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07 de Maio de 2017 às 21:24

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da análise semanal que Marques Mendes faz na SIC, onde declara estar "em curso um processo de eleitoralismo da parte do Governo como já há muito não se via".

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AS ELEIÇÕES EM FRANÇA

 

A Europa andou meses e meses em stress por causa das eleições em França. Agora, com a vitória de Macron, respira de alívio. Alívio político e económico. Esta vitória vai fazer sorrir os políticos e animar as bolsas.

Mas, atenção! Se a Europa não perceber a mensagem e não mudar de política, Le Pen acabará por vencer daqui a 5 ou 10 anos.

 

O debate televisivo desta semana teve mais importância do que se imagina. E não foi apenas o de reforçar a vitória de Macron e acentuar a derrota de Le Pen.


Os méritos desse debate, que vão perdurar no futuro, são sobretudo dois: por um lado, foi a primeira vez que alguém afrontou e esmagou Le Pen no plano do debate de ideias; por outro lado, esse debate mostrou que Macron tem características de líder – sabe o que quer, sabe para onde vai, tem uma estratégia na cabeça e não faz cedências tácticas.

 

Duas questões para o futuro: Macron vai ter força para reformar a França?

Estratégia e vontade política tem. Falta saber agora se vai ter apoio parlamentar. É por isso que as eleições legislativas de Junho são uma espécie de 3ª volta destas Presidenciais. Vamos ver quantos deputados o seu movimento elege. Há uma sondagem que lhe prevê um resultado próximo da maioria absoluta.

Macron vai render-se à Alemanha, como fez Hollande, ou vai repor o eixo franco-alemão que tão importante foi no passado para projectar a Europa?


Acredito que vai ser diferente de Hollande. Este homem tem convicções fortes, um pensamento estruturado, firmeza e visão estratégica.


RUPTURA PS/RUI MOREIRA

 

Primeira questão – Por que é que isto sucedeu? A grande razão é que tudo isto era um casamento por conveniência, em que o noivo (Rui Moreira) não queria a noiva (PS); e em que parte da família da noiva (gente do PS) não queria o noivo (Rui Moreira). A partir daí houve perversidade e ruptura.


Primeiro, a perversidade de Ana Catarina Mendes. Estava no ar a ideia de que havia uma coligação informal entre Moreira e o PS, com um acordo secreto em que a seguir às eleições Rui Moreira sairia para o Governo ou para o Parlamento Europeu e que Pizarro seria o Presidente da Câmara. O PS nacional, através de Ana Catarina, em vez de desmentir isso, acabou indirectamente por alimentar a ideia.


Depois, o incómodo de Rui Moreira. Sem um desmentido claro desta ideia, ou por Costa ou pelo PS nacional, Rui Moreira ficou numa posição incómoda. Parecia uma marionete nas mãos do PS. Ainda por cima era o único a desmentir uma ideia falsa. Resolveu então pôr os pontos nos is e exercer a autoridade.

No final, a ruptura. Perante isto, ao PS não restava outra hipótese que não fosse romper. Se não fizesse isso era a humilhação total.

 

Segunda questão – Quem ganha e quem perde?

O grande vencedor é Rui Moreira. Ia ter uma maioria absoluta partilhada com o PS. Assim, passa a ter uma maioria absoluta que é só sua. Logo, ganha em toda a linha. Mostra autoridade e liderança. E no final, com uma maioria, é uma espécie de Macron Português, que derrota os dois grandes partidos.


O grande perdedor é o PS. Sai de rastos.

No presente, até às eleições, está fragilizado e sem discurso. Fragilizado porque tem uma candidatura de obrigação e não de convicção. Sem discurso, porque se considerava e considera que Rui Moreira é um bom Presidente, evidentemente que não tem discurso para disputar a presidência. Logo, Pizarro é candidato a vereador, não a presidente.


No futuro, depois das eleições, também vai perder poder. Até agora, o PS tinha poder porque Rui Moreira não tinha maioria. No futuro, se Rui Moreira tiver uma maioria absoluta, já não precisa, como até agora, do PS e de Manuel Pizarro. Até lhe pode dar à mesma o estatuto de vereador a tempo inteiro. Mas já não lhe dá poder real e efectivo. A isto chama-se o PS ser adversário de si próprio. 

AS CRÍTICAS DE MARIA LUÍS ALBUQUERQUE A MARCELO

 

Maria Luís Albuquerque foi uma boa Ministra das Finanças. Como dirigente da oposição é um erro de casting. Agora, na oposição, sempre que é notícia é por más razões:

Ou foi a polémica há meses do seu emprego no sector privado;

Ou são as críticas ao Presidente da República;


E até agora, novamente, a ideia da eventual privatização futura da Caixa Geral de Depósitos. Mais uma tontaria.

 

Críticas ao Presidente da República – São um autêntico disparate. Mais um tiro no pé. Por três razões essenciais:


Primeiro: ao criticar os números da economia, passa novamente ideia de que o PSD está incomodado por as coisas no país correrem bem (é um tropismo para o ressentimento que nunca mais passa).


Segundo: um partido criticar um Presidente da República é sempre contraproducente. Por maioria de razão quando o Presidente é altamente popular e é oriundo do mesmo partido.


