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Opinião
26 de Abril de 2020 às 21:26

Marques Mendes: "Infelizmente falta oposição"

As notas de Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. O comentador fala sobre as comemorações do 25 de abril, a retoma da atividade económica e o "silêncio" da oposição entre outros temas.

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AS CELEBRAÇÕES DO 25 DE ABRIL

 

1.     Um excelente discurso do PR. Dos melhores que fez no 25 de Abril, com dois grandes méritos: primeiro, o mérito da pedagogia política – o PR explicou pedagogicamente a importância de celebrar datas históricas como o 25 de Abril, o 10 de Junho, o 5 de Outubro ou o 1º de Dezembro, em especial em tempos de crise, quando as referências e os valores são mais relevantes; depois, o mérito de ter terminado com uma polémica desnecessária – o discurso de Marcelo pôs um ponto final nesta polémica e fê-lo com elevação e unidade nacional. Ninguém, mesmo que discorde, se pode sentir ofendido.

 

2.     Mas há uma segunda conclusão: se o PR se saiu bem desta polémica, o PAR deixa atrás de si uma marca muito negativa.

a)     Primeiro: acertou o modelo inicial da sessão com o PS e o PSD, subalternizando os outros partidos. Não o devia ter feito.

b)     Segundo: foi obrigado a andar de recuo em recuo até chegar, finalmente, a um modelo equilibrado.

c)     Terceiro: nas várias entrevistas que deu durante a semana, em vez de serenar os ânimos, andou sempre a acicatá-los. Uma insensatez.

d)     Finalmente: nunca exibiu uma ponta de humildade, sensibilidade e bom senso. Comportou-se sempre com demasiada arrogância e altivez. Ferro Rodrigues devia reflectir neste seu comportamento até porque já não é a primeira vez que tal sucede. E ele tem a responsabilidade de ser a segunda figura do Estado.

 

 

A RETOMA DA ACTIVIDADE

 

1.     Termina na próxima semana o Estado de Emergência. Renová-lo mais uma vez seria um exagero. Levantar todas as restrições seria outro disparate. No meio termo está a virtude. O meio termo, neste caso, deverá passar por isto: tratar da economia sem descurar a pandemia. Ou seja:

·     Em vez de estado de emergência, declarar a situação de calamidade. É uma decisão do Governo e não do PR.

·     Manter várias restrições para evitar uma recaída, deitando tudo a perder.

·     Abrir algumas actividades de forma gradual, lenta e faseada.

 

2.     Mesmo assim, com gradualismo, não será uma tarefa fácil. Vejamos a situação de alguns sectores de actividade:

 

EDUCAÇÃO

·     Ensino Básico – O sucesso da Telescola

·     Ensino Secundário – Operação de higienização das escolas a partir da próxima semana (Forças Armadas)

·     Aulas presenciais no 11º e 12º anos ainda em Maio

·     Alteração de horários escolares para os desfasar da hora de ponta dos transportes

·     Nalgumas universidades haverá aulas presenciais no fim de Maio.

·     Mesmo em universidades com ensino à distância haverá exames presenciais.

·     Vários reitores prolongaram o ano lectivo até fim de Julho.

·     Jardins de infância nunca abrirão antes de Junho.

 

 

TURISMO

·     Sector decisivo para a economia nacional

·     Pesa 15% no PIB e 10% no emprego

·     Responsável por 20% das exportações

·     Em 2019 teve um ano em alta

·     OCDE prevê em 2020 quebra entre 45% e 70%

·     INE considera o sector mais afectado pela crise

·     Quebra de 25% no turismo afunda o PIB em 2,9%

·     Recuperação vai ser lenta e prolongar-se para lá de 2022

 

VOOS DA TAP

·     A "retoma" pode dar-se a partir da 2ª quinzena de Maio (mais 70 voos por semana).

