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02 de Janeiro de 2018 às 22:09

Paradoxo de Simpson e conclusões erradas

Corria o ano de 1983 quando a administração Reagan tornou público um alarmante estudo sobre o sistema educativo norte-americano em que se mostrava que as médias dos exames dos diversos níveis do primário ao secundário tinham descido quase 50% de 1963 para o início dos anos 80.

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O relatório concluía que a culpa era das políticas liberais e dos professores e desencadeou uma enorme onda de novas políticas com vista a neutralizar os sindicatos, a introduzir sistemas de avaliação dos docentes e a permitir o despedimento sumário e automático dos professores com notas mais baixas nas avaliações.

 

Anos mais tarde, ao efetuar o balanço desses anos, verificou-se que os resultados do estudo de 1983 tinham sido mal interpretados, tendo escapado aos seus autores um fenómeno bem conhecido dos estatísticos: o Paradoxo de Simpson, assim chamado por ter sido o britânico Edward H. Simpson, em colaboração com o seu compatriota Udny Yule, que o identificou pela primeira vez.

 

O Paradoxo de Simpson refere-se a situações nas quais quando analisamos vários grupos separadamente todos têm uma evolução clara num determinado sentido, mas em que, quando analisados agregadamente, essa evolução desaparece ou surge com outra direção.

 

Foi o que aconteceu no célebre relatório "Nation at Risk" sobre o ensino nos Estados Unidos. Todos os grupos sociais melhoraram o desempenho nos exames, mas dada a maior afluência de alunos das classes desfavorecidas que, fruto de políticas inclusivas começaram a estudar mais anos, a média global descia vertiginosamente.

 

Naturalmente, as medidas tomadas baseadas numa conclusão errada não surtiram qualquer efeito sobre o desempenho dos alunos, embora tenham prejudicado fortemente os professores.

 

Pelo contrário, os resultados dos EUA em termos do PISA de 2015 em ciências ficaram abaixo da média da OCDE e mesmo abaixo de Portugal. Resultados que mostram a inutilidade e a perniciosidade de medidas tomadas com base em conclusões erradas. Um exemplo a não seguir.

 

Em Portugal, muitas conclusões completamente erradas com base em médias não testadas para o Paradoxo de Simpson também levaram a políticas contraproducentes e a gastos inúteis de esforço e dinheiro, quer no domínio da educação e da segurança social quer da saúde, quer ainda no domínio da gestão empresarial.

 

No domínio empresarial, uma das áreas em que o erro devido ao Paradoxo de Simpson mais danos tem causado às empresas é o da avaliação de desempenho. Com uma análise baseada em médias leva a penalizar e a dispensar os melhores trabalhadores e a promover e glorificar quem não merece, o que se traduz numa gestão desastrosa do talento com consequências trágicas no médio e longo prazo.

 

Mas também em domínios como a avaliação de mercados, a estimativa de consumo de produtos, a determinação da penetração geográfica, a análise de risco e tantos outros, conclusões baseadas em médias simples levam a grandes equívocos de análise e a decisões prejudiciais.

 

Hoje estamos na era da informação, os dados existem e estão ao nosso alcance. O que distingue as estratégias vencedoras das outras é a capacidade de se extrair informação correta que permita agir com sabedoria. Erros de análise pagam-se caros.

 

Economista

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