Terceiro: é não perceber que o adversário do PSD é o Governo e não o Presidente. Quando houver eleições, o PSD vai disputá-las com o PS e não com o Presidente da República.


No momento em que o PSD critica o PR, não só deixa o Governo à solta como permite que o Governo faça uma colagem ainda maior ao Presidente.


O que o PSD devia fazer era o contrário – era explorar as divergências Governo/Presidente, como se vê, no caso dos dividendos do Banco de Portugal.


Tudo isto prova que a política parece uma coisa fácil. Como se vê, não é tão fácil quanto isso.

 

A REDUÇÃO DO DESEMPREGO

 

A novidade dos tempos que vivemos é que há muitos anos não tínhamos resultados tão bons no domínio económico e social.

Domínio social – O desemprego abaixo dos 10% e com tendência para continuar a baixar;

Domínio económico – A economia está a crescer próximo dos 2%. Não sendo nada de extraordinário para o que o país precisa, é um grande resultado face à performance dos últimos anos.

 

Leitura económica

Por que é que isto sucede? Em grande medida esta tendência, que já vinha do tempo do Governo anterior, acelerou-se agora por força, sobretudo de dois factores: o crescimento do turismo e a retoma económica na Europa.

Estamos no bom caminho? Estamos, mas devíamos faz ser mais ambiciosos.

A  Espanha e a Irlanda (países que também tiveram resgates) estão a crescer muito mais.

Falta uma estratégia ambiciosa. Estratégia que devia passar por reduzir o IRC; reduzir custos de contexto (caso da energia); apostar numa administração pública mais amiga da economia; investir em maior liberalização e regulação económica.

Nem Governo nem oposição apresentam propostas nesse sentido.

 

Leitura política

A grande leitura política é que está em curso um processo de eleitoralismo da parte do Governo como já há muito não se via.

São os resultados da economia.

É a colagem do PM à próxima visita do Papa (para além da tolerância de ponto, vai estar presente em todos os momentos, nos dias 12 e 13).

É a decisão da saída de Portugal do Procedimento de Défice Excessivo (a decisão da Comissão Europeia vai ser tomada entre 20 e 30 de Maio).

É o charme que António Costa faz aos empresários.

A oposição ainda não percebeu que António Costa está a ocupar o espaço que é tradicionalmente do PSD e do CDS.

António Costa fez com o PCP e o BE uma espécie de tratado de Tordesilhas – eles, PCP e BE, tratam do eleitorado mais à esquerda; ele, António Costa, trata do centro (centro-esquerda e centro-direita).

 

A MODERAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA

 

Primeiro: Os factos

O Bloco de Esquerda aprova um relatório sobre a dívida em que faz uma cambalhota e se aproxima das posições do PS.

Francisco Louçã, o ideólogo do Bloco, dá uma entrevista ao Público em que reforça uma imagem de forte moderação das posições do Bloco de Esquerda.

 

Segundo: qual a leitura política de tudo isto?


Nada disto sucede por acaso. Esta moderação das posições do Bloco significa que os bloquistas estão com uma enorme apetência pelo poder.

Em concreto significa isto: o Bloco está a preparar o futuro. O pós-eleições de 2019. Se o PS não tiver maioria absoluta e a geringonça a três não se verificar (por exemplo, com o PCP a não querer reeditar esta solução), o Bloco está a preparar as condições para ir para o Governo sozinho com o PS.

E, para isso, tem que "moderar" as suas posições políticas. Ainda os veremos a moderar as suas posições sobre a Europa e o Euro.

Há uma enorme diferença entre a estratégia do PCP e a do BE.

O PCP tem um pé dentro e um pé fora. Está próximo do poder mas quer mostrar-se distante do poder.

O BE está próximo do poder mas quer entrar mesmo no poder. Está em curso a syrização do Bloco de Esquerda.

 

 

CGD – O FECHO DE BALCÕES

 

Este é o caso típico de uma polémica em que ambas as partes têm razão.

 

Tem razão a população do concelho de Almeida. Porque está fustigada pela desertificação; pela perda de população; pelo abandono do interior; pelo encerramento de serviços públicos. E tem razão. Se o concelho não tivesse perdido população, o balcão da CGD não encerraria. Só que a culpa da perda de população não é da CGD. É dos vários governos que há muitos anos descuram uma política de fortes incentivos ao investimento no interior.

 

Tem razão a CGD. Porque está obrigada a cumprir um plano de reestruturação aprovado por Bruxelas. Um plano duro que impõe redução de pessoal e fecho de balcões. Só que a culpa não é de Paulo Macedo ou desta Administração da Caixa. A culpa é dos governos anteriores, sobretudo o de Sócrates, e das Administrações anteriores da Caixa, sobretudo de Santos Ferreira e Armando Vara, que deixaram chegar a Caixa ao estado em que está. Se a CGD não tivesse chegado a este estado, não precisava de recapitalização de que precisou e, não precisando dessa recapitalização, não haveria necessidade de cortar tantos balcões e despedir tantos funcionários.

 

Nota final: mesmo assim, a CGD tinha vantagem em dialogar com a Câmara e encontrar rapidamente uma solução que, sem grande despesa, acautelasse sobretudo a posição dos idosos e reformados de Almeida.

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