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15 de Julho de 2018 às 21:14

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador faz o Balanço do Mundial, fala de Ronaldo na Juventus, as lições da Tailândia, o Estado da Nação, a Sondagem SIC/Expresso, a novela de Tancos e as intenções de Trump.

  • ...

BALANÇO DO MUNDIAL

 

  1.      Um Mundial com duas características:
  •        Foi um dos Mundiais com melhor organização. A Rússia marcou pontos.
  •        Foi um dos Mundiais mais competitivos. Nenhuma selecção era vista como imbatível e mesmo as teoricamente mais favoritas ficaram pelo caminho.
  •        Foi um dos Mundiais mais inovadores. O vídeo-árbitro foi o grande exemplo.

 

  1.      Em termos de sintético balanço:
  •        A melhor selecção – França
  •        A maior desilusão – Alemanha (seguida de Espanha e Argentina)
  •        A maior surpresa – Croácia (seguida de Bélgica)
  •        O melhor jogador – Mbappé (seguido de Modric)
  •        O melhor guarda-redes – Courtois

 

 

RONALDO NA JUVENTUS

 

  1.      O que levou Ronaldo a querer sair para a Juventus?

a)     Primeiro: não se sentia devidamente valorizado no Real. Não se sentiu apoiado na recente questão fiscal. E, sobretudo, sentia-se discriminado do ponto de vista salarial – ganhava menos que Messi e Neymar, sendo o melhor do mundo.

b)     Segundo: mas não foi só o aspecto financeiro que ditou a saída. A prova está no facto novo que aqui revelo em primeira mão: nestes últimos dias, já depois da proposta da Juventus, o Real Madrid fez a Ronaldo uma contraproposta de valor superior à do clube italiano. O Real ofereceu 32 milhões de euros/ano a Ronaldo, acima dos 30 milhões propostos pela Juve. Mesmo assim, Ronaldo recusou. Estava determinado a sair.

c)      E aqui é que entra o desafio desportivo. Ronaldo sai também por causa do desafio desportivo. No Real, Ronaldo já provou tudo e já ganhou tudo. Na Juventus é um novo desafio. E, se ganhar uma Liga dos Campeões em Itália, faz história. Porque isso significa ganhar a Liga dos Campeões por três clubes diferentes – em Manchester, em Madrid e em Turim.

 

  1.      Para Ronaldo isto é simplesmente extraordinário. Conseguir, aos 33 anos, já nos últimos anos da carreira, este contrato milionário  é qualquer coisa de fabuloso. Como é fabulosa a forma como tudo isto foi feito. Com grande profissionalismo e em grande segredo. Há meses que tudo está pensado e preparado. Na final da Champions, Ronaldo deu um sinal. Agora faz-se a festa.

 

  1.      Para a Juventus é tudo dinheiro em caixa:
  •        Tinha uma boa equipa. Passa a ter uma super equipa.
  •        Tem estado próximo de vencer uma Liga dos Campeões. Agora pode ganhar mesmo.
  •        Vai ter um retorno brutal. E apostar forte no mercado asiático.

 

AS LIÇÕES DA TAILÂNDIA

 

  1.      O caso do resgate dos jovens na Tailândia emocionou todo o mundo. A mim impressionou-me sobremaneira o profissionalismo com que este resgate foi preparado e executado.
  •        Apesar de terem bons mergulhadores, as autoridades da Tailândia foram buscar os melhores dos melhores a várias partes do mundo. Não houve complexos nem preconceitos.
  •        O próprio médico que participou nas operações veio da Austrália.
  •        Toda a operação foi preparada com rigor, ao detalhe, com discrição e com regras fortíssimas para os pais dos jovens, para os media, para as forças de segurança. Tudo para evitar o aparato e o show-off e favorecer a eficácia e a discrição.

 

  1.      Pensemos, por contraste, no que sucedeu por cá nos Incêndios de 2017:
  •        Em vez de profissionalismo, houve amadorismo;
  •        Tudo foi feito em cima do joelho – Até a nomeação de responsáveis da Protecção Civil em cima da época de incêndios;
  •        Falhou tudo. A coordenação; o combate; as comunicações; o Siresp.
  •        Entre Julho e Outubro, não se aprendeu nada. E a tragédia repetiu-se.

 

  1.      Como se vê, nestas matérias, não há milagres. Há profissionalismo ou não há.
  •        Na Tailândia houve e a tragédia foi evitada.
  •        Em Portugal não houve e o resultado foram duas tragédias.
  •        Esta comparação entre Portugal e a Tailândia dá que pensar.

 

 

O ESTADO DA NAÇÃO

 

  1.      Um ano depois, como está o país? Tentando ser o mais possível objectivo, há que analisar os aspectos positivos e os aspectos negativos:

a)     ASPECTOS POSITIVOS:

  •        Boa imagem externa do país
  •        Crescimento económico acima de 2%
  •        Baixo desemprego
  •        Défice próximo de zero
  •        Crescimento do Turismo e das Exportações
  •        Melhoria do estado da Banca

b)     ASPECTOS NEGATIVOS:

  •        Dívida pública demasiado alta
  •        Vinte países europeus crescem mais que Portugal
  •        Carga fiscal excessiva
  •        O estado da Saúde
  •        A ausência de reformas

 

  1.      Em conclusão: o país está naturalmente melhor, mas isso é normal. Já não há o risco de bancarrota; já não há troika e a economia europeia ajuda. O que importa é que há algumas questões essenciais a reflectir:

a)     Primeiro: ECONOMIA. Estamos a crescer mas estamos a crescer menos que os países europeus que são do nosso campeonato. Logo, estamos a perder. A Irlanda, por exemplo, que teve um resgate tão duro quanto o nosso, está a crescer mais do dobro de Portugal.

b)     Segundo: SAÚDE. Todos queremos um SNS de qualidade. Mas a verdade é que o nosso SNS todos os anos perde qualidade. E os portugueses sentem-no. A prova aqui está: já há mais de 2,5 milhões de seguros privados de saúde. Até nos anos da troika, em que as pessoas perderam poder de compra, os seguros de saúde cresceram. Afinal, o povo descrê do SNS e procura uma alternativa.

c)      Terceiro: SUSTENTABILIDADE. O país está melhor, é verdade; mas é preciso que esta melhoria seja sustentável. E, para ser sustentável, são precisas políticas estruturais e reformas de fundo (na segurança social, na demografia, na competitividade). Não chegam as reversões e a distribuição de rendimentos. É preciso ir mais longe.

