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27 de Julho de 2020 às 19:19

Parábola da comunidade

Não comungando da solidariedade da partilha, os dois líderes assim o fizeram. O mais gravemente atingido implorou que o auxílio angariado fosse uma dádiva distribuída pelos dois, sem que qualquer um assumisse a responsabilidade pelo reembolso.

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A FRASE...

 

"Histórico, historique, historisch, historic, storico, historyczny, istorinis, ιστορικ?ς." 

 

Rita Siza, Público, 21 de Junho de 2020 

 

A ANÁLISE...

 

Naquele tempo, na aldeia habitavam duas famílias, vivendo do trabalho da terra. Num ano de intempéries uma delas viu a sua exploração devastada e foi lançada na pobreza e na mais completa penúria. A outra, porque os terrenos se encontrassem na encosta mais protegida, ou pelo cuidado que ano após ano emprestou a proteger as suas propriedades, sofreu perdas não tão gravosas.

 

Sem tempo para aguardar pelas novas colheitas e sem alimentos para atravessar o inverno, o patriarca da família na pobreza reuniu o conselho da aldeia e expôs a situação. Pediu como ajuda, os mantimentos suficientes à sobrevivência, ao que teve como resposta que o melhor seria mesmo todos, em conjunto, pedirem um empréstimo na aldeia vizinha, comprometendo-se a pagar mais tarde.

 

Não comungando da solidariedade da partilha, os dois líderes assim o fizeram. O mais gravemente atingido implorou que o auxílio angariado fosse uma dádiva distribuída pelos dois, sem que qualquer um assumisse a responsabilidade pelo reembolso.

 

Não havendo ninguém na aldeia vizinha que fosse com eles solidário, como já havia ocorrido no passado com os seus pais e avós, em que perante situação semelhante lhes tinham vindo em socorro oferecendo o sustento, houve quem propusesse que, todos os anos, os dois solidariamente contribuíssem até extinguir a dívida.

 

O chefe da família mais abastada ripostou: não julgava justo! Além do mais, parecia-lhe arriscado. Via com dificuldades que a família na penúria se conseguisse recompor. No final, acabaria sozinho a suportar a responsabilidade.

 

Vergado aos argumentos e à necessidade, o primeiro cedeu. Concordou, então, que ele se comprometeria a pagar de volta parte do empréstimo e, para o resto, oferecia um rebate ao seu bom amigo e vizinho: aceitaria pagar mais, um sinal de boa fé!

 

Apesar de desconfiado, o segundo aceitou e, pelo sim pelo não, ele próprio emprestou parte do que tinha, a juros. O resto foram pedir fora, à aldeia vizinha. No futuro logo se veria. Seus filhos, mais ajuizados, haveriam de resolver o problema. Para já, a boa convivência estava assegurada. E, ambos regressaram a suas casas, com a boa nova de que estavam mais juntos do que nunca!...

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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