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O partido antipatriota

Tal como sucede nos corredores da Europa, onde cada declaração baralha a anterior sem nunca parar a intolerante pressão, também no PSD já ouvimos de tudo, mas a conclusão é evidente. O PSD ficaria radiante se Portugal fosse objeto de sanções.

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Custa dizê-lo. Porque se trata de um partido fundador da nossa democracia. Porque tem pessoas com bastante nível, entre elas alguns dos melhores autarcas. E também, num toque pessoal, porque lá tenho bons amigos, com quem discordo muitas vezes, mas respeito sempre. Mas, o PSD de Passos Coelho tornou-se num partido antipatriota.

 

Como se já não bastasse a subserviência ao "diktat" alemão, expressa nas posições políticas do anterior governo e na visão económica, confirmadas de forma bastante gráfica naquela foto em que Maria Luís Albuquerque aparece embevecida ao lado de Wolfgang Schäuble, temos agora a saga das sanções.

 

Tal como sucede nos corredores da Europa, onde cada declaração baralha a anterior sem nunca parar a intolerante pressão, também no PSD já ouvimos de tudo, mas a conclusão é evidente. O PSD ficaria radiante se Portugal fosse objeto de sanções. Está na cara. Seria mesmo visto como uma grande vitória do partido.

 

É lamentável, já que uma sanção, mesmo simbólica, seria muito negativa para Portugal. Que o PSD aposte abertamente numa tal eventualidade é bem revelador da derrapagem deste partido para uma direita contranatura, ou seja, que põe os interesses partidários conjunturais acima da defesa do seu próprio país. Até o CDS já se pôs fora desta carruagem.

 

O argumento que circula por aí, para justificar uma tal aberração, não tem ponta por onde se pegue. Diz o PSD que se o governo de António Costa de 2016 tivesse mantido a "sua" austeridade a Europa não sancionaria o país pelo défice de 2015. A própria Maria Luís Albuquerque, que a conselho de Marques Mendes faria melhor em estar calada, para sempre acrescentaria eu, veio dizer que se fosse ainda ministra não haveria sanções. Ou seja, o seu sorriso bastaria para Schäuble. Ora esta ideia é inaceitável e nenhum democrata, nem nenhum político europeu sério, a pode subscrever. Primeiro: significa que a sanção da prestação de um governo num ano é avaliada segundo as estimativas orçamentais de outro governo no ano seguinte. É absurdo. Nenhum tratado ou regra o diz nem pode dizer. Segundo: o défice excessivo foi responsabilidade do governo de Passos Coelho, mas sobretudo da troika que impôs as políticas de austeridade. Portanto, as sanções deviam também visar quem determinou tais políticas falhadas. Terceiro e mais grave: a suceder, pelos motivos invocados por Coelho e Albuquerque, significaria que a apreciação de uma regra tem pouco que ver com factos e tudo com sensibilidades políticas. O que subverte a própria democracia e a razão de existir da União Europeia.

 

Como é habitual na Europa que temos, depois de mais este Shakespeariano "Much Ado About Nothing" provavelmente não haverá sanções. Só reprimendas. Mas o mal está feito. Fica claro que a Europa está cheia de inimigos de Portugal. Alguns querem mesmo ver-nos fora numa lógica mortífera que vai retirando crédito ao projeto europeu e engrossando as fileiras dos eurocéticos. Mas fica também claro que o atual PSD, que em tempos já foi tido como o partido mais português, é agora uma franja antipatriota que aposta na nossa desgraça como forma de afirmar uma razão partidária que só existe na cabeça de uns poucos.

 

O PSD devia olhar para os televisores por estes dias. Perceber o fervor patriótico de milhões dos seus compatriotas, que à volta do futebol manifestam o desejo de que as coisas nos corram bem. Nenhum povo gosta de derrotas. Para um partido, para a política, apostar nelas é cavar a sua própria sepultura.  

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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