A FRASE...

"Uma esquerda que não muda é de direita, ironiza Matteo Renzi"

Jorge Almeida Fernandes, "Vidas paralelas: Matteo Renzi e Manuel Valls", Público, 6 de Abril de 2014.

A ANÁLISE...

Também se pode considerar que uma posição de direita que, perante a força dos factos e a evidência de desequilíbrios insustentáveis, inicie um percurso de reformas transformadoras acabará por se encontrar, para surpresa de todos, numa posição de esquerda. Não é uma evolução inédita. No período de instabilidade política da década de 1930 na política europeia, o referencial de localização das posições políticas tinha a forma de uma ferradura, ou era mesmo circular, com a aproximação ou o encontro dos extremos.

Esta evolução não depende da deficiência de qualidade dos dirigentes políticos. Estas mudanças paradoxais decorrem da evolução da realidade: a mudança dos padrões sociais (com assimetrias entre gerações), a mudança das redes empresariais (quando a formação de cadeias de valor gera configurações sectoriais que já não estão contidas nas economias nacionais), a mudança dos espaços estratégicos (quando se passa das protecções dos Estados nacionais, financiados pelo seu poder extractivo, para os espaços globais da circulação dos fluxos de capitais, sem centro extractivo).

Direita e esquerda referenciam-se mutuamente, formando bandas de Moebius onde essa relação se pode reproduzir por um tempo infinito. Mas quando alguém cai da banda, tem de começar de novo, sem memória e sem mapa.

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

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