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17 de Dezembro de 2023 às 21:21

Marques Mendes: Eleição vai ter resultado incerto até ao fim

No seu habitual espaço de opinião na SIC, o comentador Marques Mendes aborda a vitória de Pedro Nuno Santos nas eleições do PS e antecipa o confronto com Luís Montenegro nas legislativas de março.

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A VITÓRIA DE PEDRO NUNO SANTOS

 

  1. É uma vitória previsível, mas é uma grande vitória. Uma vitória assente essencialmente em dois fatores:
  • O primeiro é o carisma. Goste-se ou não se goste de Pedro Nuno Santos, a verdade é que ele é um político carismático. É talvez o seu maior mérito. O que lhe garante, desde logo, boa capacidade de mobilização.
  • O segundo é o trabalho partidário. Pedro Nuno Santos anda há anos a preparar a sua candidatura à liderança do PS. E a verdade é que nos grandes partidos as lideranças preparam-se com anos de antecedência.  Com trabalho permanente, continuado, muitas vezes invisível.

 

  1. Dentro do PS, este combate foi bom para todos:
  • Foi bom para o próprio partido. Houve uma grande mobilização. Esta mobilização ajuda muito a "aquecer" os motores para a campanha eleitoral das legislativas. E o PS vai estar unido. Só o risco de poder perder o poder, ajuda a unir. Não a dividir.
  • Foi importante para José Luís Carneiro. Ele foi corajoso na candidatura. Surpreendeu pelos apoios e pelo resultado. Marca uma posição relevante para o futuro. Ganhou grande estatuto político e partidário.
  • Esta eleição deixa Pedro Nuno Santos numa situação privilegiada: se ganhar as eleições em 10 de março, é um herói, porque ganha apesar do desgaste do governo e da crise politica criada; se perder, ninguém o vai culpar pela derrota. Todos dirão que a maior responsabilidade é do desgaste do Governo e do próprio António Costa: afinal, foi o PM que se demitiu e que abriu esta crise política.

 

 

 

O CONFRONTO MONTENEGRO – PEDRO NUNO

 

  1. Primeiro apontamento: em termos democráticos vai ser um bom confronto. Porque em causa estão dois projetos profundamente diferentes: nas ideias, nas propostas e na forma de fazer política. Há muitos anos que não se viam dois candidatos a PM tão radicalmente diferentes. Isto é positivo. Dá clareza. Facilita a vida das pessoas no momento de escolher. E enriquece a democracia.

 

  1. Segundo apontamento: esta eleição vai ter resultado incerto até ao fim. Tudo está em aberto. Pode ganhar o PS ou ganhar o PSD. Não são favas contadas para ninguém. E a verdade é esta: se o PS tiver mais um deputado que o PSD, Pedro Nuno Santos será indigitado PM; se o PSD tiver mais um deputado que o PS, o indigitado PM será Luís Montenegro.

 

  1. Terceiro apontamento: cada um dos protagonistas tem um problema sério para resolver:
  • O grande problema de Luís Montenegro é o Chega. Se o Chega tiver uma votação alta, o PSD não ganha a eleição e Montenegro não será PM. Para resolver este problema, Montenegro tem de apelar ao voto útil e à concentração de votos no PSD. E ter sucesso nesse apelo. O manifesto de apoio de 100 personalidades independentes é uma boa ajuda.
  • O grande problema de Pedro Nuno Santos é o eleitorado moderado. À sua esquerda, Pedro Nuno Santos não tem dificuldades. O PCP e o BE estão fragilizados. O seu problema é com os eleitores moderados que votavam de olhos fechados em António Costa e que agora têm reticências em relação ao novo líder. Sobretudo depois da sua passagem pelo governo. Conquistar esses eleitores é o seu grande desafio.

 

 

COSTA E PASSOS NA CAMPANHA?

 

  1. Há uma grande especulação em torno da participação de António Costa na campanha eleitoral. Ele deve participar? A sua eventual participação vai ofuscar Pedro Nuno Santos? Eu diria o seguinte: é natural que António Costa participe na campanha do PS, como é normal que Passos Coelho venha a participar na campanha do PSD. Estas eleições vão ser muito dramatizadas. É normal que cada partido use os seus trunfos mais valiosos.

 

  1. Quanto a António Costa, parece-me óbvio e normal que participe na campanha eleitoral:
  • Primeiro, porque o PM demitiu-se, mas não está diminuído nos seus direitos políticos;
  • Depois, porque nesta eleição o seu governo também está em julgamento;
  • Finalmente, porque António Costa, mesmo tendo-se demitido, continua a ser o maior ativo do Partido Socialista. Eleitoralmente, ele vale mais que o Partido Socialista. E está cada vez mais profissional, como se viu na entrevista televisiva desta semana. Uma entrevista de despedida, que foi uma das suas melhores de sempre.

