Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Jorge Fonseca de Almeida - Economista 27 de Abril de 2021 às 17:31

Índia, a maior democracia do mundo

Se eu nascesse hoje e tivesse oportunidade de escolher entre nascer na Índia ou na China, não teria dúvidas: não seria na maior democracia do mundo.

  • 3
  • ...

A Índia é a maior democracia do mundo. As suas instituições foram herdadas do colonialismo britânico. Como em Portugal existe um Parlamento eleito e o Presidente é escolhido pelo voto dos cidadãos.

 

A China e a Índia acederam à total independência no final dos anos 40 do século XX, praticamente ao mesmo tempo. A Índia em 1947, libertando-se do asfixiante domínio inglês e a China em outubro de 1949 depois de uma guerra prolongada contra várias potências estrangeiras ocidentais e contra os japoneses. A Índia adotou o regime do anterior colonialista, a China optou por um regime liderado pelo Partido Comunista Chinês, na altura com Mao Tse-tung ao leme. Nesse momento inicial ambos os países eram extremamente pobres embora a Índia fosse ligeiramente mais avançada, uma vez que não fora dilacerada pela guerra.

 

Passados mais de meio século e no meio de uma pandemia mortal que balanço podemos fazer destas escolhas?

 

Num aspeto avançaram a par. A população dos dois países é semelhante em torno dos 1.400 milhões de habitantes. Ambos são colossos demográficos.

 

A China é hoje a maior economia do mundo, lidera diversos mercados, eliminou a pobreza extrema, domina as novas tecnologias, envia missões à Lua, constrói uma rede de infraestruturas de alcance global, a nova Rota da Seda, mantém uma política de independência face a terceiros. Um país altamente industrializado com um setor de serviços moderno. Frente à pandemia agiu com rapidez e conteve a doença no estádio inicial, conseguindo que se não propagasse.

 

A Índia, a maior democracia do mundo, tem um PIB inferior ao do Reino Unido, um país muito mais pequeno, mais de metade da população vive na extrema pobreza (i.e. com menos de 2 Euros por dia), mantém-se um país em que a maioria das pessoas trabalha na agricultura, a esperança média de vida não chega aos 70 anos. Em face do covid o sistema de saúde colapsou, o número de infetados ultrapassou já os 17 milhões de pessoas e o número de mortos os 200 mil (contra cerca de 4 mil na China).

 

Nos últimos dias a Índia, a maior democracia do mundo, começou a enfrentar outro problema: o da fome. Chegam relatos que tendo uma parte considerável da população na economia informal, venda ambulante, pequenos serviços, transportes informais, etc., com o confinamento da classe média, essas pessoas perderam totalmente os seus rendimentos não sendo auxiliadas por nenhum sistema social.

 

Os relatos são aterradores. O jornal inglês The Telegraph de 23 de abril último alerta que se está a formar um desastre de grandes dimensões na maior democracia do mundo: a fome alastra nas cidades. Provavelmente o país terá de ser externamente ajudado com doações de géneros alimentares. Provavelmente pela China e outros países.

 

Quando se comemora o 25 de Abril e a democracia do 25 de Novembro é bom pensar na Índia e na China para perceber que a democracia não é a panaceia universal e que são as escolhas políticas e o trabalho e o esforço dos povos que fazem o sucesso ou o insucesso das nações.

 

A democracia é sem dúvida melhor do que o fascismo mas não é o fim da História, nem solução milagrosa. 

 

Se eu nascesse hoje e tivesse oportunidade de escolher entre nascer na Índia ou na China, não teria dúvidas: não seria na maior democracia do mundo.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio