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Opinião
14 de Junho de 2021 às 19:50

O inconsciente nas comemorações

A duração não é um critério relevante para comparar sistemas políticos, é o resultado de circunstâncias e de factores que são independentes das características de cada sistema político.

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A FRASE...

 

"Eles estão a fazer propaganda política, mas não assumem que seja isto que estão a fazer."

José Pacheco Pereira, Público, 12 de Junho de 2021

 

A ANÁLISE...

 

Sabe-se da psicologia que o inconsciente fala. Não discursa, nem escreve, mas fala através dos sintomas e dos actos falhados, aquilo que escapa à censura do consciente e dos interesses em que se juntam os donos da verdade.

 

Não parece uma boa ideia organizar as comemorações dos cinquenta anos do 25 de Abril estabelecendo como ponto de início a data em que a democracia pluripartidária atinge a mesma duração que o autoritarismo de partido único que a antecedeu. A duração não é um critério relevante para comparar sistemas políticos, é o resultado de circunstâncias e de factores que são independentes das características de cada sistema político. Também não parece uma boa ideia comparar estes dois períodos e estes dois sistemas políticos em função dos resultados obtidos na convergência com a Europa desenvolvida ou em termos de taxas de crescimento: os factores de crescimento e os campos de possibilidades para as estratégias das empresas e das economias nacionais são muito diferentes nestas duas épocas. E nunca será uma boa ideia subordinar a organização das comemorações a um comissário político único que tenha uma leitura própria da evolução ocorrida no período que está a ser comemorado, porque o risco de distorção não poderá ser controlado.

 

A comemoração de um sistema de democracia pluralista é a reflexão sobre o que foi o seu funcionamento, com as diversas maiorias que se formaram e as diversas fases de problemáticas políticas que se foram sucedendo. As comparações que são relevantes são as que se fazem entre o que era possível e o que foi concretizado, tendo em conta as oportunidades que foram abertas, o volume de recursos que estiveram disponíveis e o volume de dívida que foi contraído. E as comparações que são decisivas para que se possa justificar a comemoração são as que se fazem com as outras democracias pluralistas contemporâneas que operaram no mesmo quadro de condicionalismos.

 

Se não for para esclarecer estas questões, as comemorações serão um pretexto para esconder a realidade e o inconsciente fará aparecer o óbvio ululante da ilusão e da dívida, depois de denunciar o que na organização das comemorações foi pensado e decidido para que não se visse o real.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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