O risco da sua escalada para o plano regional. Afinal, os ataques a Israel vindos do Líbano e do Iémen mantêm-se. E o Irão é sempre um espetador especialmente atento ao conflito.

 

  1. A médio prazo, a dúvida mantém-se: quem vai controlar Gaza no pós Hamas? A Autoridade Palestiniana? Uma coligação de Países Árabes moderados? Uma organização internacional? Manifestamente, o que não pode ser é Israel.
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