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10 de Outubro de 2021 às 21:25

Marques Mendes: Costa "começa a estar cansado do exercício do poder"

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a Igreja, Polónia e Pandora Papers, bem como sobre a irritação do primeiro-ministro no Parlamento, entre outros temas.

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IGREJA, POLÓNIA E PANDORA PAPERS

(Questões externas)

 

  1. Pedofilia na Igreja Católica em França. São milhares de casos absolutamente Minam a imagem e a autoridade da Igreja Católica. Aspecto positivo no meio desta podridão: a voz do Papa Francisco. O Papa que genuinamente faz frente à pedofilia na Igreja. A Igreja Portuguesa faz bem em querer também investigar, como diz D. Américo Aguiar. Deve ser proactiva e não defensiva.

 

  1. Pandora Papers. É mais do mesmo mas é grave. Ou seja: são novos maus exemplos vindos de vários líderes e ex-líderes mundiais. Todos apregoam a transparência mas todos praticam a ocultação de riqueza. Único aspecto positivo: já que o mundo não mata os offshores, vai-se matando a credibilidade e a reputação de quem usa os offshores. Como ontem sucedeu com a derrota eleitoral do PM Checo, um dos visados nesta investigação.

 

  1. Polónia em braço de ferro com a UE. A Polónia fez o inacreditável, decidindo que o direito polaco se sobrepõe ao direito europeu. É uma decisão provocatória. Como vai a UE reagir? Ninguém sabe, mas não pode deixar de ser firme. Duas coisas são certas: primeiro, a Polónia não vai sair da UE. Isso ninguém quer. É ficção política. Segundo, os brandos costumes da UE dão nisto: primeiro, foi a Hungria a provocar a UE e esta a contemporizar; a seguir, é a Polónia; e, mais tarde, há-de vir a Eslovénia. É o que sucede quando não se age com firmeza: a autoridade degrada-se e o pântano instala-se.

 

 

PM IRRITADO NO PARLAMENTO

 

  1. No debate parlamentar da última quinta-feira, o PM irritou-se com o Deputado André Coelho Lima. Este caso parece mas não é um fait-divers. Em circunstâncias normais, este episódio não acontecia. O que o Deputado fez é uma provocação normal nos debates parlamentares. O que não é normal é a reacção do PM. Reacção própria de quem está com os nervos à flor da pele.

 

  1. A razão desta irritação é só uma: chama-se cansaço político. O PM começa a estar cansado do exercício do poder; começa a não ter paciência; começa a mostrar que está farto. Compreende-se: são seis anos de Governo, sendo que os dois últimos, com a pandemia, foram particularmente intensos; e trata-se de um governo sem maioria. Tudo tem de ser sujeito a negociações. O desgaste é a dobrar ou a triplicar.

Este cansaço já não se resolve com férias ou descanso. Isto é fadiga política e é um sinal forte de fim de ciclo. Já sucedeu com Cavaco e com Guterres. Agora é António Costa. Sucede com todos, à esquerda e à direita.

 

  1. É por isso que digo, há muitos meses, que o PM não quer ir mais a eleições. Prefere sair em 2023. Os sinais estão todos aí. O problema é que ainda faltam dois anos. Dois anos difíceis. O que exige ter um PM com autoridade e tranquilidade. É o esforço que se pede a António Costa.

 

 

ARTIGO DE CAVACO SILVA

 

  1. Primeiro, é um bom artigo de Cavaco Silva no Expresso. É corajoso, está bem estruturado e bem fundamentado.

 

  1. Segundo, é um artigo com três destinatários: o PS, o PM e Rui Rio. No fundo, a mensagem é esta: o país está há 20 anos a empobrecer na comparação com os países de leste. É verdade, nesse período, fomos ultrapassados por 5 países. O Governo de António Costa não inverte esta tendência. Também é verdade, a Lituânia ultrapassou-nos já em 2017. A oposição de Rui Rio, além de débil e sem rumo, pactua com o Governo. É um balanço duro mas verdadeiro.

