Opinião
Reformas estruturais
Se o Estado permanecer mais como obstáculo do que serviço aos cidadãos e impulso à economia e o capital empregue nas empresas se desvanecer como muito do dinheiro que receberam nas últimas décadas, se tudo parecer mudar para ficar na mesma, então não haverá nova oportunidade.
A FRASE...
"A expressão reformas estruturais arrepia-me. Qualquer cidadão normal fica logo alérgico."
António Costa, Rádio Renascença, 4 de Abril de 2017
A ANÁLISE...
O país precisa de reformas. O que para muitos parece evidente, dada o mau desempenho absoluto e relativo das últimas duas décadas, é visto como algo a evitar ou, na melhor das hipóteses, uma contrapartida oferecida a custo pelos apoios dos nossos parceiros europeus. A afirmação do primeiro-ministro à Lusa de que "a bazuca vai servir para implantar grandes reformas estruturais" poderá inserir-se nesta segunda categoria ao contrastar com declarações relativamente recentes da mesma pessoa. Acontece que, ao contrário do que por vezes se faz crer, as reformas não são apanágio de uma determinada visão ideológica, mas antes movimentos necessários quando o que temos hoje não mais se adequa a um mundo em constante mudança.
A história da economia portuguesa mostra-nos, aliás, que os períodos de maior crescimento estiveram sempre ligados à abertura da economia e a modificações estruturais em função de compromissos externos assumidos. Foi assim no final dos anos 60, após a entrada na EFTA em 1960 e a gradual eliminação dos condicionalismos corporativistas, ou entre 1986 e 1992 quando a entrada na Comunidade Económica Europeia obrigou o país a reformas profundas em vários sectores. Seria muito importante que se pudesse juntar os próximos anos como um terceiro período de reformas e crescimento, mais uma vez ligado a uma opção externa (ainda que desta vez não fosse nossa, mas do colectivo da União Europeia por imposição de alguns contribuintes líquidos).
Se tratarmos as reformas que são necessárias no Estado e na economia com uma mera contrapartida e não como uma necessidade que permita ter uma administração mais forte, célere e ágil, reduzindo custos de contexto e estrangulamentos vários, os 6 mil milhões anuais a receber nos próximos anos terão um efeito semelhante aos milhares de milhões recebidos nas últimas décadas. Se o Estado permanecer mais como obstáculo do que serviço aos cidadãos e impulso à economia e o capital empregue nas empresas se desvanecer como muito do dinheiro que receberam nas últimas décadas, se tudo parecer mudar para ficar na mesma, então não haverá nova oportunidade. Sem verdadeiras reformas, por muito dinheiro que agora chegue, após a euforia seguir-se-á a indigência. Por isso só posso aceitar que António Costa esteja mesmo a falar a sério desta vez.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
maovisivel@gmail.com
"A expressão reformas estruturais arrepia-me. Qualquer cidadão normal fica logo alérgico."
A ANÁLISE...
O país precisa de reformas. O que para muitos parece evidente, dada o mau desempenho absoluto e relativo das últimas duas décadas, é visto como algo a evitar ou, na melhor das hipóteses, uma contrapartida oferecida a custo pelos apoios dos nossos parceiros europeus. A afirmação do primeiro-ministro à Lusa de que "a bazuca vai servir para implantar grandes reformas estruturais" poderá inserir-se nesta segunda categoria ao contrastar com declarações relativamente recentes da mesma pessoa. Acontece que, ao contrário do que por vezes se faz crer, as reformas não são apanágio de uma determinada visão ideológica, mas antes movimentos necessários quando o que temos hoje não mais se adequa a um mundo em constante mudança.
A história da economia portuguesa mostra-nos, aliás, que os períodos de maior crescimento estiveram sempre ligados à abertura da economia e a modificações estruturais em função de compromissos externos assumidos. Foi assim no final dos anos 60, após a entrada na EFTA em 1960 e a gradual eliminação dos condicionalismos corporativistas, ou entre 1986 e 1992 quando a entrada na Comunidade Económica Europeia obrigou o país a reformas profundas em vários sectores. Seria muito importante que se pudesse juntar os próximos anos como um terceiro período de reformas e crescimento, mais uma vez ligado a uma opção externa (ainda que desta vez não fosse nossa, mas do colectivo da União Europeia por imposição de alguns contribuintes líquidos).
Se tratarmos as reformas que são necessárias no Estado e na economia com uma mera contrapartida e não como uma necessidade que permita ter uma administração mais forte, célere e ágil, reduzindo custos de contexto e estrangulamentos vários, os 6 mil milhões anuais a receber nos próximos anos terão um efeito semelhante aos milhares de milhões recebidos nas últimas décadas. Se o Estado permanecer mais como obstáculo do que serviço aos cidadãos e impulso à economia e o capital empregue nas empresas se desvanecer como muito do dinheiro que receberam nas últimas décadas, se tudo parecer mudar para ficar na mesma, então não haverá nova oportunidade. Sem verdadeiras reformas, por muito dinheiro que agora chegue, após a euforia seguir-se-á a indigência. Por isso só posso aceitar que António Costa esteja mesmo a falar a sério desta vez.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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