·     Voos diários – Porto, Funchal, Ponta Delgada, Madrid, Barcelona e Londres

·     Uma vez por semana – Brasil, EUA e Canadá

·     Duas vezes por semana – Angola, Cabo Verde, Suíça e Alemanha

·     Três vezes por semana – Bruxelas e Amesterdão

·     Voos com medidas de protecção – Máscaras, desinfetantes, menos lugares e eventuais testes a passageiros no embarque

 

 

RESTAURANTES

·     Intenção é reabrir a partir da 2ª quinzena de Maio

·     Será aprovado um guia de boas práticas

·     Medição de temperatura corporal à entrada dos restaurantes

·     Reorganização do espaço (menos lugares)

·     Ementas descartáveis

·     Vestuário de protecção para funcionários

 

FUTEBOL PROFISSIONAL

·     Retoma do campeonato em Junho e Julho

·     Jogos à porta fechada

·     Clubes querem jogar nos seus estádios (UEFA quer concentrar)

·     Final da Taça de Portugal – última semana de Julho

·     Liga dos Campeões e Liga Europa em Agosto, semana a semana

·     Supertaça europeia (Porto) adiada

 

A OPOSIÇÃO E OS APOIOS ÀS EMEPRESAS

 

1.     Em Portugal há este péssimo hábito – quando se toma uma decisão, discute-se tudo à exaustão. A partir daí não se fala mais. Esquecemo-nos de que anunciar uma decisão não é o mesmo que resolver um problema. É o caso das linhas de crédito para as PME. Dois problemas sérios:

a)     Primeiro problema: passou o mês de Março. Estamos no fim de Abril! As empresas têm de pagar salários. Mesmo assim, a maior parte do dinheiro das linhas de crédito ainda não chegou às empresas. Tudo porque o processo começou tarde. Como é que isto é possível?

b)     Segundo problema: entraram na SPGM (garantias mútuas) mais de quarenta mil pedidos. Estão cerca de onze mil aprovados, num valor de cerca de 2,5 mil milhões de euros. Tudo indica que vão ficar milhares de empresas de fora. O que vai o Governo fazer?

c)     Terceiro problema: lay off. Apesar da simplificação, as queixas são mais do que muitas. O que se passa? Ninguém explica? Não chega anunciar, é preciso resolver.

 

2.     Apesar da gravidade de tudo isto, ninguém questiona o Governo. Ninguém pergunta. Ninguém fiscaliza. Ora este é o papel da oposição. Infelizmente falta oposição. Como se viu no último debate com o PM, em que nenhuma destas questões foi levantada.

O tempo que vivemos não é um tempo para politiquices ou picardias. Mas é um tempo para fazer perguntas ao Governo, para fiscalizar a acção do Governo, para escrutinar as decisões do Governo, para espicaçar o Governo.

Como ainda ontem lembrou o PR, em tempo de Estado de Emergência, o Governo tem mais poderes. Logo tem de ser mais fiscalizado. Rui Rio tem estado globalmente bem nesta crise. Mas o PSD e a oposição em geral têm de fazer muito mais do que estão a fazer.

 

FUNDO PARA A RECUPERAÇÃO ECONÓMICA

 

1.     O Conselho Europeu aprovou a ideia de criação de um Fundo de Recuperação Económica. É uma boa ideia. Mas, para já, não é motivo para embandeirar em arco. Ao contrário do que diz o PM, não faltam apenas os detalhes. Falta saber tudo o que é essencial.

