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Álvaro Nascimento - Economista 07 de Maio de 2018 às 20:20

Areia na engrenagem

Seria bom que aprendêssemos com a história. Emerge aos nossos olhos uma nova organização da produção e da sociedade. A configuração final?... Não sei, está longe de ser encontrada!

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A FRASE...

 

"Cofundador do WhatsApp anuncia a saída da empresa. Há rumores de incompatibilidade com políticas do Facebook."

 

Diogo Lopes, Observador, 1 de Maio de 2018

 

A ANÁLISE...

 

Pronto, aconteceu! Começa a ser lugar comum defender a necessidade de regular as plataformas de "social media", visando proteger a privacidade e controlar o uso abusivo da informação pessoal. Contudo, enganam-se os que acham que isto é simplesmente um fenómeno de regulação económica. A entendê-lo assim, acabaremos num quadro legal complexo, cada vez mais difícil de gerir e cuja eficácia está ainda por comprovar. Não podemos cair na ilusão de que é possível conceber um mundo sem riscos - cuja definição, só por si, dá pano para mangas - com um Estado paternalista que, armado do argumento da defesa dos cidadãos, impõe uma opção única, tantas vezes formatada por uma tecnocracia dominante.

 

Assistimos a um fenómeno civilizacional que - salvaguardadas as devidas proporções - tem paralelo nas grandes vagas da história. Foi assim com o feudalismo e, também, com o capitalismo. A concentração de factores de produção essenciais - terra e capital, respectivamente - num número restrito de agentes económicos configurou, de inicio, uma situação de poder, usada em benefício próprio. O que se sucedeu depois é conhecido: redefiniram-se os direitos de propriedade e redesenharam-se as instituições que regulam a sociedade, espelhando a profunda alteração dos processos de produção e o novo padrão de relações sociais. Tudo por força da tecnologia!

 

Hoje, é o monopólio das plataformas, capazes de acumular e controlar conjuntos vastos de informação. Afirmam-se indispensáveis, como aconteceu com a terra, na idade média, ou o capital, na revolução industrial. Para já, parecem usar o poder de que dispõem em benefício próprio. Esquecem-se de que assim acabam com os mercados e, inevitavelmente, abrem espaço à contestação social. O que se observa hoje no Facebook é apenas um rastilho.

 

Seria bom que aprendêssemos com a história. Emerge aos nossos olhos uma nova organização da produção e da sociedade. A configuração final?... Não sei, está longe de ser encontrada! Mas, seguramente, não estão apenas as empresas ameaçadas. A política e - por conseguinte, os Estados - estão, também, no turbilhão de uma nova ordem. Respostas regulatórias, são apenas areia na engrenagem!

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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