Opinião
Marques Mendes: Os partidos acham que "bater" no Novo Banco dá votos
As habituais notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre a polémica do Novo Banco, o Congresso do PCP, os cinco anos de Governo e o OE, entre outros temas.
A POLÉMICA DO NOVO BANCO
- Há meses que o país anda entretido com um novo desporto nacional – "o tiro ao Novo Banco". Os partidos acham que "bater" no NB dá votos!
- Sinceramente, acho que quase ninguém sai bem nesta polémica:
- O pior é o BE. No passado aprovou a transferência de cerca de 3 mil milhões de euros de dinheiro público para o NB. Agora, que estão em causa menos de 500 milhões e não é dinheiro público, resolveu bloquear.
- Depois, o Chega. Em menos de 24 horas, teve as três posições possíveis – foi contra, foi pela abstenção e acabou a votar a favor do BE. Como se vê, André Ventura é um deputado muito fiável e cheio de convicções!!
- Em terceiro lugar, PSD e CDS agiram mal. Partidos responsáveis e de governo não podem dar a ideia de que não cumprem contratos. Mais coerente seria dizer: não bloqueamos o contrato, mas se a auditoria do Tribunal de Contas der razão às nossas dúvidas, exigiremos que as verbas transferidas sejam devolvidas.
- Finalmente, o PM e o Governo. António Costa teve razão no que disse – isto é brincar com o fogo. Só que não tem autoridade para o dizer – é que foi o PM, em Maio passado, que abriu o precedente ao afirmar que, sem auditoria, não havia mais dinheiro para o NB. Quem semeia ventos colhe tempestades!
- Como se resolve este problema? Ao contrário do que foi dito, não será pelo recurso ao Tribunal Constitucional. O OE não irá parar ao TC. Será pelo recurso, muito provavelmente, aos tribunais administrativos. Se o Tribunal obrigar ao cumprimento do contrato, o Governo poderá recorrer ou á dotação provisional ou a transferências entre rubricas orçamentais. Há várias hipóteses.
5 ANOS DE GOVERNO E O OE
- Fez esta semana cinco anos que o PS assumiu o poder. Por coincidência, naquela que foi a pior semana política para o Governo. Uma semana "horribilis". Tudo por causa do OE. Primeiro, porque "acabou" a geringonça; segundo, porque o OE aprovado é uma manta de retalhos; terceiro, porque o Governo saiu deste debate fragilizado, desautorizado e encurralado. Sem esquecer que a degradação não vai diminuir.
- Sendo assim, será que o OE daqui a um ano "chumba" e teremos eleições antecipadas em 2022? É possível. Mas não é seguro. Não é impossível que António Costa e Jerónimo de Sousa se voltem a entender novamente. Primeiro, porque a relação entre os dois é excelente. Depois, porque, se as autárquicas não correrem bem ao PCP, o partido tem medo de legislativas antecipadas. Finalmente, porque o PM não quer recandidatar-se mais a eleições. Quer um cargo europeu. E, para isso, precisa de levar a legislatura até ao fim. Se, ao contrário, o seu governo for derrotado, tem de ir a votos defendê-lo.
- Mas, se ao contrário, houver crise e eleições antecipadas, podemos ter a tempestade perfeita – a ingovernabilidade à esquerda e a ingovernabilidade à direita. Ninguém conseguir formar um governo maioritário e coerente.
- A esquerda em conjunto até pode continuar a ter mais deputados. Mas continua a não ter coerência e concordâncias nas políticas.
- À direita, até pode haver coerência. Admitindo que o Chega dá coerência a algum projecto! Mas não há votos que cheguem. Olhando para as sondagens, todos em conjunto, à direita, não ultrapassam a votação da PAF em 2015. Esse resultado não dá para governar!
O CONGRESSO DO PCP
Numa semana em que foi grande protagonista , o PCP teve um erro sério, tomou uma decisão inteligente e tem um drama existencial pela frente.
- Primeiro: o erro de não ter adiado o congresso. Como se viu, não havia nada de urgente neste congresso. Nada que impedisse o seu adiamento. Não o tendo feito, o PCP colocou-se a jeito para ser criticado. Não se pode queixar. O PCP é que deu azo à polémica. E perde credibilidade nos seus eleitores.
- Segundo: uma decisão inteligente – a de ter viabilizado o OE. Inteligente porque evitou a impopularidade que seria chumbar o OE; inteligente, porque deixou o ónus desse desgaste para o BE (que, de resto, teve um "trambolhão" nas sondagens); inteligente porque conseguiu do Governo vários ganhos de causa. O PCP é o vencedor e o BE é o derrotado do processo orçamental.
- Finalmente, o PCP tem um drama existencial pela frente. Quer ser parceiro do Governo ou quer ser oposição? Até agora esta falta de clareza não ajudou – de eleição em eleição foi sempre a perder.
No Congresso, a dúvida manteve-se. No início, parecia ser o Congresso da Penitência – o PCP "arrependido" de dar a mão ao Governo. No final, parecia ser o Congresso da parceria. PCP feliz com os ganhos alcançados. Será que pretender ser poder e oposição em simultâneo é uma mensagem mobilizadora?
