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20 de Novembro de 2016 às 21:03

Notas da semana de Marques Mendes

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.

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AS MUDANÇAS NO BCP

 

  1.       A decisão hoje anunciada pelo BCP é uma excelente decisão. Porque:
  •          Reforça o núcleo accionista do Banco e dessa forma a sua solidez;
  •          Abre as portas a que dois accionistas de referência (Fosun e Sonangol) possam chegar no futuro aos 30% de capital cada um, o que representa uma prova de confiança no Banco;
  •          E, sobretudo, é uma excelente decisão porque foi consensual entre todos os accionistas (chineses, angolanos, espanhóis e portugueses), gerida e negociada pela Administração do Banco com enorme talento e profissionalismo. Parabéns a Nuno Amado e à sua equipa.

 

  1.       Outra boa decisão é a que vem já a seguir. Ao que apurei, o BCP vai pagar ao Estado, o mais tardar até Fevereiro de 2017, os 750 milhões de euros do empréstimo que o Estado lhe fez (os chamados CoCoS).

O BCP vai começar o novo ano com o pé direito. Uma boa notícia para o país.

 

O IMPASSE NA CGD

 

  1.       A responsabilidade do Governo – Neste processo, o grave não é ter havido acordo escrito ou compromisso escrito. O grave são duas coisas:
  •          Primeiro: ter havido acordo. Seja verbal, seja escrito. Vale o mesmo. O Governo nunca devia ter concordado com o pedido feito por António Domingues. O pedido era legítimo. O acordo é ilegítimo.
  •          Segundo: o que é ainda mais grave é que o acordo nunca foi tornado público. Foi escondido. Para ver se ninguém descobria a marosca. Porque sabiam que estavam a cometer um erro colossal. Por isso é que, ainda hoje, Mário Centeno e Mourinho Félix fogem a dizer a verdade. Uma certa cobardia e indignidade.

 

  1.       A responsabilidade dos gestoresO assunto arrasta-se há um mês. O Tribunal Constitucional decidiu há quase duas semanas. E os gestores da Caixa, em vez de decidirem o que fazer, andam a adiar e a empatar jogo. Aqui, sim, têm muita culpa.
  •          Estão a fazer uma provocação ao poder político. Ao Presidente da República e aos partidos, que pedem rapidez.
  •          Estão a desgastar a imagem da Caixa e dos outros Bancos. Como disse, e bem, Faria de Oliveira em nome dos vários Bancos.
  •          Estão a alimentar a luta política em vez de retirarem a Caixa do jogo político. O que está a incendiar a luta política é este atraso na decisão por parte dos gestores. Um atraso lamentável.

 

  1.       O que vai fazer António Domingues? Sai ou fica? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Ao que apurei, o que vai suceder é o seguinte:
  •          Primeiro: todos os membros da Administração da Caixa vão cumprir a lei e vão apresentar as declarações ao TC, pedindo ao mesmo tempo, que elas se mantenham confidenciais. António Domingues já comunicou isso mesmo, e por escrito, ao Ministério das Finanças.
  •          Segundo: se a confidencialidade não for aceite pelo Tribunal – o que é o mais provável – António Domingues ficará na Caixa. E bem assim a maioria dos gestores. Só sairão, em princípio, três ou quatro. Dois deles são os estrangeiros. Ou seja, o essencial da equipe fica.

 

UMA BOA SEMANA PARA O GOVERNO

 

  1.       Esta foi uma boa semana para o Governo. O inesperado crescimento do PIB no 3º trimestre; a aprovação do Orçamento em Bruxelas; a não suspensão dos Fundos; e os elogios do Comissário Pierre Moscovici. Não fosse a CGD e a subida dos juros da dívida e seria uma semana perfeita.

 

  1.       O crescimento do PIB é a notícia mais importante.
  •          Porque foi o melhor resultado de toda a UE;
  •          Porque um crescimento assim já não acontecia desde 2013;
  •          Porque ficou bem acima das expectativas de todos os analistas;
  •          Porque vai permitir um crescimento de cerca de 1,2% ou mais no final do ano. Não é extraordinário mas é melhor do que se esperava.

 

  1.       O curioso é que este crescimento inesperado deveu-se ao bom desempenho das exportações e do turismo. E não ao efeito do consumo. Ou seja, um bom resultado que é construído com base na estratégia do Governo de Passos Coelho (o motor das exportações) e não com base na estratégia do Governo Costa (o motor do consumo).

 

  1.       Finalmente, o Governo devia agradecer ao PSD. Este resultado só é satisfatório porque as expectativas estavam muito baixas.
  •          E quem mais contribuiu para baixar as expectativas? O PSD. Ao alimentar o discurso do diabo.
  •          Conclusão: o Governo devia agradecer ao PSD por ter baixado tanto as expectativas. E o PSD devia perceber finalmente que o seu discurso negativo é um erro. Só favorece o adversário.

 

RECUO DO GOVERNO NAS PENSÕES MÍNIMAS

 

  1.       Tanta polémica, tanta controvérsia e, afinal, o Governo recuou. Não queria fazer o aumento extraordinário das pensões mais baixas de todas (abaixo dos 265€), mas foi obrigado a recuar.
  •           Por que é que o Governo recuou? Porque teve medo de uma coligação anti-Governo (PCP/BE/PSD/CDS).

 

  1.       Segundo apontamentoÉ um recuo positivo. Evitou-se uma injustiça. Não fazia sentido deixar de fora do aumento extraordinário de Agosto as pensões mais baixas de todas (as mínimas das mínimas, sociais e rurais). Bom trabalho do PCP e do BE que obrigaram a este recuo do Governo.

 

  1.       Último apontamentoSó não se percebe esta diferença de critérios:
  •          As pensões mais baixas têm um aumento até 6€;
  •          As outras (um pouco mais altas) têm um aumento de 10€.
  •          Parece que, nos pensionistas mais pobres, há filhos e enteados, pensionistas de primeira e de segunda categoria.

 

 

A PERDA DE DISCURSO DO PSD

 

  1.       Para o PSD a notícia do crescimento do PIB no terceiro trimestre foi um murro no estômago. E significa duas coisas:

a)      Primeiro: que o discurso a anunciar a catástrofe e o diabo só dá asneira.

b)      Segundo: que o PSD está a ficar sem causas.

  •          Défice – passou a ser uma causa do Governo;
  •          Crescimento económico – passou a ser uma causa do Governo.

 

  1.       O que deve fazer o PSD? Duas coisas:

a)      Primeiro: tem de escolher novas causas. Algumas sugestões: reforma do sistema político (apostar no mérito e combater o clientelismo); reforma na educação (introduzir o ensino dual); reforma do IRC (baixar o imposto para atrair investimento – a Hungria baixou o seu IRC para 9%); capitalizar as empresas (quase metade tem resultados líquidos negativos); economia do conhecimento (levar investigadores para dentro das empresas).

b)      Segundo: tem de fazer um discurso diferente. Em vez de anunciar o diabo, o que o PSD deve fazer é elevar as expectativas e colocar pressão e exigência sobre o Governo. Um exemplo:

  •          O país está a crescer. Muito bem. Mas é pouco. Há condições para crescer mais. Olhe-se para a vizinha Espanha.
  •          Ou seja, em vez do discurso negativo, o que o PSD tem de fazer é o discurso pela positiva, de mais ambição e de maior exigência.
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