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Opinião
29 de Dezembro de 2020 às 19:00

O paradoxo da União

A paralisação das sociedades por efeito de uma crise sanitária que se desenvolve por contágio não tem resolução enquanto a peste não desaparecer. O congelamento das economias por efeito dos confinamentos que encerram empresas e impedem o funcionamento dos mercados não permite retomar a normalidade das relações económicas.

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A FRASE...

 

"Ao fim destes anos todos de apoio maciço de fundos estruturais, Portugal ainda é um país atrasado."

Elisa Ferreira, Lusa, 14 de Dezembro de 2020.

 

A ANÁLISE...

 

A Europa encontra-se confrontada com uma crise múltipla, que resulta da convergência de diversos factores e qualquer um deles, mesmo se isolado, teria potência suficiente para provocar uma crise de grande intensidade. A convergência destes factores num curto intervalo de tempo anuncia uma crise extrema, que tem a potencialidade de provocar uma descontinuidade que vai separar o passado do futuro.

 

A paralisação das sociedades por efeito de uma crise sanitária que se desenvolve por contágio não tem resolução enquanto a peste não desaparecer. O congelamento das economias por efeito dos confinamentos que encerram empresas e impedem o funcionamento dos mercados não permite retomar a normalidade das relações económicas. A impossibilidade de aplicação das métricas que estabelecem as condições de equilíbrio nos orçamentos (porque aumenta a despesa e diminui a receita) e nas empresas (porque persistem os custos, mas não há receitas) implica o agravamento da crise sem regeneração espontânea ou induzida pelo poder político. O crescimento do endividamento do Estado e transformação do capital das empresas em dívida bancária anulam as soberanias dos Estados e impedem o investimento ou a execução de estratégias de crescimento e modernização. E todos estes factores de crise estão activos na mesma época em que o padrão de ordem mundial, com as suas redes de alianças construídas depois de duas guerras mundiais e de uma Guerra Fria, está a ser destruído, por iniciativa dos Estados Unidos, com a rejeição do multilateralismo e com a expansão das correntes do nacional-populismo isolacionista.

 

Este contexto de crise múltipla seria a melhor justificação empírica para a organização de uma resposta conjunta, de uma estratégia estruturada em função de recursos comuns, mesmo que isso implique a subordinação voluntária ao que for decido pelas instituições comuns, que são as únicas que podem reunir esses recursos. O paradoxo é que, em nome da soberania que foi possível no passado, o nacional-populismo se condene a ficar sem recursos para passar para lá da descontinuidade e chegar ao futuro.  

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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