 

  1. Terceiro, porquê este artigo agora? Eu julgo que há duas razões essenciais: PRR e OE, por um lado; eleições internas no PSD, por outro lado.
  2. O OE para 2022 está prestes a ser aprovado e a bazuca está em início de aplicação. É uma boa oportunidade para alertar para a situação e para pedir a mudança de políticas.
  3. Eleições no PSDSe a oposição de Rio não tem sido eficaz, é a oportunidade de mudar: mudar de estratégia, mudar de liderança ou mudar ambas. Neste plano, é um artigo a favor de uma mudança no PSD.

 

  1. Entretanto, no CDS já se contam espingardas, depois da candidatura de Nuno Melo. Mas, para começar, o CN de hoje foi pouco edificante. O PSD marcará na próxima semana as suas eleições, que deverão ser no início de Janeiro. Aqui, Rui Rio e Paulo Rangel serão os grandes protagonistas. Espera-se que o debate tenha outro nível.

 

 

O ORÇAMENTO PARA 2022

 

  1. Do que é público, temos quatro conclusões a tirar:
  2. Um sinal correcto: a redução do défice e da dívida em percentagem do PIB. Podia ser maior mas não deixa de ser importante, sobretudo em tempos de fortes incertezas à escala global.
  3. Um sinal justo: a preocupação social do OE, sobretudo com os idosos e as pensões mais baixas.
  4. Um sinal simbólico: o desagravamento fiscal em sede de IRS. É mais simbólico do que real. Mais político que económico ou social. Não chegará muito ao bolso das pessoas.
  5. Um sinal negativo: persiste-se no modelo económico errado. Aparentemente não se percebe onde está a preocupação com a competitividade, a produtividade, o reforço do sector exportador, o crescimento sustentado da economia. Ou seja: vamos crescer, mas os nossos concorrentes vão crescer mais do que nós.

 

  1. A viabilização do OE está garantida. O PM gostaria de ter o apoio do PCP e do BE. Mostrar que o governo se fortaleceu, alargando a sua base de apoio na AR.
  • Mas não é provável. O BE provavelmente chumbará o OE, tal como há um ano;
  • O PCP, o PAN e o PEV deverão viabilizá-lo;
  • Mesmo assim, o PCP está mais exigente a negociar do que há um ano. Estão a colocar nas negociações questões que nunca antes tinham colocado e que nem sequer são de natureza orçamental, como a questão da legislação laboral.
  • Ainda vai haver muito stress, mas o PCP deverá acabar por viabilizar o OE. Se eventualmente o PCP decidisse votar contra, o mais provável seria o BE reconsiderar e viabilizá-lo. Tudo para evitar uma crise política.

 

SAÚDE – VACINAÇÃO E DEMISSÔES

 

  1. Terceira dose da vacina – Vacinação para maiores de 65 anos:
  • Serão vacinadas até Dezembro 2,3 milhões de pessoas;
  • Começa amanhã nos lares. Fora dos lares, inicia-se na quinta-feira;
  • A vacinação será nos Centros de Saúde e Centros de Vacinação;
  • As pessoas elegíveis serão contactadas por SMS ou telefone;
  • Nesta fase não haverá mais pessoas a vacinar, designadamente profissionais de saúde. Mas, no futuro, é quase certo. Profissionais de saúde e vários outros grupos. A pressão vai ser grande e as farmacêuticas precisam de facturar!

 

  1. No Centro Hospitalar de Setúbal e noutros hospitais temos crises sérias. Estes problemas já existiam antes da pandemia. Regressam agora, mais agravados. A melhor análise e proposta de solução para estes problemas é feita por Leal da Costa, ex-Ministro, num excelente e sério artigo no Observador. Resumindo:
  2. Primeira questão: faltam médicos especialistas no SNS. Porquê? Porque há poucos, o SNS paga mal e não oferece boas condições. Logo, os médicos "fogem" para o privado ou para o estrangeiro.
  3. Segunda questão: este problema já não se resolve só com dinheiro. Mais do mesmo não é solução. Sem um novo modelo de remuneração dos profissionais de saúde – em que se premeie também o mérito e o desempenho e se criem incentivos – não haverá solução.
  4. Terceira questão: ao que apurei, o OE vai ter verbas extraordinárias para aumentos salariais nos hospitais. Verbas significativas. Como também para aumentos salariais em empresas e institutos públicos noutros sectores. A questão que se coloca é esta: serão remendos ou soluções?  
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