Opinião
Os engenheiros no Estado
A aversão que os políticos actuais, que nos governam, têm à matemática, à física e à química é uma catástrofe nacional.
Assistimos, recentemente, a situações de enorme gravidade, com mortes de cidadãos nacionais, que têm por base, problemas de engenharia.
Situações que, como referi já em artigos anteriores, envergonham a engenharia portuguesa e que nós, engenheiros, provenientes de escolas portuguesas de engenharia de que nos orgulhamos e membros da Ordem dos Engenheiros temos obrigação de denunciar.
A primeira situação refere-se ao SIRESP - Sistema de Comunicações de Emergência, que esteve na base da desorientação dos bombeiros e da GNR e que conduziu à morte, em Junho e Outubro, de dezenas de portugueses.
Um sistema de emergência, num país que possui dos melhores engenheiros de telecomunicações do mundo, desenhado, aprovado, adquirido e gerido sem as redundâncias adequadas, em particular, via satélite, e sem os dispositivos móveis suficientes e adequados que lhe permitisse funcionar eficientemente na situação para a qual foi criado - de emergência.
E nem o desastre de Junho alertou os responsáveis para as deficiências do sistema, que voltaram a ocorrer em Outubro, estando na base de mais algumas dezenas de mortos.
A segunda situação refere-se às mortes por legionela ocorridas por deficiente projecto e manutenção de uma torre de refrigeração a água, num hospital de Lisboa.
Uma torre de refrigeração a água que qualquer aluno de engenharia aprende em termodinâmica e transmissão de calor, como projectar e quais as variáveis a controlar no âmbito da manutenção.
Na base de todos estes casos lamentáveis está a completa degradação da capacidade de engenharia do Estado português.
Esta degradação ocorre em todas as áreas de intervenção do Estado e é visível na deterioração de edifícios e instalações, resultantes de maus projectos, más construções e, sobretudo, más manutenções, assim como na prestação de serviços que exigem conhecimentos técnicos ou tecnológicos.
Este nosso Estado, gordo, pesado, caro e ineficiente, não tem engenheiros, provenientes das nossas universidades de referência, que garantam o funcionamento e a actualização das várias tecnologias disponíveis ao serviço dos cidadãos.
Tem, em compensação, um excesso de quadros, de áreas não técnicas, provenientes de instituições universitárias de baixa qualidade, para quem a tecnologia é uma "black box".
Os engenheiros portugueses não têm sido chamados a dirigir os diferentes serviços de cariz técnico do Estado - indústria, energia, obras públicas, habitação, transportes, telecomunicações,…
Não estão, também, a assessorar tecnicamente os serviços que convivem com novas tecnologias - saúde, segurança, justiça,…
Atrevo-me, assim, a dizer que, se não forem tomadas medidas correctivas rapidamente, outras catástrofes poderão vir a ocorrer nas áreas que mencionei.
Termino, como comecei:
A aversão que os políticos actuais, que nos governam, têm à matemática, à física e à química explica, certamente, a situação que acabo de descrever.
Gestor de Empresas