 

  1. O mesmo se diga em relação a Pedro Passos Coelho e a Cavaco Silva no que respeita ao PSD. São os dois ex-PM vivos mais marcantes que o PSD teve. É natural que, se puderem, apareçam na próxima campanha eleitoral. Em especial, Pedro Passos Coelho. Por uma razão especial: Luís Montenegro foi durante vários anos o seu líder parlamentar. É natural, por isso mesmo, que haja uma especial relação de solidariedade e cumplicidade entre ambos.

 

 

 

INFLAÇÃO E DÍVIDA EM BAIXA

 

  1. Estamos num tempo de notícias muito negativas. Cá dentro e lá fora. Mas também temos que realçar as boas notícias. Sobretudo em tempo de Natal, importa gerar esperança. E há dois factos que podem gerar esperança em 2024.

 

  1. A primeira é a redução da inflação.  A taxa de inflação na Zona Euro estava em 8,6%% no início do ano. Em novembro baixou para 2,4%. E em Portugal estava em 8,4% em janeiro e baixou agora para 1,5%.
  • São boas notícias. Com esta tendência de redução de inflação, criam-se condições para em 2024 poder iniciar-se uma descida das taxas de juro. O que é bom, desde logo, para os beneficiários de crédito à habitação. Juros mais baixos podem significar prestações ao Banco mais reduzidas.

 

  1. Outra boa notícia tem a ver com a dívida pública. Durante anos, eramos a cauda da Europa. Estávamos próximos da Grécia e distantes dos países com melhor comportamento. Hoje, tudo mudou. Vejamos:
  • A diferença dos juros da dívida a 10 anos em relação aos juros da Alemanha é a mais baixa de sempre. Portugal tem, neste segmento, juros mais baixos que a Espanha, a Grécia ou a Itália.
  • E também em percentagem do PIB temos um ratio de dívida pública abaixo do de Espanha, Bélgica, França, Itália e Grécia. São boas notícias para o futuro de Portugal. Sobretudo em tempos de dificuldades na economia, agravadas com as más noticias que esta semana chegaram da economia alemã.

 

 

UCRÂNIA NA UE?

 

  1. Boas e más quanto á Ucrânia. As más têm a ver com o apoio financeiro dos EUA e da UE á Ucrânia. Este apoio está cada vez mais difícil. E sem apoio ocidental a Ucrânia não consegue resistir á Rússia. A boa noticia é que a UE decidiu avançar com negociações para o alargamento da UE à Ucrânia. Esta adesão vai demorar anos, mas já começou.

 

  1. Não era uma decisão fácil. A UE está bastante dividida sobre a entrada da Ucrânia na UE. Numa sondagem europeia feita recentemente à população de seis países (Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Polónia e Roménia), a divisão na população é notória. Vejamos:
  • A maioria dos alemães, franceses e austríacos é contra a entrada da Ucrânia na UE. Já a maioria dos dinamarqueses, polacos e romenos é a favor.
  • Apesar disso, no geral, a maioria dos inquiridos é a favor da Ucrânia na UE, embora por uma diferença curta (37% a favor, 33% contra).

 

  1. Até por causa desta divisão, a decisão tomada pela UE é corajosa e justa.
  • Primeiro, por uma razão estratégica. O projeto europeu não fica completo sem o seu alargamento à Ucrânia e a outros países, designadamente os países dos Balcãs Ocidentais.
  • Depois, por uma razão de solidariedade. Os ucranianos estão a lutar, com o risco da própria vida, pelos seus e pelos nossos valores: a liberdade e a segurança.
  • Terceiro, no caso de Portugal, também por uma razão de coerência. Nos anos 80 pedimos ajuda para entrar na então CEE e tivemos essa ajuda. Não devemos negar agora à Ucrânia a solidariedade que então reclamámos para nós.

 

AS GÉMEAS LUSO-BRASILEIRAS

 

  1. Já temos a auditoria realizada pelo Hospital de Santa Maria. E a sua conclusão é de meridiana clareza: não houve qualquer tratamento de favor. Segundo explica a auditoria, por três razões: primeiro, as regras clínicas foram respeitadas; segundo, o medicamento era justificado; terceiro, ninguém passou à frente de ninguém, porque não havia sequer uma lista de espera. É caso para dizer: tanto " ruído" para conclusão tão clara.

 

  1. Terá havido, isso sim, uma falha ética da Secretaria de Estado da Saúde na marcação da primeira consulta da especialidade. O que não é brilhante nem devia ter existido. Mas, felizmente, não conduziu a nenhum tratamento de favor, porque as regras clínicas foram respeitadas.

 

  1. A Ordem dos Médicos esteve esta semana na berlinda por causa de um alegado processo disciplinar a Lacerda Sales. Se a notícia fosse verdadeira, seria uma iniciativa insólita, absurda e grave da Ordem dos Médicos. Uma Ordem querer sancionar um político é do domínio do delírio e da ficção. Como, afinal, não passa de especulação, tanto melhor. As Ordens deviam evitar envolver-se em questões de natureza política. Se não tiverem cuidado, "isto" um dia vai sair-lhes caro.
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