Opinião
Defesa da Europa
Faz imenso sentido estreitar ainda mais as relações comerciais e financeiras entre a Europa e os Estados Unidos como se está a tentar de novo fazer. E faria também sentido que os dirigentes europeus convencessem os seus compatriotas de que, com ou sem os americanos, é preciso gastar muito mais em defesa.
De vez em quando fala-se em Defesa da Europa. Aconteceu agora com a intervenção francesa no Mali a pedido do governo de Bamako, decidida por François Hollande que foi bem-vinda por Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos, Rússia e China (o que nos tempos que vão correndo é de se lhe tirar o chapéu). Esta solidariedade deve garantir que nada seja feito pela chamada comunidade internacional para prejudicar o esforço francês. O que não garante é ajuda militar nem sequer dos outros membros da União Europeia. Os Estados Unidos dão algum apoio logístico. Reino Unido e Alemanha mandaram uns aviões de transporte, outros darão pequenas contribuições, e os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 resolveram que a União ajude a treinar as forças armadas do Mali (estas estão já em combate ao lado dos franceses contra fanáticos islamistas que, em aliança táctica com patriotas tuaregues, tomaram conta do norte do país e, sem a decisão de Paris, já teriam tomado conta do país todo). Preparam-se intervenções militares africanas, nacionais e multinacional, mas da União Europeia nada. O ecologista franco-alemão Cohn Bendit indigna-se com isso (e bem) no Parlamento Europeu, mas a timidez europeia está longe de ser extraordinária e era inteiramente previsível.
Aqueles que por iniciativa francesa inventaram e desenvolveram até hoje a "Europa da Defesa" independente da OTAN têm-no feito de tal maneira que das duas uma: ou ignoram as opiniões públicas, os orçamentos de defesa e o estado de preparação das forças militares dos seus países ou estão convencidos de que ninguém em seu juízo pedirá alguma vez à chamada Europa da Defesa para defender a Europa. Aquela tem servido para apagar fogos pequenos em casas de terceiros, verificar o cumprimento de embargos, ajudar a prevenir conflitos e promover missões de polícia "in partibus infidelium". Tudo coisas da maior importância -, mas que não têm directamente que ver com a salvação da nossa pele. Para quando os europeus tiverem de se defender militarmente só existe um instrumento multinacional fiável a que podem recorrer – a Organização do Tratado do Atlântico Norte, vulgarmente conhecida por NATO.
Por tudo isto faz imenso sentido estreitar ainda mais as relações comerciais e financeiras entre a Europa e os Estados Unidos como se está a tentar de novo fazer. E faria também sentido que os dirigentes europeus convencessem os seus compatriotas de que, com ou sem os americanos, é preciso gastar muito mais em defesa.
Em "Emílio e os detectives" velhos alemães achavam que no tempo deles o céu era mais azul e as cabeças dos bois eram maiores. Agora, até entre gente nova está na moda dizer que já não há grandes chefes políticos europeus. Parvoíces. A ocasião faz o ladrão. François Hollande mostrou de repente altura e envergadura insuspeitadas. E quem lamente ser por causa de uma guerra, pense duas coisas: hoje em dia só na Europa há quem julgue que a paz é o estado natural do homem – e o fundamentalismo islâmico dá péssima vizinhança.
Embaixador