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11 de Setembro de 2013 às 00:01

Ameaça de recurso ao uso da força

Escrevo na terça-feira e, como os autores da telenovela "Os desastres da Síria" insistem em acrescentar-lhe cada vez mais episódios inesperados, quarta-feira, depois do presidente dos Estados Unidos da América ter falado "urbi et orbi" e sabe Deus que comemorações macabras do dia de hoje tiverem passado por cabeças jiadistas, talvez haja factos novos. Se os houver ficam para a semana, se deitarem até lá.

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Leitora diz-me que "nestas coisas da arte da guerra, falta muito de Sun Tzu aos novos líderes, por isso a instabilidade de avanços e recuos". Talvez lhes falte (e lhes falte também Tucídides). Ou talvez não, pelo menos a alguns deles. Obama deve ser um dos presidentes americanos modernos mais "bem preparados", como diziam oficiais do MFA de camaradas seus com leituras filosóficas, e Putin foi bom aluno nos cursos do KGB em que a arte da guerra figurou com certeza. Por seu lado, Assad era oftalmologista, não se lhe conhece estudo de humanidades; morte de irmão fê-lo tomar conta da empresa familiar e nessa escola aprendeu (mal) a sobreviver em guerra e paz. O que hoje falta não vai só dos livros que não se leram. Vai também de já não se cultivar a coragem – a única virtude, dizia Napoleão, que não se pode fingir.


O desenrolar penoso e lento da crise síria desde as suas aparências iniciais de Primavera Árabe, depressa provocando opressão ainda maior e envolvimento de Irão (e Hezbollah) apoiando o regime alauíta – isto é shita – e da Arábia Saudita, outras monarquias sunitas do Golfo e Alqueda apoiando os rebeldes; dos Estados Unidos e aliados europeus procurando ajudá-los também; da Rússia dando apoio militar e, no Conselho de Segurança da ONU, diplomático, a Assad. Até ao último ataque químico, sem ninguém de fora se querer molhar muito. Vamos em mais de 100.000 mortos e 1 milhão de refugiados.

Agora a Rússia está a querer armar-se em fazedora de paz e aí convém pôr os pontos nos is. A proposta de submeter o arsenal químico sírio ao controle das Nações Unidas para depois o destruir fora feita há um ano à margem de reunião do G20 no México por Obama e Putin, que a recusara. Há dias, em S. Petersburgo, Obama tê-la-ia repetido, mais uma vez em vão. Já com o cronómetro em contagem decrescente para um ataque aéreo americano à Síria, John Kerry respondendo a um jornalista, aventou a hipótese. Aí os russos agarraram logo nela, mandaram os sírios aceitá-la e Obama disse que poderia ser saída possível. (Ninguém quer a guerra; a Rússia sabe que não estaria à altura de qualquer confronto militar). Americanos e franceses olham para tudo isto com prudência devido ao palmarés de mentiras sírias e russas e aos perigos do terreno. Mas julgo que por aí se irá.

Há uma lição evidente a tirar: sírios e russos só cederam perante ameaça de recurso ao uso da força pelos americanos. Era bom que tal entrasse em cabeças que tenham de discutir quer os orçamentos militares europeus quer o papel da OTAN depois da Guerra Fria.

* Embaixador

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