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Álvaro Nascimento - Economista 10 de Novembro de 2020 às 09:20

Desta vez é diferente!

Desta vez os bancos deverão enfrentar inúmeros pequenos problemas de risco de crédito, dado o uso das moratórias por quem (particulares e empresas) mais delas necessita.

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A FRASE...

 

"Novas linhas de crédito e subsídios a fundo perdido para apoiar as empresas mais castigadas pela pandemia, no valor total de 1.550 milhões de euros."

Pedro Siza Vieira, Público, 5 de Novembro de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Se antes o sucesso do peso da dívida pública no PIB se ficou a dever mais ao crescimento da economia do que a uma redução do seu valor absoluto, também hoje o agravamento relativo das responsabilidades do Estado decorre mais da contração do produto que da vaga despesista do Estado. No essencial das políticas públicas mantiveram-se inalteradas, excetuando o assistencialismo da Segurança Social, materializado na utilização dos fundos de reserva para acudir à preservação dos negócios e à manutenção do emprego.

 

Uma dose muito significativa da resposta de emergência ao estado da economia veio do setor privado, por via do aligeiramento das exigências sobre os créditos, muito especialmente, do setor bancário. A julgar pelas declarações dos banqueiros, estima-se que 20% da carteira de empréstimos (a empresas e particulares) esteja abrangida pelo regime de moratórias, nas quais pontuam - seria injusto esquecer - as garantias de Estado, através da ainda instituição financeira de desenvolvimento (IFD).

 

Conjugando tudo isto, o impacto ainda moderado sobre o nível de vida - apesar da quebra drástica do PIB - deve muito à preservação do rendimento disponível das famílias, conseguido à custa do aumento das responsabilidades de crédito, explícita (bancos e fornecedores) e implicitamente (Segurança Social e garantias). Contudo, progressivamente reconstituem-se níveis de dívida excessivos, que ameaçam ser problemáticos, como o foram na crise de 2008.

 

Desta vez os bancos deverão enfrentar inúmeros pequenos problemas de risco de crédito, dado o uso das moratórias por quem (particulares e empresas) mais delas necessita. Segundo, a dívida implícita que o Estado assume - por via das garantias e Segurança Social - baterá à porta tão logo se concretize o incumprimento e mais tarde a economia em sair do estado de letargia. A pergunta crítica do momento é saber a quem vai ser pedido o cheque!

 

Desta vez é diferente. Argumenta-se. E talvez seja verdade. Não tenho a certeza de que seja no melhor sentido. Quanto mais tardarem os estímulos certos à economia, mais os riscos se agigantam.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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