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Opinião
06 de Novembro de 2016 às 21:12

Notas da semana de Marques Mendes

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.

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MARCELO PRESSIONA A CAIXA

 

O Presidente falou claro e grosso. A sua declaração produziu três efeitos:


Primeiro: deu uma monumental bofetada no ministro das Finanças. Centeno tinha dito que os administradores da CGD estavam desobrigados de apresentar declarações ao TC. Marcelo veio dizer o contrário. Ou seja, desautorizou o ministro das Finanças. Centeno já tinha sido subtilmente desautorizado pelo PS e pelo PM. Agora, foi desautorizado pelo Presidente da República sem dó nem piedade.


Segundo: fez um xeque-mate a António Domingues e aos gestores da Caixa. Os gestores deixaram-se colocar numa posição insustentável. Primeiro, não têm o apoio de nenhum partido; depois, António Costa tirou-lhes o tapete; finalmente, nenhum português percebeu até hoje as razões das recusas em apresentar as declarações ao TC. Pois bem. Marcelo fez-lhes um xeque-mate: têm de apresentar declaração; se o TC tiver outra interpretação, a AR fará nova lei; e, no final, se não aceitarem demitam-se. Xeque-mate.

 
Finalmente: o Presidente deu uma ajuda a António Costa. Primeiro, ao corroborar a tese do PM (Costa já tinha sinalizado que os gestores tinham de apresentar as declarações); depois, ao retirar a pressão sobre o Governo e ao colocá-la em cima dos gestores da CGD e em cima do Tribunal Constitucional.

 
Aqui chegados, as pessoas perguntam: mas como é possível tamanha trapalhada? Do que apurei, podem concluir-se os seguintes factos:

Domingues fez ao Governo o pedido para ser desobrigado de apresentar as declarações ao Tribunal Constitucional (até terá apresentado um projecto de lei nesse sentido);
Mário Centeno e o seu secretário de Estado Mourinho Félix acabaram a fazer-lhe essa promessa, embora a escondendo da opinião pública;
Só que o Decreto Lei de Julho foi aprovado em Conselho de Ministros no pressuposto de que as declarações seriam exigíveis. Os ministros saíram da reunião com essa garantia.

Conclusão: ou houve algum mal-entendido, ou mais uma descoordenação, ou o ministro das Finanças geriu este processo com enorme amadorismo. O que já é habitual.  

 

 

E AGORA? DOMINGUES RECUA OU DEMITE-SE?

 
Ainda está tudo muito indefinido. Neste momento há quatro hipóteses em cima da mesa:


a) 
Ou apresentam voluntariamente as declarações;

b) Ou são obrigados a fazê-lo pelo TC;

c) Ou são forçados a fazê-lo por lei da AR;

d) Ou se demitem.

 
Eu, se estivesse no lugar deles, apresentava já amanhã, de forma voluntária, as declarações ao Tribunal Constitucional, invocando o apelo feito pelo Presidente da República. Corresponder a um apelo do PR é um acto de dignidade e humildade. É a melhor saída que podem ter para o impasse criado.

As alternativas que têm são todas humilhantes:

Primeira alternativa: não fazem nada voluntariamente e aguardam uma ordem do Tribunal. É uma humilhação. Humilhação muito provável, uma vez que, segundo apurei, o mais provável é o TC secundar a interpretação do PR e notificá-los mesmo a apresentar as declarações;


Segunda alternativa: serem forçados pelo Parlamento. É que, se o Tribunal diz que a lei de 1983 não se aplica (solução pouco provável), então os partidos vão fazer nova lei na AR para se ultrapassar o impasse. E isso é uma nova humilhação.

Terceira alternativa: demitem-se. Por muitas razões que invoquem, ficam péssimo na fotografia. Saem de rastos. Dão cabo da Caixa, da sua carreira e do seu futuro. Ninguém os defenderá.

 

Finalmente, o efeito bom-senso e humildade. Depois da declaração do PR, acho que António Domingues devia ter um gesto de humildade. Afinal, tem a equipa que queria, tem o salário que queria, tem a recapitalização que queria. É tempo de não esticar mais a corda. Está a ser um embaraço pra toda a gente. 

NOVO BANCO

5 propostas – Muito positivo para um banco com prejuízos. Todas reconhecem o potencial do Banco.
5 propostas que valorizam, todas elas, a Rede de Retalho do Banco – sobretudo a rede de apoio às PME.
5 propostas – quatro para venda directa; uma (chineses) para tomarem uma participação de controlo e prepararem uma futura venda em Bolsa. 

Conclusões: 

a) Primeiro: pelas propostas apresentadas, está garantido que o Banco será mesmo vendido. O processo não será anulado.

b) Segundo: está garantido que a decisão final será tomada até final deste ano.



O 2º ORÇAMENTO DE COSTA

 
Há um ano poucos podiam imaginar o que está a suceder: António Costa está de pedra e cal; já teve dois orçamentos aprovados e sem dificuldades de maior; e o mais provável é que daqui a um ano consiga aprovar o terceiro. Ou seja: António Costa é o Senhor Todo-Poderoso.

 
Por que é que tudo isto sucede? Por três razões essenciais:

a) Primeira: António Costa não tem oposição. Como se vê no Parlamento e se reflecte nas sondagens.     

Debate na AR esta semana – a oposição não fez mossa no Governo, não lhe criou uma única dificuldade
Sondagens – o PS a subir e o PSD em queda. Ainda esta semana o PSD registou (sondagem da Aximage) o resultado mais baixo dos últimos 12 meses (já são 10 pontos de diferença para o PS).


b) 
Segunda: António Costa controla completamente os seus parceiros de coligação. PCP e BE estão totalmente domesticados. Primeiro, porque gostam do poder; depois, porque não arriscam provocar uma crise; terceiro, porque a forma como o PSD actua ajuda a cimentar a coligação governamental.

c) Terceira razão: a cobertura do Presidente da República. António Costa está a beneficiar hoje do mesmo efeito que o ex-PM Cavaco Silva beneficiou entre 1986 e 1991 do apoio público do ex-Presidente Mário Soares.