 

 

 

 COSTA CONTRA SANTOS SILVA?

 

  1.      O facto político da semana não foi o debate do Estado da Nação. Esse não teve história. A novidade veio de fora do Parlamento – da entrevista que Santos Silva deu ao Público e de uma posterior declaração de António Costa, que foi vista como estando a desmentir o seu Ministro.
  1.      Nem o PM desmentiu Santos Silva, nem o Ministro disse nada de errado.

António Costa estava a falar do governo actual e Santos Silva do governo futuro; o PM estava a reafirmar o seu apreço pela geringonça porque quer o próximo orçamento aprovado, enquanto Santos Silva estava a reflectir sobre as condições futuras de governabilidade. Ou seja: um falava do presente, o outro do futuro; um jogava no curto prazo e o outro no médio prazo; um fazia de polícia bom, o outro fazia de polícia mau.

 

  1.      Santos Silva não disse nada de errado. Tudo o que disse é certíssimo (que o futuro acordo de governo tem de ter políticas estruturais no território, ambiente, energia, economia e política europeia). Que não é possível continuar a governar só com reversões e distribuição de rendimentos. É óbvio.
  •        Santos Silva disse o que António Costa também pensa, só que não é politicamente correcto dizê-lo agora.

 

  1.      Em síntese: de tudo isto se concluem três coisas simples:

a)     Primeira, que o próximo OE vai mesmo ser aprovado (o PM deu o sinal que faltava dar);

b)     Segunda, que uma futura geringonça, total ou parcial, não é repetível, porque PS, BE e PCP não se entendem nas questões de fundo;

c)      Terceira, que ou o PS tem uma maioria ou o risco de pântano é muito sério.


SONDAGEM SIC/EXPRESSO

 

Três apontamentos:

 

  1.      Para o PS, esta sondagem é perfeita. Feita de encomenda não sairia melhor. Dá-o à beira da maioria absoluta, o que ajuda, desde logo, a aprovar o Orçamento. Com este resultado ninguém se atreve a chumbá-lo.

 

  1.      Para o PCP e BE, os resultados são assim, assim. Nem desconfortáveis nem muito confortáveis.

 

  1.      Para o PSD e o CDS, são maus.

a)     O CDS não descola, apesar dos desejos saídos do último Congresso.

b)     O PSD de Rio está ainda pior do que o PSD de Passos Coelho.

  •        Em Dezembro, último mês da liderança de Passos, no mesmo barómetro, o PSD tinha 28%, agora baixa para 27%; o PS tinha 40%, agora subiu para 42%.
  •        Ou seja, até ao momento, a estratégia de Rui Rio não está a resultar. Ele bem pode dizer que o país percebe a sua mensagem melhor que o partido. O problema é que a sondagem desmente essa ideia.

 

 

A NOVELA DE TANCOS

 

  1.      O povo praticamente não liga a estes assuntos porque se ligasse já tinham caído Ministros, Chefes Militares e por aí adiante. É que este caso é uma autêntica vergonha nacional.
  •        Não evitaram o assalto a Tancos; não descobrem os assaltantes; não sabem que material havia em Tancos; e muito menos que material foi efectivamente roubado.
  •        Pior imagem dos militares e da instituição militar era impossível.

 

  1.      Agora, a nova fase da novela, é a cobardia de atirar as culpas para cima das autoridades judiciais e policiais. Mas isto é uma fraude.

a)     À investigação cabe investigar e descobrir os assaltantes;

b)     Mas ter um inventário do material que existe; saber que material foi roubado; que falhas é que o sistema tinha; e de quem é a responsabilidade, tudo isso é matéria que cabe aos militares e políticos.

c)      E, em tudo isto, Chefes Militares e Governo falharam.

 

 

 

 AS INTENÇÕES DE TRUMP

 

  1.      No plano externo, Trump voltou a dominar a semana. E voltou ao seu registo habitual: desprezo pela NATO; afronta aos europeus; embirração com Merkel; má educação com a PM britânica; indelicadeza com a Rainha Isabel II.

 

  1.      O mais grave é que, por baixo do seu registo de loucura e falta de decência, há uma estratégia perigosa:

a)     PrimeiroPercebe-se que a estratégia de Trump é a de enfraquecer e dividir a UE. Por isso:

  •        Defende um Brexit duro;
  •        Dá força aos populistas e eurocépticos na questão das migrações;
  •        Ataca forte e feio a Alemanha.

b)     SegundoParece que Trump quer um sistema internacional assente num tripé – EUA, Rússia e China –, em que a UE fica de fora. Isto é muito preocupante. Para a UE um verdadeiro pesadelo.

 

  1.      No meio de tudo isto, é pena que seja um irresponsável como Trump a dizer aos europeus uma verdade que os europeus não gostam de ouvir: a segurança paga-se. E, ao longo dos anos, os europeus pagaram pouco e descansaram à sombra dos americanos. Agora, têm de ouvir estes raspanetes. Não havia necessidade.

 

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