 

2.     O que falta?

a)     Primeiro, falta saber o valor do Fundo. Fala-se de 1,5 biliões de euros. Mas não há ainda qualquer decisão.

b)     Segundo, falta saber como é que se calcula a parte relativa a cada país. É em função do número de óbitos? É em função da queda do PIB? É em função do aumento previsível de desemprego? Nada disto se sabe e não é irrelevante saber qual é o critério a adoptar.

c)     Terceiro, falta saber como é que cada país vai ter acesso à parte que lhe cabe. É através de empréstimos ou até através de subvenções a fundo perdido? Outra questão essencial. Se for através de empréstimos, as dívidas nacionais vão disparar e isso é uma calamidade para países como Portugal. Se for através de subvenções, é excelente, mas dificilmente passa porque tem a oposição dos países do norte. O mais provável é que seja um misto das duas soluções, para ser possível obter um acordo na UE. Em qualquer caso, uma coisa é certa: a procissão ainda vai no adro!

 

3.     Em qualquer caso, convinha o Governo lembrar-se que não chega ter mais dinheiro:

a)     É preciso capitalizar as empresas – O que implica algum apoio a fundo perdido (a Alemanha prevê esta solução).

b)     É preciso um Simplex Covid 19 – Para desburocratizar licenciamentos de novos projectos e para simplificar processos de insolvência ou de recuperação de empresas.

 

TRUMP E BOLSONARO EM DIFICULDADES

 

1.     Decididamente esta crise não está a ser boa para os populistas. Que o digam Trump e Bolsonaro. Comecemos pelos EUA: primeiro, Trump começou por desvalorizar a pandemia. Agora, está com medo que ela o faça perder eleições. O exemplo máximo do seu desespero está traduzido nisto: Trump quer que o seu nome venha impresso nos cheques relativos aos apoios financeiros que vão ser entregues aos americanos. Como se o dinheiro fosse dele!

Isto é o grau zero da política. O cúmulo do descaramento e da manipulação política e eleitoral.

 

2.     No Brasil, Bolsonaro  o populista mais imbecil e impreparado que por aí anda – em duas semanas provocou a demissão de dois ministros. Sendo que um deles é o todo-poderoso Sérgio Moro, o Ministro da Justiça e ex-juiz do processo Lava Jato.

Isto pode ser o princípio do fim de Bolsonaro.

·     Primeiro, porque o grande prestígio e popularidade de Sérgio Moro ajudavam muito a caucionar o Governo de Bolsonaro;

·     Depois, porque o próprio Sérgio Moro tem grandes ambições políticas. Ele não descarta a ambição de ser candidato presidencial e as sondagens já lhe dão mais apoio que ao Presidente Bolsonaro.

 

COMBUSTÍVEIS VÃO BAIXAR?

 

Assistimos esta semana a um acontecimento histórico – o preço do petróleo em Nova Iorque a ser transacionado a valores negativos. Em linguagem simples: paga-se para "despachar" petróleo. Três questões:

 

1.     Primeira: por que é isto sucede? Porque há petróleo a mais e economia a menos. Sinal da enorme gravidade da crise. Basta pensar que quase não há aviões no ar.

 

2.     Segunda: quem perde e quem ganha com isto?

·     Ganham os países importadores, como Portugal. Se o petróleo está em valores baixos, pagamos menos pelo petróleo que compramos.

·     Perdem os países produtores e sobretudo os que estão muito dependentes das receitas do petróleo. É o caso de Angola.

 

3.     Última questão: isto significa que os automobilistas vão pagar menos nas bombas de gasolina?

·     Sim, vão pagar menos. Mas não será uma redução tão grande quanto se imagina. Por uma razão: impostos, muitos impostos.

·     Por cada litro de gasolina, 63% do valor vai para impostos. É quase um euro num único litro de gasolina.

·     Em conclusão: uma descida de 10% no valor do Brent só dará lugar a um benefício de 3% para o consumidor.

 

Notas finais:

·     Saudação aos Rotários e ao Centro Português de Fundações – Apoio na crise

·     Saudação à Fundação Champalimaud – Fez 1600 testes serológicos no Algarve

·     Saudação ao Prof. Miguel Bajouco (Coimbra) – Ganhou o prémio D. Manuel de Mello

·     Saudação ao Turismo do Centro – Filme de promoção da região premiado em NI

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