O PROCESSO DE VACINAÇÃO EM PORTUGAL
- Este é o grande factor de esperança no combate à Covid 19. Dentro de dias as autoridades vão aprovar o Plano de Vacinação em Portugal. Vamos antecipar as respostas às principais dúvidas que se colocam aos portugueses.
- Quantas vacinas vamos ter? Em princípio 6:
- BioNTech/Pfizer
- Astrazeneca/Universidade de Oxford
- Moderna
- Johnson & Johnson- Janssen
- Sanofi-GSK
- Curevac
- Quantas já estão em avaliação pela EMA? 3:
- BioNTech/Pfizer
- Astrazeneca/Universidade de Oxford
- Moderna
- Diferentes no tipo, no preço e nas condições de armazenamento mas todas com eficácia alta.
- Por contraste, a vacina da gripe tem entre 40% e 45% de eficácia.
- Quando estarão aprovadas pela EMA?
- As primeiras vacinas poderão estar aprovadas já no próximo mês de Dezembro.
- Quando começarão a chegar a Portugal?
- As primeiras doses chegarão já no próximo mês de Janeiro.
- O calendário da Pfizer é de fornecimento gradual entre Janeiro e Setembro de 2021.
- O calendário da Moderna é de fornecimento entre Fevereiro e fim de 2021.
- Nas demais vacinas não há ainda calendário de entrega.
- A vacinação é gratuita?
- Sim, a vacinação é universal e gratuita para todos os portugueses.
- A vacinação não é obrigatória mas haverá uma campanha de sensibilização.
- Quantas doses deve tomar cada pessoa?
- Em relação às 3 vacinas já em avaliação pela EMA (Pfizer, Astrazeneca e Moderna), são 2 doses por pessoa.
- Tomadas com intervalo de 3 a 4 semanas entre a 1a e a 2a dose.
- A vacina da Johnson&Johnson-Janssen (mais atrasada) será tomada só numa dose.
- Quais são os primeiros grupos sociais e profissionais a serem vacinados?
- Idosos
- Residentes dos lares
- Profissionais dos lares
- Profissionais de saúde
- Forças de segurança
- Proteção civil
- Quantas doses vai receber Portugal? No total cerca de 22 milhões de doses entregues por fases:
- 4,5 milhões da BioNTech/Pfizer;
- 6,9 milhões da Astrazeneca/Universidade de Oxford;
- 4,5 milhões da Johnson&Johnson-Janssen;
- 1,9 milhões da Moderna;
- 4 milhões da Curevac;
- No final, haverá vacinas para todos os portugueses.
- Pontos de vacinação?
- Não haverá vacinas em farmácias nesta primeira fase.
- As vacinas contra a COVID-19 serão geridas integralmente pelo SNS.
- Nesta primeira fase, a vacinação far-se-á nos centros de saúde, podendo ser alargada posteriormente a outros pontos de vacinação.
- Como será o armazenamento das vacinas?
- Haverá um armazenamento central único.
- Haverá armazenamentos regionais nas 5 ARS e nas regiões autónomas.
- Poderá ainda haver armazenamento em agrupamentos de saúde.
- Dois comentários finais:
- Primeiro: é notável como em menos de 12 meses se descobre uma vacina contra a Covid 19. Antigamente, a descoberta de uma vacina levava anos. Um grande exemplo da comunidade científica.
- Segundo: os PALOP. Uma sugestão ao PR e ao Governo. Tal como a UE está a ajudar Portugal, seria boa ideia que a CPLP ajudasse os PALOP nos seus processos de vacinação. Por uma razão de solidariedade. E por um razão de protecção dos portugueses – a nossa sociedade está hoje muito ligada aos países africanos de língua portuguesa.
O APOIO DA UE NA PANDEMIA
- Este dossier das vacinas leva-nos a questionar: o que seria de Portugal perante esta pandemia se não estivéssemos na UE? Vejamos:
- Plano da Saúde – Em Janeiro vamos receber vacinas ao mesmo tempo que os grandes países, como a Alemanha, França, Itália ou Espanha. Por que estamos na UE e a UE fez uma compra em conjunto. E se não estivéssemos na UE? Alguém acredita que conseguíamos esta vantagem? Nem pensar.
- Plano Financeiro – Os nossos juros da dívida pública estiveram esta semana nos 0%. Um resultado histórico. Apesar da fortíssima recessão que vamos ter este ano e da elevada dívida que temos. Porquê? Porque o BCE tem tido uma intervenção notável nos mercados da dívida. E se não estivéssemos na UE? E se não tivéssemos o apoio do BCE? Onde estariam os nossos juros?
- Plano Económico e Social – A UE vai dar-nos a fundo perdido cerca de 13 mil milhões de euros para a recuperação da crise. É a chamada bazuca europeia. Além dos fundos tradicionais. E se não estivéssemos na UE? Apoios a fundo perdido nem pensar. E quem nos emprestava dinheiro em boas condições?
- Em conclusão: se estivéssemos fora da UE, como defendem os partidos dos extremos, à esquerda e à direita, a nossa situação seria dramática. Afinal, a UE é um grande projecto. Pode ter muitos defeitos. Mas é um enorme seguro de vida para Portugal.