Opinião
Ironia deliciosa
Amiúde, a História presenteia-nos com ironias deliciosas… no sentido literal, no caso vertente. O açúcar é um tema fascinante do ponto de vista antropológico, histórico e económico.
A FRASE...
"O chanceler do Reino Unido disse que a taxa sobre os refrigerantes será introduzida (...)
em duas bandas, dependendo da quantidade de açúcar que existe em cada bebida."
Bloomberg, 16 de março de 2016
A ANÁLISE...
Nesta última vertente, a produção em massa do ouro branco, como muitas vezes é designado, foi responsável pelo aprimoramento do sistema esclavagista na América do Sul e nas Caraíbas às mãos dos impérios coloniais, como descreve Sidney Mintz no seu original "Sweetness and Power: The Place of Sugar in Modern History". Mas a ironia na decisão de "Downing Street" de introduzir uma taxa sobre o açúcar reside no facto de, como explica Mintz, a industrialização da produção do açúcar nas Caraíbas britânicas ter tido como um dos principais propósitos reforçar, de forma económica, a dieta dos proletários das fábricas da Inglaterra no tempo da revolução industrial, uma vez que o conteúdo calórico do açúcar é muito superior ao do trigo, por exemplo.
Uma vez que a aplicação deste imposto inédito foi justificada como pretendendo melhorar os hábitos alimentares do povo, parece que o Governo de Sua Majestade pretende desfazer, agora, a dependência que tão útil foi há uns séculos. Na realidade, contudo, mais do que uma medida de saúde pública, esta decisão provavelmente corresponde a mais um capítulo no incessante processo de extensão dos tentáculos da máquina fiscal. É que o açúcar, tal como o tabaco, tem uma característica muito conveniente para os publicanos e que consiste na insensibilidade da procura ao aumento do preço. Vamos ver quanto tempo demora a alastrar-se, a outros países, este tão eficiente imposto... na ótica da receita fiscal, claro está.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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