Ou seja, António Costa tem apoio à esquerda, ao centro e à direita. Pedir mais é impossível.


Conclusão: Enquanto estas três condições se mantiverem, dificilmente António Costa perde o poder.

 

 

WEB SUMMIT

 
É um grande momento para Portugal. Durante uma semana Lisboa vai ser a capital mundial do empreendedorismo e das tecnologias de informação. Basta ver os seguintes números: 55 mil participantes, contra 40 mil o ano passado em Dublin; 15 mil empresas participantes; Mais de 7 mil presidentes de grandes empresas; 165 países representados (mais de 80% dos países do mundo).

 
É uma grande oportunidade para a nossa economia.


a) O ano passado, na Irlanda, a Web Summit teve um impacto directo na economia de 100 milhões de euros. Este ano, estima-se o dobro (200 milhões);


b) O ano passado, o levantamento de financiamento foi de mil milhões/ano. Estima-se o dobro este ano.

 
É Portugal nas "bocas do mundo" pelas melhores razões. Basta ver quem são os Media Partners Internacionais: Finantial Times; CNBC;     Bloomberg; Guardian; Newsweek.

 
Finalmente, um cumprimento aos maiores responsáveis por esta iniciativa. Os ex-governantes Paulo Portas e Leonardo Matias, o Secretário de Estado João Vasconcelos e o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.

 

AS FALSAS LICENCIATURAS 

 
Os factos:

Duas entrevistas polémicas: do Ministro da Educação e do seu ex-Secretário de Estado, por causa de um chefe de gabinete.
Duas atitudes lamentáveis. Acusações e contra-acusações entre um governante e um ex-governante.

O que é que tudo isto significa?


a) 
Primeiro: tudo isto é lastimável. De parte a parte. São dois cidadãos – um Ministro e outro ex-Secretário de Estado – a lavarem roupa suja na praça pública e a mostrarem, em directo e ao vivo, que não têm sentido de estado.

b) Segundo: tudo isto é ridículo. Viemos a saber que dois governantes passaram horas e horas a litigar, não pela melhoria da educação e do desporto, mas sim por uma Adjunta e um chefe de gabinete. Isto é ridículo.


c) 
Terceiro: para o grande público (e até muitos jornalistas) tudo isto pode ser surpresa. Mas infelizmente é mais habitual do que se pensa. Isto é a consequência do efeito da pressão dos aparelhos dos partidos e das juventudes partidárias na colocação das clientelas nos gabinetes governantes.

Sucede com o PS e sucede com o PSD.
Sucede mais com Ministros Independentes ou que não têm grande peso político para baterem o pé aos aparelhos partidários.
E sucede porquê? Porque os partidos querem colocar pessoas nos gabinetes ministeriais; e os Ministros querem agradar aos chefes partidários para não serem internamente criticados.

 

FRANÇA ALDRABA DÉFICE

 
Esta semana veio a saber-se que a França e a UE fizeram um acordo para que a França pudesse maquilhar o seu défice (apresentando previsões falsas) e evitasse, desse modo, ser sancionada por Bruxelas por não cumprir a meta do défice.

 
Mais do que grave, o que isto revela é o retrato actual da Europa. O estado a que chegou a Europa.


Já não é apenas uma Europa sem estratégia, sem liderança e sem decisão. É mais do que isso.

Primeiro: é uma Europa a fingir, a fazer de conta. Faz de conta que tem regras. Faz de conta que aplica regras. Faz de conta que cumpre regras. É a Europa do faz de conta.

Segundo: é uma Europa com dois pesos e duas medidas. Em teoria, todos os Estados são iguais. Na prática, os mais fortes safam-se e os mais fracos sofrem as consequências.

Finalmente: isto é o suicídio político de Hollande e de muitos políticos europeus. A imagem que passa é que são todos iguais e que são todos muito maus.

 

 

ELEIÇÕES NOS EUA – QUEM VENCE?

 

Três apontamentos:

Primeiro: Hillary Clinton vai vencer. Mas vê-se que com outro adversário republicano perderia, sem dó nem piedade. E porquê? Porque cometeu erros imperdoáveis; Porque encarna, aos olhos dos americanos, muitos dos vícios maiores de que padece a política americana; Porque não tem a empatia que tinha Obama. Parece uma candidata muito artificial e pouco genuína.

 
Segundo: E porquê o fenómeno Trump?

Primeiro: porque foi subestimado por Republicanos e Democratas. No início deste processo, os Republicanos desvalorizaram-no (acharam que era um epifenómeno). E os Democratas até o estimularam para tentarem dividir os Republicanos (ele até tinha relações de amizade com o casal Clinton!). Uns e outros ajudaram a construir o Monstro.

Segundo: porque é um produto do populismo. Do populismo que existe na Europa e nos EUA. As pessoas estão revoltadas com a política tradicional e agarram-se a um qualquer referencial de mudança.


Terceiro: O day after – A grande questão é o que vai suceder a seguir a terça-feira.

Se a vitória de Clinton for forte e clara, entramos num período de normalidade. A nova Presidente sairá fortemente legitimada.

Se a vitória for curta, vamos ter provavelmente um problema sério com Trump. Ele vai pedir recontagens. Forçar impugnação. Criar um ruido que só prejudica a imagem dos EUA.

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