Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador faz o Balanço do Mundial, fala de Ronaldo na Juventus, as lições da Tailândia, o Estado da Nação, a Sondagem SIC/Expresso, a novela de Tancos e as intenções de Trump.
BALANÇO DO MUNDIAL
- Um Mundial com duas características:
- Foi um dos Mundiais com melhor organização. A Rússia marcou pontos.
- Foi um dos Mundiais mais competitivos. Nenhuma selecção era vista como imbatível e mesmo as teoricamente mais favoritas ficaram pelo caminho.
- Foi um dos Mundiais mais inovadores. O vídeo-árbitro foi o grande exemplo.
- Em termos de sintético balanço:
- A melhor selecção – França
- A maior desilusão – Alemanha (seguida de Espanha e Argentina)
- A maior surpresa – Croácia (seguida de Bélgica)
- O melhor jogador – Mbappé (seguido de Modric)
- O melhor guarda-redes – Courtois
RONALDO NA JUVENTUS
- O que levou Ronaldo a querer sair para a Juventus?
a) Primeiro: não se sentia devidamente valorizado no Real. Não se sentiu apoiado na recente questão fiscal. E, sobretudo, sentia-se discriminado do ponto de vista salarial – ganhava menos que Messi e Neymar, sendo o melhor do mundo.
b) Segundo: mas não foi só o aspecto financeiro que ditou a saída. A prova está no facto novo que aqui revelo em primeira mão: nestes últimos dias, já depois da proposta da Juventus, o Real Madrid fez a Ronaldo uma contraproposta de valor superior à do clube italiano. O Real ofereceu 32 milhões de euros/ano a Ronaldo, acima dos 30 milhões propostos pela Juve. Mesmo assim, Ronaldo recusou. Estava determinado a sair.
c) E aqui é que entra o desafio desportivo. Ronaldo sai também por causa do desafio desportivo. No Real, Ronaldo já provou tudo e já ganhou tudo. Na Juventus é um novo desafio. E, se ganhar uma Liga dos Campeões em Itália, faz história. Porque isso significa ganhar a Liga dos Campeões por três clubes diferentes – em Manchester, em Madrid e em Turim.
- Para Ronaldo isto é simplesmente extraordinário. Conseguir, aos 33 anos, já nos últimos anos da carreira, este contrato milionário é qualquer coisa de fabuloso. Como é fabulosa a forma como tudo isto foi feito. Com grande profissionalismo e em grande segredo. Há meses que tudo está pensado e preparado. Na final da Champions, Ronaldo deu um sinal. Agora faz-se a festa.
- Para a Juventus é tudo dinheiro em caixa:
- Tinha uma boa equipa. Passa a ter uma super equipa.
- Tem estado próximo de vencer uma Liga dos Campeões. Agora pode ganhar mesmo.
- Vai ter um retorno brutal. E apostar forte no mercado asiático.
AS LIÇÕES DA TAILÂNDIA
- O caso do resgate dos jovens na Tailândia emocionou todo o mundo. A mim impressionou-me sobremaneira o profissionalismo com que este resgate foi preparado e executado.
- Apesar de terem bons mergulhadores, as autoridades da Tailândia foram buscar os melhores dos melhores a várias partes do mundo. Não houve complexos nem preconceitos.
- O próprio médico que participou nas operações veio da Austrália.
- Toda a operação foi preparada com rigor, ao detalhe, com discrição e com regras fortíssimas para os pais dos jovens, para os media, para as forças de segurança. Tudo para evitar o aparato e o show-off e favorecer a eficácia e a discrição.
- Pensemos, por contraste, no que sucedeu por cá nos Incêndios de 2017:
- Em vez de profissionalismo, houve amadorismo;
- Tudo foi feito em cima do joelho – Até a nomeação de responsáveis da Protecção Civil em cima da época de incêndios;
- Falhou tudo. A coordenação; o combate; as comunicações; o Siresp.
- Entre Julho e Outubro, não se aprendeu nada. E a tragédia repetiu-se.
- Como se vê, nestas matérias, não há milagres. Há profissionalismo ou não há.
- Na Tailândia houve e a tragédia foi evitada.
- Em Portugal não houve e o resultado foram duas tragédias.
- Esta comparação entre Portugal e a Tailândia dá que pensar.
O ESTADO DA NAÇÃO
- Um ano depois, como está o país? Tentando ser o mais possível objectivo, há que analisar os aspectos positivos e os aspectos negativos:
a) ASPECTOS POSITIVOS:
- Boa imagem externa do país
- Crescimento económico acima de 2%
- Baixo desemprego
- Défice próximo de zero
- Crescimento do Turismo e das Exportações
- Melhoria do estado da Banca
b) ASPECTOS NEGATIVOS:
- Dívida pública demasiado alta
- Vinte países europeus crescem mais que Portugal
- Carga fiscal excessiva
- O estado da Saúde
- A ausência de reformas
- Em conclusão: o país está naturalmente melhor, mas isso é normal. Já não há o risco de bancarrota; já não há troika e a economia europeia ajuda. O que importa é que há algumas questões essenciais a reflectir:
a) Primeiro: ECONOMIA. Estamos a crescer mas estamos a crescer menos que os países europeus que são do nosso campeonato. Logo, estamos a perder. A Irlanda, por exemplo, que teve um resgate tão duro quanto o nosso, está a crescer mais do dobro de Portugal.
b) Segundo: SAÚDE. Todos queremos um SNS de qualidade. Mas a verdade é que o nosso SNS todos os anos perde qualidade. E os portugueses sentem-no. A prova aqui está: já há mais de 2,5 milhões de seguros privados de saúde. Até nos anos da troika, em que as pessoas perderam poder de compra, os seguros de saúde cresceram. Afinal, o povo descrê do SNS e procura uma alternativa.
c) Terceiro: SUSTENTABILIDADE. O país está melhor, é verdade; mas é preciso que esta melhoria seja sustentável. E, para ser sustentável, são precisas políticas estruturais e reformas de fundo (na segurança social, na demografia, na competitividade). Não chegam as reversões e a distribuição de rendimentos. É preciso ir mais longe.
COSTA CONTRA SANTOS SILVA?
- O facto político da semana não foi o debate do Estado da Nação. Esse não teve história. A novidade veio de fora do Parlamento – da entrevista que Santos Silva deu ao Público e de uma posterior declaração de António Costa, que foi vista como estando a desmentir o seu Ministro.
- Nem o PM desmentiu Santos Silva, nem o Ministro disse nada de errado.
António Costa estava a falar do governo actual e Santos Silva do governo futuro; o PM estava a reafirmar o seu apreço pela geringonça porque quer o próximo orçamento aprovado, enquanto Santos Silva estava a reflectir sobre as condições futuras de governabilidade. Ou seja: um falava do presente, o outro do futuro; um jogava no curto prazo e o outro no médio prazo; um fazia de polícia bom, o outro fazia de polícia mau.
- Santos Silva não disse nada de errado. Tudo o que disse é certíssimo (que o futuro acordo de governo tem de ter políticas estruturais no território, ambiente, energia, economia e política europeia). Que não é possível continuar a governar só com reversões e distribuição de rendimentos. É óbvio.
- Santos Silva disse o que António Costa também pensa, só que não é politicamente correcto dizê-lo agora.
- Em síntese: de tudo isto se concluem três coisas simples:
a) Primeira, que o próximo OE vai mesmo ser aprovado (o PM deu o sinal que faltava dar);
b) Segunda, que uma futura geringonça, total ou parcial, não é repetível, porque PS, BE e PCP não se entendem nas questões de fundo;
c) Terceira, que ou o PS tem uma maioria ou o risco de pântano é muito sério.
SONDAGEM SIC/EXPRESSO
Três apontamentos:
- Para o PS, esta sondagem é perfeita. Feita de encomenda não sairia melhor. Dá-o à beira da maioria absoluta, o que ajuda, desde logo, a aprovar o Orçamento. Com este resultado ninguém se atreve a chumbá-lo.
- Para o PCP e BE, os resultados são assim, assim. Nem desconfortáveis nem muito confortáveis.
- Para o PSD e o CDS, são maus.
a) O CDS não descola, apesar dos desejos saídos do último Congresso.
b) O PSD de Rio está ainda pior do que o PSD de Passos Coelho.
- Em Dezembro, último mês da liderança de Passos, no mesmo barómetro, o PSD tinha 28%, agora baixa para 27%; o PS tinha 40%, agora subiu para 42%.
- Ou seja, até ao momento, a estratégia de Rui Rio não está a resultar. Ele bem pode dizer que o país percebe a sua mensagem melhor que o partido. O problema é que a sondagem desmente essa ideia.
A NOVELA DE TANCOS
- O povo praticamente não liga a estes assuntos porque se ligasse já tinham caído Ministros, Chefes Militares e por aí adiante. É que este caso é uma autêntica vergonha nacional.
- Não evitaram o assalto a Tancos; não descobrem os assaltantes; não sabem que material havia em Tancos; e muito menos que material foi efectivamente roubado.
- Pior imagem dos militares e da instituição militar era impossível.
- Agora, a nova fase da novela, é a cobardia de atirar as culpas para cima das autoridades judiciais e policiais. Mas isto é uma fraude.
a) À investigação cabe investigar e descobrir os assaltantes;
b) Mas ter um inventário do material que existe; saber que material foi roubado; que falhas é que o sistema tinha; e de quem é a responsabilidade, tudo isso é matéria que cabe aos militares e políticos.
c) E, em tudo isto, Chefes Militares e Governo falharam.
AS INTENÇÕES DE TRUMP
- No plano externo, Trump voltou a dominar a semana. E voltou ao seu registo habitual: desprezo pela NATO; afronta aos europeus; embirração com Merkel; má educação com a PM britânica; indelicadeza com a Rainha Isabel II.
- O mais grave é que, por baixo do seu registo de loucura e falta de decência, há uma estratégia perigosa:
a) Primeiro – Percebe-se que a estratégia de Trump é a de enfraquecer e dividir a UE. Por isso:
- Defende um Brexit duro;
- Dá força aos populistas e eurocépticos na questão das migrações;
- Ataca forte e feio a Alemanha.
b) Segundo – Parece que Trump quer um sistema internacional assente num tripé – EUA, Rússia e China –, em que a UE fica de fora. Isto é muito preocupante. Para a UE um verdadeiro pesadelo.
- No meio de tudo isto, é pena que seja um irresponsável como Trump a dizer aos europeus uma verdade que os europeus não gostam de ouvir: a segurança paga-se. E, ao longo dos anos, os europeus pagaram pouco e descansaram à sombra dos americanos. Agora, têm de ouvir estes raspanetes. Não havia necessidade.